Criador do perfil Porto Alegre – Personagens, de grande sucesso no Facebook, e autor do livro Porto Alegre de Todos os Tempos: Personagens e Fatos da Cidade (2017), Paulo Palombo Pruss postou em 2013, no seu site, o texto que segue. Se alguém tiver a resposta para a pergunta final, favor, entrar em contato conosco.
Verão de 1979, na Glória, em Porto Alegre, calor. A gurizada ficava nas esquinas conversando até tarde, cada turma tinha a sua esquina, era tranquilo. Na esquina da Rua Marechal Mesquita com a Avenida Sergipe, o papo rolava solto. Muitas bicicletas encostadas nas paredes, era o auge das Caloi e Monark 10, os conhecidos camelos.
Chega na roda Luis Gustavo Birgmann Gonçalves, o Tubarão, com sua bicicleta, dizendo que vai sair com ela pelo Brasil. As gozações foram muitas, ele aumentou: “Brasil não, pelo mundo.” As risadas também aumentaram. “Vai ser agora mesmo, vou em casa, pego algumas coisas e me arranco”. Ele ainda apareceu na esquina, de mochila e com um chapéu pendurado, e se foi.
Ninguém levou muita fé. O fato é que o Tubarão desapareceu. Em março daquele ano, numa revista de moto e bici, saiu uma reportagem com o Tubarão. Ele estava em São Paulo, indo em direção ao Rio de Janeiro e, depois, Belém do Pará.
“Luis Gustavo saiu de Porto Alegre e pretende chegar a Belém do Pará com Brigitte, sua bicicleta de 10 marchas. Ele acha que percorrer 7 mil quilômetros mostra que esse veículo pode percorrer longas distâncias, como qualquer outro, só que devagar”, dizia a matéria.
“Quando criança, meu avó contava a história de um alemão que veio de sua terra natal até o RS de bicicleta, desde então tenho vontade de fazer a mesma coisa. Comprei uma Monark Crescent e, dia 16 de janeiro, parti. Algumas roupas, um cobertor, um saco de dormir, uma chave sextavada e um estojo de remendos para os pneus. Saí de Porto Alegre com 200 cruzeiros no bolso”, registrou o ciclista.
“Pô, o cara conseguiu!” foram os comentários. Outros discordavam: “Falou que ia pelo mundo”. As discussões seguiram.
O tempo passando, a turma mudando, uns se casando, outros se mudando, até que dois anos e meio depois o título numa página de Zero Hora (12 de julho de 1982) afirmava: “Gaúcho saiu de bicicleta de Porto Alegre e já está em Nova Iorque”. Seria o Tubarão? Vamos ler: “Gustavo Bergmann saiu de Porto Alegre de bicicleta, atravessou a América. Em Nova York, está se defendendo como mensageiro, juntado dinheiro para continuar a viagem em volta do mundo, que projeta concluir com o retorno a Porto Alegre daqui a quatro anos”.
O entrevistado revelou: “A viagem não tem sido fácil, no Pantanal, tive que levar a bicicleta nas costas. Na Bolívia e no Peru, não consegui emprego. Na Pan-Americana, a estrada era melhor, e isso alegrou meu coração. No Equador, trabalhei colhendo bananas. Foram meses ótimos, tranquilos e felizes. Na Colômbia, lavei elefantes num circo”.
“Em El Salvador, Gustavo enfrentou problemas; com a revolução, o povo ficava desconfiado. O melhor da América Central foi o Panamá: muitos amigos, tanto que até bicicleta nova ganhou. O México também foi maravilhoso: ‘Eles adoram os brasileiros’”.
Luis foi contando sua aventura dizendo que mais haveria no livro que estava preparando. Estava se aprontando para seguir ao Canadá e Alaska. Tinha ganhado um cachorro para acompanhar, de um chefe índio no México. O objetivo final seria a África do Sul: “Lá, pego um navio para a Terra do Fogo e subo para Porto Alegre. Vou fazer o que eu mais gosto, pedalar livre, fazendo parte da paisagem”.
Faz tempo que não aparece uma reportagem ou notícias do Tubarão. Por onde andará?