O texto a seguir é uma colaboração do nosso leitor Pércio de Moraes Branco, que é geólogo.
No século passado, sempre que se iniciava o ano letivo, estudantes porto-alegrenses de todos os níveis acorriam em massa para comprar material escolar na Cepal, a Cooperativa dos Estudantes de Porto Alegre. Com dois andares repletos de material escolar e de escritório, a cooperativa oferecia aos estudantes praticamente tudo que precisavam.
Localizada na Avenida Desembargador André da Rocha, 216, esquina com a Rua 24 de Maio, no Centro Histórico, a Cepal foi uma iniciativa de três acadêmicos da PUCRS, José Monserrat, José Zamprogna e Pedro José Lahude. Qualquer estudante podia se associar. Pagava apenas uma taxa de inscrição e recebia uma carteira de sócio. Daí em diante, podia fazer todas as compras com um desconto de 20%.
Quem não fosse sócio, também podia comprar, mas sem direito ao desconto. Na prática, não era necessário apresentar a carteira de sócio, bastava informar o número do associado. Fui cliente da Cepal por quatro anos, de 1967 a 1970, quando fiz o curso de Geologia na UFRGS, e lembro-me até hoje do meu número de sócio.
Não sei qual era a natureza jurídica da Cepal antes disso, mas sei que, em 16 de agosto de 1966, ela passou a ser uma empresa, o que permite supor que antes funcionava de fato como uma cooperativa.
Lembro-me bem do dia em que fui comprar um grampeador. Lá, ofereceram dois modelos: um mais barato, que não inspirava confiança, e outro, importado dos Estados Unidos, que parecia bom, mas que era muito mais caro. Na dúvida, decidi comprar o caro (este que aparece em uma das fotos).
O tempo mostraria que eu havia feito a escolha certa. Até hoje, passados mais de 50 anos, o grampeador continua funcionando muito bem. Eu edito, há 33 anos, um pequeno jornal que circula apenas na minha família. Em certa fase, as folhas desse jornal não eram dobradas, e sim grampeadas. Pois só neste jornal o valente grampeador aplicou nada menos do que uns 15 mil grampos!
Não sei por que a Cepal acabou. Ouvi falar que houve desvio de dinheiro, mas nunca soube nada de concreto. Do que me lembro é que, no início da década de 1970, a Cooperativa começou a diversificar sua linha de produtos, passando a vender também alguns eletrodomésticos, como toca-discos (eu comprei um), e acho que também roupas. Essa diversificação coincidiu com o início do fim; não sei se foi a causa dele ou se foi a consequência de uma situação financeira que já não vinha bem.
O prédio onde funcionava a Cepal ainda existe exatamente como era, exceto pela pintura externa. Na época, não havia qualquer letreiro ou placa com o nome da cooperativa, ao contrário de hoje, quando a fachada informa que ali estão sediadas quatro entidades estudantis: a União Metropolitana dos Estudantes Secundários de Porto Alegre (Umespa); a União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas (Uges); a União Estadual dos Estudantes (UEE Livre) e a União Nacional dos Estudantes (UNE).