O Almanaque publica (imagem acima) a reprodução da página 41 da Revista do Globo nº 136, de 16 de maio de 1934. As fotos estão acompanhadas do título “Com os ‘Nazis’ de Porto Alegre” e do texto:
“Estampamos nesta página quatro flagrantes da brilhante comemoração do Dia do Trabalho, levada a efeito no Cine Teatro Ipiranga pela laboriosa colônia alemã desta cidade, com a presença de inúmeros brasileiros.
O senhor Ried, cônsul alemão, pronunciou vibrante oração, após a qual foi cantado o Hino Nacional Brasileiro. Seguiram-se outros discursos, entre os quais o do operário snr. Ausborn, que vemos num instantâneo feliz no alto da página, à direita. Um magnífico coro, dirigido pelo maestro Brueckner, cantou varias canções e hinos.”
Talvez, hoje, possa parecer chocante, na medida em que todos nós sabemos o que ocorreu com o mundo alguns anos depois. O repertório de informações que adquirimos com o passar do tempo é vasto, nos dá uma boa ideia do que aconteceu naquela época mas, não se compara às provações, ao medo, e à experiência dos que viveram o período da Segunda Guerra.
Acredito que, se soubessem, em detalhes, o que estava por vir, talvez, muitas dessas pessoas não tivessem lotado o Cine Teatro Ipiranga. Não poucas vezes, levadas por líderes com suas políticas suicidas, grandes parcelas da humanidade embarcam em aventuras desastrosas. A polarização e o ódio são sempre os primeiros passos rumo ao trágico.
O nazismo, temos certeza agora, foi péssimo, e isso basta. A intolerância e a censura antecederam a queima de livros, que precedeu e estimulou a barbárie. Paladinos, de causas aparentemente justas, podem levar ao caos e, no futuro, restarão os pedidos de desculpa e museus como o do Holocausto.
Como disse outro dia, meu amigo Flávio Pinheiro, superintendente executivo do Instituto Moreira Salles (IMS): “Você pode entender uma porção de posições políticas e ideológicas diferentes, mas não a intransigência. Transigir com a intransigência não é um gesto democrático, é uma fraqueza moral”.
Vendo a foto da plateia lotada no Cine Teatro Ipiranga, só uma coisa me ocorre: talvez, para muitos, ainda haja tempo. Quanto mais dúvidas, e menos certezas tivermos, mais saudável será o resultado. Afinal, “de boas intenções o inferno está cheio”. Prefiro não frequentar.