Recebemos uma simpática mensagem do professor de Astronomia da PUCRS João Batista Siqueira Harres. Ele diz, entre outras coisas, que: “Uma das (poucas) vantagens de se ter mais idade é que acontecimentos do passado passam a ter muito mais sentido e interesse”.
Maior verdade. O professor lembra, a propósito, do aniversário de 50 anos da chegada do homem à Lua. Um fato interessante, diz ele. “Deve ter sido em 1969 ainda, ou 1970. Minha escola levou todos para ver uma pedra da Lua no Auditório Araújo Vianna. Lembro-me bem dela, das longas filas e de muita espera por parte da multidão. Acho que a exposição deve ter sido aberta para toda a população. Não consegui encontrar nenhum registro a respeito na internet. Tu terias alguma informação?”
Eu recordava disso vagamente, mas, ao acionarmos a Letícia Coimbra, do Departamento de Documentação e Informação, fez-se a luz. Ela encontrou, na página 9 da Zero Hora de 11 de abril de 1970, um sábado, uma matéria com o seguinte título: “Pedra lunar amanhã no Araújo Vianna”.
De fato, naquela mesma noite, foi inaugurada oficialmente, com a presença de autoridades, numa promoção conjunta do Serviço de Divulgação e Relações Culturais dos EUA (USIS), do Instituto Cultural Brasileiro Norte Americano (ICBNA) e da Divisão Municipal de Cultura, a exposição de um fragmento de rocha lunar colhido no Mar da Tranquilidade, a 384.400 quilômetros de distância da Terra, no dia 20 de julho de 1969, pelos astronautas da Apollo-11, Neil Armstrong e Buzz Aldrin. Os gaúchos só tiveram até a terça-feira seguinte para ver a pedrinha vinda de tão longe. Na quarta, ela já viajaria para Buenos Aires. A expectativa era de que um público de 200 mil pessoas passasse diante do inusitado mineral, uma pedra ígnea cristalina na cor de chumbo, exposta sob uma redoma no palco do grande auditório da Capital.
Não deu outra. Na edição de segunda-feira, dia 13, o jornal informava que “um fragmento de menos de 20 gramas de peso concentra a atenção da cidade e atrai filas de gente (...)”. Tudo para que cada um daqueles curiosos habitantes desse pedaço do nosso planeta pudesse dizer: “Eu vi!”.
“É por causa das perspectivas sem limite do homem no espaço que todos querem ver a pedra lunar de perto”, afirmou o Cônsul dos Estados Unidos Carly C. Cutter, na noite de abertura da exposição, em Porto Alegre. “A presença da pequena rocha na Terra não é um feito isolado de um país, é uma conquista de toda a humanidade”, concluiu o diplomata.
Apenas como esclarecimento, é bom frisar que a pequena rocha lunar que faz parte do acervo do Museu Dom Diogo de Souza, da Urcamp, de Bagé, não é a mesma que visitou brevemente a Capital em 1970. A pequena pedra negra, que ainda reside no Estado, tem pouco menos de um centímetro e foi colhida pela tripulação da última missão Apollo, pelos astronautas Eugene Cernan e Harrison Schmitt, no vale lunar de Taurus-Littrow, em 1972. Ela foi um presente do presidente americano Richard Nixon ao general Emílio Médici, em 1973. Posteriormente, foi doada por ele a sua cidade natal.
Grato pela dica, professor Harres.