Em 1º de junho, comemoramos o Dia Nacional da Imprensa, que nos remete ao jornalista gaúcho Hipólito José da Costa (1774-1823). Devido à censura régia presente no Brasil Colônia, o patrono da nossa imprensa fundou, em Londres, o nosso primeiro jornal: o Correio Braziliense (1808-1822). Ao defender a liberdade de pensamento, além de combater poderosos corruptos, o jornal teve que circular clandestinamente no Brasil e em Portugal.
Na data alusiva à imprensa, é importante que nos lembremos dos chargistas. Ao combaterem a ditadura civil-militar (1964-1985), estes profissionais denunciavam as arbitrariedades, com arte, humor e sutileza, alertando os leitores quanto aos abusos do poder.
O destacado humorista Millôr Fernandes foi quem “abriu o caminho” para o aparecimento, nos anos 1960 e 1970, de cartunistas da envergadura de Ziraldo (Ziraldo Alves Pinto), Borjalo (Mauro Borja Lopes), Fortuna (Reginaldo Azevedo), Jaguar (Sérgio Jaguaribe), Claudius (Claudius Ceccon), Appe (Amilde Pedrosa), Lan (Lanfranco Vaselli), Santiago (Neltair Rebés Abreu), Juska (Francisco Juska Filho) e Henfil (Henrique Souza Filho).
Grande parte do “primeiro time” de chargistas dessa época começou a desenhar no início dos anos 1970, em pleno regime do AI-5, sendo que muitos deles foram presos e perseguidos durante “os anos de chumbo”. Do traço, emergia um mar de fardas militares, óculos escuros e coturnos, estereotipando o regime militar. Em 1974, em plena ditadura, foi criado o Salão de Humor de Piracicaba, projeto dos jornalistas Alceu Marozi Righeto, Carlos Marcos Colonese e Adolfo de Queiroz, que contou com o apoio do jornal O Pasquim. Na primeira amostra participaram artistas como Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo, Henfil, Fortuna, Paulo e Chico Caruso, entre outros. Este salão é um dos três mais importantes eventos do gênero, ao lado dos salões de Lucca, na Itália, e de Montreal, no Canadá.
Segundo Luis Fernando Verissimo, a época do regime militar talvez tenha sido, paradoxalmente, o período de maior criatividade. O final da ditadura civil-militar (1964-1985) tirou o aspecto do desenho como travessura. Fundado pelo jornalista Tarso de Castro, O Pasquim (1969-1991) é um ícone desse período, sendo, inclusive, fonte de trabalhos acadêmicos. Em 1976, teve uma de suas edições apreendidas devido a charge do gaúcho Edgar Vasques, que associava as três pombas usadas pelo governo militar na Semana da Pátria à carência de proteínas no organismo de um menor abandonado. Na mesma linha contestatória, surgiu, em Porto Alegre,
O Pato Macho (1971), indo de encontro ao provincianismo gaúcho. Publicado por um grupo de jornalistas, cartunistas e escritores, o periódico teve como editor-chefe Luis Fernando Verissimo. Fundado por uma cooperativa de jornalistas da Capital, o Coojornal (1974-1983) foi a primeira experiência no gênero. Seus anunciantes sofreram pressão por parte dos censores do regime militar, para se desligarem do jornal. Ambos os periódicos fazem parte do acervo do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.
A morte de Henfil, em 1988, após contrair Aids devido a uma transfusão de sangue, resultou em intensa campanha da imprensa, por meio de cartuns, para que a doença tivesse o tratamento adequado. Muitos nomes surgiram, ao longo do tempo, na arte do traço, especialmente durante a ditadura. Naquele período, de intensa censura, veteranos consagrados como Sampaio, Sampaulo, Canini, Bendati e Xico, coexistiram com outros como: Marco Aurélio, Schröder, Moa, Vilmar e Bier, entre outros já citados.
Ao comemoramos os 211 anos da imprensa brasileira, nossa homenagem aos chargistas que enriquecem o jornalismo com sua arte e, como Hipólito José da Costa, em períodos históricos diferentes, defenderam e defendem a liberdade de expressão.
Colaboração de Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite, pesquisador coordenador do setor de imprensa do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.