De volta às terras da mãe, a viúva Maria Jacobina Moog Trein, na Estância Velha, Francisco Pedro Trein (Franz Peter Trein, 1816–1883), aos 30 anos, era ainda um homem solteiro. Ex-integrante da Companhia de Caçadores Voluntários Alemães, havia lutado junto aos soldados do Império na Guerra dos Farrapos. Francisco nem tivera chance de conhecer uma moça com quem casar. Boa parte da sua vida de adulto havia passado acompanhando a marcha das tropas, a tocar a corneta com a ordem de avançar, levantar acampamento, bater em retirada, em meio à fumaça da pólvora, do alarido dos cavalos, dos gritos dos homens.
A modesta soma que havia amealhado fora investida no primeiro embarque de pedras semipreciosas para a Alemanha, pela firma que começava em sociedade com seu irmão-em-armas, major Kersting. Aguardava a chegada da mercadoria no destino e, naturalmente, o pagamento. Era primavera de 1846, época de plantio. Francisco trabalhava a terra materna, sem saber que as pedras que enviara seriam extraviadas e que ele nunca veria o retorno de seu investimento. Soube, pelo vizinho Jorge Jaco Ritter, da chegada a São Leopoldo de um grupo de imigrantes do Hunsruck (de onde ele próprio viera, com nove anos), entre os quais estavam os irmãos do senhor Ritter (Maria Eva Ritter Kessler e João Henrique Ritter, com suas famílias). Eles ficariam alojados nas terras do parente, enquanto esperavam a demarcação das terras na Picada Nova.
Foi, então, que a conheceu. Catarina era sua prima distante, tinha 18 anos, era evangélica e solteira. Perdera o pai, Cristiano Frederico Kessler, na viagem de navio para o Rio de Janeiro, pouco antes da chegada ao Brasil. Moça forte e determinada. Francisco teve a certeza: era ela a noiva com quem sonhara, pela qual esperou por tanto tempo. A união foi selada meses mais tarde, em janeiro de 1847, pelo pastor Klenze, em São Leopoldo. Pouco depois, o casal mudou-se para Bom Jardim (atual Ivoti), onde Francisco iniciou um pequeno comércio, com a intenção de negociar a produção dos colonos em São Leopoldo e vender-lhes produtos manufaturados.
Desta época é a carta ao amigo Kersting:
“O senhor bem pode imaginar que, quando se inicia com meios tão escassos, seguidamente tem-se preocupações em casa. Até o momento, tivemos apenas gastos e nenhuma receita, além de 11 sacos de milho, que plantei ainda em casa de minha mãe, no ano passado. Economizamos em tudo o que é possível. Que Deus nos dê saúde, harmonia e liberdade. Não queremos nos queixar. O trabalho torna a vida doce e o ócio é veneno quando não combatido com esforço. Talvez, nosso futuro seja melhor do que o que imaginamos, seria uma bobagem preocupar-se com ele neste momento.”
Mais tarde, transferiu a venda para Picada dos 14, depois para São José do Hortêncio e, em 1869, levou a empresa para São Sebastião do Caí. Em 1876 , seu filho Cristiano Jaco Trein comprou a empresa do pai e expandiu o negócio. Então, Frederico Mentz foi trabalhar de balconista na empresa de Cristiano Jaco Trein e acabou casando com a filha deste, Catarina Ritter Trein, tornando-se sócio do sogro. Posteriormente, Frederico Mentz mudou-se para Porto Alegre e expandiu enormemente a empresa. Também abriu outros negócios. Netos de Francisco Pedro Trein foram seus sócios, assim como o genro de Cristiano, A. J. Renner .
O que Francisco jamais poderia imaginar era que a pequena venda que acabara de abrir se tornaria uma empresa centenária, sob a razão social de Frederico Mentz e Cia e, menos ainda, que uma importante rua, na capital do Estado, Porto Alegre, levaria, um dia, esse nome.
Colaboração de Cynthia Oderich Trein, autora do livro No Hotel da Esquina Verde