Nosso leitor Paulo Sérgio Lontra (80 anos) ainda guarda com carinho 85 estampas do sabonete Eucalol, que colecionou quando era garoto. Ele é apenas um dos inúmeros brasileiros que foram atingidos por uma vitoriosa ação de marketing promovida por uma fábrica de produtos de toilette, que industrializou, também, talco e pasta de dentes.
O imigrante judeu alemão Paulo Stern fundou, no Rio de Janeiro, em 1917, a empresa Correa da Silva & Cia Ltda. para vender essências. Findada a I Guerra, seu irmão Ricardo Stern chegou ao Brasil e ingressou na sociedade. Juntos, ampliaram as atividades e construíram uma nova fábrica, que foi inaugurada por volta de 1924. A Paulo Stern & Cia Ltda. incrementou a linha dos produtos por ela fabricados, lançando inicialmente o sabonete Eucalol.
Naquela época, os sabonetes disponíveis no mercado eram brancos ou rosa, mas o Eucalol, que tinha eucalipto como base, era verde. A novidade causou certa rejeição e, como reflexo, poucas vendas. Em 1928, a empresa tentou seduzir o público com um concurso de poemas. Não funcionou como era esperado. Os irmãos Stern, então, lembraram-se das estampas Liebig, que tanto sucesso faziam na Europa, e resolveram lançar as estampas Eucalol, convidando os consumidores a colecioná-las. Estimularam isso publicando anúncios na imprensa, em 1930.
O sucesso foi imediato. Crianças e adultos passaram a colecionar as figurinhas de cartolina, impulsionando as vendas e fazendo a empresa crescer. Em 1932, ingressou na sociedade o terceiro irmão, Erich Stern, e a empresa alterou a razão social para Perfumaria Myrta S/A. Foram emitidas diversas séries sobre variados temas.
De 1930 a 1957, ano em que foram impressas as últimas estampas, foram abordados 54 temas, distribuídos em 2,4 mil estampas. Com informações no verso de cada figura, séries como História do Brasil e Lendas do Brasil foram usadas em escolas pelo Brasil afora como material didático.
Outro tema que proporcionou belas estampas foi o das histórias infantis, como João e Maria, Branca de Neve e os Sete Anões, O Gato de Botas, A Gata Borralheira, Chapeuzinho Vermelho e A Bela Adormecida. Em 1957, para reduzir custos e enfrentar a concorrência das multinacionais que se estabeleceram no Brasil, a Perfumaria Myrta encerrou a promoção. O último tema divulgado foi Escotismo, cujos aficionados até hoje procuram pelas estampas.
A empresa acabou não suportando a concorrência e, em 1978, foi vendida, tendo sua falência requerida em 1980. São essas as mais importantes estampas da América Latina, encontrando-se colecionadores em vários países. Fizeram parte da vida brasileira durante quase 30 anos, deixando marcada sua presença nas gerações que as vivenciaram.