“Uma cidade só existe, torna-se palpável, adquire densidade humana e espiritual quando é capaz de resgatar de maneira permanente o seu passado. Sem passado, não há história, sem história, perdem-se a identidade e o futuro. Não se trata, contudo, de exaltar o passado reacionariamente, idealizando os valores patriarcais de elites selvagens. A questão é compreendê-lo, porque através dele se configura a alma urbana, nele nos encontramos e definimos.Nesse aspecto, o trabalho de Sérgio da Costa Franco tem uma dimensão extraordinária. Meticulosa e pacientemente, o pesquisador debruçou-se sobre a história de Porto Alegre e durante anos construiu mais do que um guia, um roteiro histórico, um dicionário da cidade. Foi mais longe. Com a paixão de um Balzac por sua Paris, recompôs, sob a forma de verbetes, a vida na capital gaúcha.”
Esse texto é parte da apresentação que o professor Sérgius Gonzaga faz na “orelha” da obra que será lançada amanhã, sábado, dia 23, às 10h, na Livraria Erico Verissimo (Rua Jerônimo Coelho, 377 – em frente ao Hotel Embaixador, no Centro Histórico). Com uma palestra do autor, o evento deste sábado coloca no mercado a quinta edição (revista e ampliada) do livro Porto Alegre –Guia Histórico (foto). A reedição, agora pela Editora Edigal e desamparada de qualquer apoio de órgãos públicos, representa um verdadeiro presente para nossa cidade.
Já são decorridos 30 anos desde o lançamento da primeira edição, que teve o selo conjunto da prefeitura municipal e da editora da UFRGS. A última edição havia sido publicada em 2006 e, como as anteriores, está esgotada, numa clara demonstração da exclusividade e do valor da obra. Porto Alegre teve, felizmente, a sorte de ser adotada por Sérgio, que aqui chegou em 1935, aos sete anos, vindo de sua Jaguarão natal. A Capital pode ter acolhido o menino, mas foi o homem que dedicou a sua vida inteira e o seu carinho a essa cidade.
O livro, com quase mil verbetes, registra a evolução dos bairros, praças e ruas; os serviços públicos, as enchentes e as epidemias; os monumentos arquitetônicos, as instituições culturais e recreativas; os porto-alegrenses ilustres e os recantos pitorescos de uma cidade que Sérgio da Costa Franco conhece e resgata. Espécie de viagem pela nebulosa memória cotidiana dessa “leal e valorosa”, a obra é um livro fascinante e indispensável, que fatia o passado para que possamos ver melhor o que temos. Quem acompanha este Almanaque sabe exatamente do que se trata.