Na última quarta-feira, o Almanaque Gaúcho registrou a data comemorativa ao centenário de nascimento do ator e diretor de cinema Alberto Ruschel, que está sendo homenageado com uma exposição em Estrela, sua terra natal.
Já faz algum tempo, encontrei numa antiga edição da Revista do Globo (número 593), publicada em julho de 1953, uma reportagem, do jornalista C.S.Rocha, com fotos de Wilson Cavalheiro, a respeito de uma viagem que o consagrado astro da telona fez naquele inverno a Porto Alegre.
O repórter queria saber como o ator, que, até então, tinha se mantido em silêncio, havia recebido as declarações, atribuídas ao diretor Lima Barreto (do premiado filme O Cangaceiro, em que Alberto foi o protagonista), que afirmavam ter sido ele “impingido” ao elenco (pela produtora Vera Cruz) e que “criticavam severamente a sua atuação”. Elegante, o galã disse que, embora muito procurado pela imprensa, não quis se manifestar por achar que tudo não passava de um “mal-entendido”, já que o próprio diretor o convidara publicamente para o papel, após assistir ao filme Ângela, a primeira fita dele naquela produtora, e que Barreto também havia lhe telefonado, desmentindo o semanário que publicara a informação.
Alberto disse ainda que “gostou do filme em conjunto”, mas que, para ele, “como intérprete, apenas os minutos finais foram bons”. “Ainda não encontrei um diretor que me compreendesse perfeitamente, e um papel mais adequado à minha personalidade”, afirmou.
A visita em férias ao Rio Grande do Sul era para descansar e reencontrar os irmãos. Alberto fez parte de uma família de gente especialmente talentosa.
O irmão mais velho (eram quatro homens e duas meninas), Ernani, foi locutor e pioneiro no rádio gaúcho. Aqui, transmitiu pela primeira vez uma partida de futebol. Paulo, o mais moço, foi artista plástico, cantava e tocava violão e compunha. É dele Os Homens de Preto, um clássico da música gaúcha, gravado inclusive por Elis Regina. Junto com Alberto, ele fez parte do famoso conjunto musical Quitandinha Serenaders, no Rio de Janeiro.
Nilo Ruschel também foi homem do rádio, jornalista, cronista, escritor, advogado e professor. Ruth, uma das meninas, fez o primeiro programa infantil no rádio do RS. Alberto, entre eles, foi o que teve maior projeção nacional e internacional, dirigiu, produziu e estrelou 33 filmes e uma novela.
No 21º Festival de Cinema de Gramado, em 1993, foi homenageado com o troféu Oscarito. O mínimo que se pode dizer dessa turma é que os filhos de seu Alberto e dona Rita deram uma contribuição valiosa para a arte e a cultura do nosso Estado, ou, como afirma a legenda de uma das fotos publicadas na reportagem citada: “A família de Alberto Ruschel é uma família de artistas e gente de espírito”.