Em meio ao avanço da pandemia, as unidades de terapia intensiva (UTIs) de Porto Alegre voltaram a ultrapassar o teto de vagas e chegaram a 100,5% de lotação nesta terça-feira (2). A alta ocupação ocorre apesar de a cidade ter ganhado 33 novas vagas em UTIs nesta terça, alcançando 915 leitos. Antes da pandemia, eram 550.
Os 100% de lotação já haviam sido atingidos no último domingo (28), mas a ocupação caíra para 99% na segunda-feira (1º) após hospitais criarem cinco novos leitos para casos graves. Nesta terça-feira, a alta demanda de atendimento ultrapassou, novamente, os 100%, apesar das 38 novas vagas abertas nesta semana.
Quando a ocupação ultrapassa os 100%, hospitais alocam pacientes em espaços não planejados para tratar coronavírus e pegam equipamentos emprestados, como monitores e respiradores, de outros setores.
A secretária-adjunta da Saúde em Porto Alegre, Ana dal Ben, nega que haja colapso do sistema de saúde municipal porque, apesar da lotação de UTIs, unidades de pronto-atendimento e emergências ainda conseguem receber pessoas.
Pacientes com coronavírus representam 67,7% de todos os internados em UTIs na cidade, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Médicos vêm apontando que Porto Alegre chegou a um cenário de não haver como abrir vagas suficientes para atender à crescente demanda.
Em uma única semana, subiu em 45% o número de pacientes de todas as doenças, incluindo covid-19, que passaram a ser atendidos em leitos intensivos da capital gaúcha. Só de segunda-feira (1º) para esta terça-feira, o número de internados cresceu quase 10%, passando de 510 para 555.
Na tarde desta terça-feira, 137 pessoas aguardavam, nas emergências, por uma vaga em UTI. Dos 17 hospitais, nove estavam com ocupação igual ou superior a 100% e outros seis tinham lotação acima de 90%. O Ernesto Dornelles não atualizou os dados.
Na prática, uma pessoa que precise de atendimento intensivo, seja pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou por convênio, não terá como ser atendida imediatamente na maioria dos hospitais de Porto Alegre.
Chegamos a um nível de crescimento tão rápido nas últimas semanas que, mesmo aumentando o número de leitos de UTI, não há como dar conta
AIRTON TETELBOM STEIN
Professor da UFCSPA
A procura por leitos de UTI ocorre a despeito da expansão nas vagas e de a cidade ser reconhecida nacionalmente pelo grande número de leitos, em virtude da presença de universidades, e pela qualidade de seus hospitais, cita o médico epidemiologista e de família Airton Tetelbom Stein, professor na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
— Quando o número de casos no Brasil era pequeno, havia a preocupação de aumentar a estrutura de hospitais para o serviço de saúde dar conta do maior número de casos de covid e de outros problemas de saúde. Mas chegamos a um nível de crescimento tão rápido nas últimas semanas que, mesmo aumentando o número de leitos de UTI, não há como dar conta. Tanto é que todos esses hospitais, inclusive privados, estão fechando o atendimento a outros problemas de saúde. Claramente, a regulação do sistema de saúde mostra uma situação insustentável de dar conta com esse número tão elevado de casos — avalia Stein.
A situação mais complicada nesta terça era no Hospital Moinhos de Vento, onde a ocupação chegou a 114,9% no início da tarde. A instituição chegou a alugar um contêiner para acomodar corpos de pacientes mortos por coronavírus.
Em nota, o Moinhos de Vento destaca que 35% dos pacientes em suas UTIs têm menos de 60 anos e afirma que alugar o contêiner é uma medida preventiva para manter a qualidade da instituição.
“A partir desta terça-feira (2), será instalado provisoriamente um contêiner refrigerado anexo ao hospital. Será utilizado somente em caso de real necessidade, considerando a possibilidade de atrasos na retirada dos óbitos por parte das funerárias, realidade essa percebida em outras cidades do Brasil e do mundo”, diz o texto.
A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, segundo hospital da cidade em número de vagas, informou também nesta terça-feira que chegou ao limite da capacidade de atendimento.
"Chegamos ao nosso limite assistencial, de recursos humanos e tecnologias, já com estruturas assistenciais em blocos cirúrgicos e salas de recuperação, com a consciência absoluta do papel social que empreendemos e o dever máximo de alcançar a maior segurança possível nos tratamentos", diz o diretor médico da Santa Casa, Antonio Nocchi Kalil, por meio de nota enviada pela instituição.
O Hospital Conceição, terceira instituição com mais vagas em UTIs da capital gaúcha, chegou aos 97,6% da capacidade e afirmou, em nota, que conseguirá criar cinco novas vagas em UTI para pacientes com coronavírus e cinco leitos para pacientes sem covid-19 no Cristo Redentor.
O Conceição ainda decidiu suspender as provas para seleção de novos profissionais por concurso, com a exceção de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem intensivistas, que estão em falta no mercado.