A imunização de idosos contra a covid-19 no Rio Grande do Sul, iniciada nesta semana, se espalhou nesta quarta-feira (10) por diversas cidades gaúchas. Mas o dia também foi marcado por filas e aglomeração sob o sol. Em municípios menores, as poucas doses disponíveis se esgotaram rapidamente.
Se algumas prefeituras deram a largada na aplicação na segunda-feira (8), como Caxias do Sul, com o público acima de 90 anos, o Rio Grande do Sul assistiu à ampliação da vacinação para a maior parte das cidades nesta quarta-feira, como Porto Alegre, e municípios da Região Metropolitana e do Litoral.
A nova etapa da campanha inclui idosos acima de 85 anos. Antes, o Estado já havia começado a imunizar profissionais da saúde, funcionários e idosos que moram em asilos, acamados e pessoas com deficiência que vivem em instituições de acompanhamento.
Diversos municípios, em especial os de grande porte, onde as prefeituras não têm servidores suficientes para vacinar idosos em casa, registraram grande movimentação e longas filas em postos de saúde, sobretudo nas primeiras horas do dia. No geral, as aplicações eram rápidas, feitas em poucos minutos. Após a injeção, idosos posavam para fotos. Por conta da idade avançada, muitos foram acompanhados por familiares até os locais.
Em Porto Alegre, ao menos 3,3 mil idosos acima de 90 anos foram vacinados nesta quarta-feira, segundo contador da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) atualizado às 18h40min. Os dois pontos drive-thru vacinaram, juntos, 740 idosos.
A aplicação aconteceu entre 8h e 17h em 10 locais, por ordem de chegada e sem distribuição de senhas. A movimentação foi intensa pela manhã, em contraponto a uma maior tranquilidade pela tarde. Alguns locais registraram filas de mais de cem pessoas sob o sol, enquanto outros tinham uma procura mais organizada. A reportagem de GZH encontrou idosos sentados em cadeiras de praia ou em pé, aparados em andadores, e até mesmo o caso de um senhor que guardou lugar na fila para o pai de 95 anos desde as 22h da terça-feira (9).
— Eu trouxe mochila, cadeira e comida e fiquei aqui — contou Antônio Augusto Lourenço, 53 anos.
No drive-thru do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), uma longa fila de 50 carros foi registrada. A vacinação deveria iniciar às 8h, mas as doses só chegaram às 9h.
A reportagem também constatou muitos idosos com menos de 90 anos se apresentando para a vacinação. O calendário da prefeitura estipula que na quinta-feira (11) seja a vez daqueles a partir de 87 anos e, na sexta-feira (12), de 85 para cima. Mas a SMS chegou a divulgar, nas redes sociais, uma imagem chamando para a vacinação de idosos acima de 85 nesta quarta-feira.
A prefeitura reconhece a aglomeração, mas pede que a população aguarde seu dia para buscar a CoronaVac, uma vez que as doses para cada faixa etária estão guardadas. O diretor da Vigilância em Saúde da Capital, Fernando Ritter, sugeriu, em entrevista à Rádio Gaúcha, que a ida aos postos seja no início da tarde para evitar o maior movimento pela manhã.
— As doses do público acima de 90 anos de idade, que são aproximadamente 4,8 mil pessoas, estão reservadas para eles, ninguém tira deles. O público acima de 85 anos de idade é de 14 mil pessoas. E as doses também estão reservadas — disse Ritter. — Hoje, no horário do início da tarde, só chegava, vacinava e ia embora. Não esperava três minutos.
Porto Alegre ainda registrou filas de profissionais da saúde desavisados sobre o cancelamento do mutirão – a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) havia previsto a aplicação para profissionais nesta quarta, mas voltou atrás em comunicação emitido apenas na noite de terça-feira, uma mudança na orientação que não chegou a todos em tempo hábil.
A expectativa da prefeitura é realizar a vacinação dos profissionais da saúde no Centro de Saúde IAPI somente quando houver plenas condições de transparência, eliminando a possibilidade de fura-filas. Segundo a SMS, será realizado um trabalho com as entidades representantes de classe para determinar um processo adequado e a criação de um novo cronograma de vacinação.
Imunização em diversos municípios
Em Canoas, o primeiro dia de vacinação de idosos com mais de 85 anos não registrou problemas nem longas filas de espera. Em um dos maiores postos do município, a Clínica de Saúde da Família Caic, no bairro Guajuviras, menos de 10% das 200 doses recebidas haviam sido administradas até o fim da manhã.
No Litoral, o cenário apresentou filas. Em Xangri-lá, o início da aplicação foi às 9h, mas desde as 7h já havia idosos no aguardo. A distribuição foi rápida, mas teve gente que ficou sem injeção e terá de voltar na próxima chamada. Na cidade, eram apenas cem doses para os não acamados. Em Torres, foi realizada nesta quarta-feira a vacinação para idosos acamados acima de 85 anos.
Em Capão da Canoa, a vacinação foi para profissionais da saúde e para idosos acima de 85 anos acamados. O agendamento para pessoas da mesma faixa etária que não são acamadas também ocorre. Em Tramandaí, a aplicação começou 15 minutos antes do previsto, às 8h45min – a cidade recebeu mais de 1,3 mil doses, destinadas não apenas para moradores, mas também para idosos em veraneio.
Em Caxias do Sul, a quarta-feira foi dia de ampliar a vacinação para idosos com 83 anos ou mais. A vacinação de idosos já havia começado na segunda-feira, com a faixa acima dos 90 anos.
Em Pelotas, a vacinação em sete unidades básicas de saúde foi marcada por filas formadas na madrugada em praticamente todos os postos. Além da vacinação nas unidades, a prefeitura de Pelotas irá realizar um drive-thru no final de semana. A imunização volante ocorrerá no estacionamento do prédio da reitoria do Instituto Federal Sul-Riograndense, no próximo sábado (13), das 9h às 17h.
População ansiosa
O presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sus (Famurs), Maneco Hassen, que é prefeito de Taquari, afirma que a vacinação em massa desta quarta-feira transcorreu sem problemas no Estado, apesar das aglomerações e da procura de idosos abaixo da idade estipulada pelos municípios. Ele reconhece as filas, mas culpa a ansiedade da população em um cenário de poucas doses asseguradas pelo governo federal.
— Desde o início, o Rio Grande do Sul tem feito a vacinação com muita tranquilidade. Os municípios pequenos e médios estão vacinando em casa, mediante cadastramento. Mas, nos maiores, isso é praticamente impossível. Eventuais filas acontecem por ansiedade das pessoas, fruto de não haver certeza se haverá vacina para todo mundo. A vacinação normal da gripe não dá fila porque há muitas doses e as pessoas sabem que, em seguida, chegará sua vez — afirma Hassen.
Contatada pela reportagem, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou que ainda não há com precisar quantos idosos foram vacinados no Estado e quantas doses sobraram para os próximos dias.
A pasta afirmou, por e-mail, que “as vacinas começaram a ser distribuídas para as centrais de rede de frios na segunda” e que a maioria das cidades começou a aplicação entre o fim da tarde de terça-feira e esta quarta-feira. Portanto, “os municípios estão se organizando com suas logísticas e não tem como dar uma posição mais específica neste momento”. A SES não comentou as aglomerações e filas registradas em municípios.