Com destaque nacional no começo da pandemia por ser a última cidade do país com mais de 200 mil habitantes a registrar uma morte por covid-19, Pelotas está em uma das duas regiões que pela primeira vez foram classificadas de forma preliminar na bandeira preta no modelo de distanciamento controlado do governo estadual. Passados seis meses da primeira morte, o município contabiliza 215 vítimas e possui 80% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ocupados na tarde deste sábado (12).
O primeiro motivo que é colocado por especialistas para o aumento no número de casos recentes na cidade é o relaxamento da população em relação às medidas de distanciamento social. Foi verificado nas últimas semanas um aumento no número de infecções em jovens e adultos de até 35 anos. Essa parte da população muitas vezes frequenta estabelecimentos noturnos ou participa de pequenas aglomerações com grupos de amigos. Em alguns casos esses moradores mais novos moram com pessoas mais velhas, que costumam ter consequências mais graves quando estão infectados e acabam sendo hospitalizados ou morrendo.
Na tentativa de acabar com esse problema, a prefeitura de Pelotas ampliou as restrições em bares e restaurantes, diminuindo horários de funcionamento e proibindo apresentações de grupos musicais ou bandas. Além disso, ampliou a fiscalização e interditou pelo menos seis estabelecimentos que não estavam seguindo os decretos municipais. Mesmo assim os índices continuaram elevados. Nesta semana, a prefeitura anunciou o fechamento das atividades comerciais consideradas não essenciais por quatro dias. O retorno acontecerá na próxima terça-feira (15) às 6h.
A realização da eleição é outro fator citado por especialistas. O epidemiologista e reitor da Universidade Federal de Pelotas, Pedro Hallal, classifica a eleição como um dos motivos para a atual situação da pandemia no município. Segundo ele, a maioria das campanhas de vereadores e prefeitos não respeitaram medidas básicas de prevenção, como a utilização de máscaras ou a promoção de aglomerações em espaços públicos e ambientes fechados.
— Aquilo foi um show de horrores. Muitos candidatos agiram como se não tivesse pandemia em Pelotas e a consequência estamos vendo agora — afirmou Hallal.
A falta de profissionais de saúde também é um ingrediente a mais na difícil situação que o município enfrenta. A secretaria municipal de saúde enfrenta desde o começo da pandemia uma grande dificuldade para contratar médicos e enfermeiros com experiência no tratamento de pacientes graves. Além disso, centenas de profissionais infectados ou afastados por serem de grupo de risco também dificultam a ampliação de leitos na cidade.
— Tínhamos 40 leitos de UTI especiais para covid-19, os contratos eram temporários e alguns médicos não quiserem renovar e não conseguimos manter o número inicial planejado. Hoje temos pacientes precisando de leitos de UTI e tendo que ser transferidos para outras cidades.
Atualmente a cidade conta com 20 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) exclusivos para o tratamento de pacientes com covid-19. Nesta semana, a prefeitura anunciou o reforço de mais 10 leitos que serão criados na Santa Casa de Misericórdia e irão ampliar a capacidade de saúde. Esse reforço inclusive é o principal argumento utilizado pela prefeita Paula Mascarenhas no recurso para reverter a bandeira preta na região.
O reitor Pedro Hallal acredita que esse é o momento da cidade tomar medidas mais duras no enfrentamento a covid-19. Segundo Hallal, o argumento da ampliação de leitos é aceitável, mas ele acredita que as cidades devem respeitar as equações contabilizadas pelo governo do Estado na classificação das bandeiras do modelo de distanciamento controlado.
— O argumento do aumento de leitos tem que ser levado em consideração. A questão é que tivemos um aumento de casos absurdos e precisamos controlar essa situação de alguma maneira.
Pelotas que tem uma população de aproximadamente 350 mil habitantes registra em média nas últimas semanas o número de 400 casos de covid-19 por dia. O último boletim divulgado pela prefeitura nesta sexta-feira (11) informa que a cidade contabiliza 12.041 casos confirmados. Deste número, 7.621 estão recuperados, e 4.165 ainda estão com o vírus no município.
— No começo da pandemia acertamos, respeitamos as medidas e criamos protocolo. A verdade é que baixamos a guarda, as medidas de distanciamento foram desmoralizadas e chegamos neste ponto atual — finaliza Pedro Hallal.