Alimentar os cinco filhos virou tarefa ainda mais árdua para Lucileia Oliveira da Rosa, 39 anos. Antes da pandemia de coronavírus, a moradora da Vila Liberdade, no bairro Farrapos, em Porto Alegre, fazia bicos, como cuidar de estacionamentos perto da Arena do Grêmio em dias de jogos. Com a paralisação do futebol, ela e o marido, também sem emprego formal, passaram a depender de doações de mantimentos.
De segunda-feira a sábado, Lucileia vai até um ponto de distribuição de marmitas nas imediações do estádio gremista. É lá que recebe o almoço da família.
– O apoio tem sido muito bom. A situação piorou bastante com a epidemia – resume Lucileia, que é beneficiária do Bolsa Família e já perdeu duas casas em incêndios na região.
Na última quinta-feira (30), Daiane da Silva, 34 anos, também foi ao local em busca de almoço para ela e os cinco filhos. Após a covid-19, as dificuldades aumentaram com a demissão do marido, que atuava como vigilante.
– A ajuda é muito boa porque, às vezes, não temos dinheiro para comprar comida – conta Daiane.
Criado por jovens empreendedores em abril, o Projeto Alimente POA é o responsável por levar as marmitas até os moradores da Vila Liberdade e de outros nove pontos da Capital e de Guaíba. A iniciativa também está presente, de segunda-feira a sábado, em áreas como Vila dos Papeleiros, Restinga e Ilha dos Marinheiros. Moradores de rua também são beneficiados na Capital.
Thomas Elbling é um dos idealizadores da proposta, que distribui 1,5 mil marmitas por dia. O empreendedor, que trabalha em Belo Horizonte, veio a Porto Alegre para visitar a família, mas, com a chegada da pandemia, permaneceu no Rio Grande do Sul.
– Com a crise, pensamos em como ficariam as pessoas que vivem nas ruas. E o que aconteceria com quem tem fome e não pode trabalhar? Então, resolvemos fazer algo para ajudar. Começamos a produzir marmitas em casa, mas não tínhamos experiência – relata Elbling.
O grupo foi crescendo, fechou parcerias com restaurantes e passou a receber doações de alimentos. Hoje, são cerca de 80 voluntários. As refeições, que levam arroz, feijão e frango, são preparadas no Baro Experiência Gastronômica, no bairro Bela Vista. A meta, até o final da pandemia, é distribuir 45 mil marmitas (veja abaixo como ajudar).
Além de estimular novas ações solidárias, a crise não impediu que projetos com mais tempo de duração deixassem de operar. É o caso do Banco de Alimentos, criado em 2000, por iniciativa da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
Em razão das restrições, a rede com atuação estadual lançou uma campanha de doações na internet. Interessados podem acessar um site e adicionar produtos em uma sacola virtual (detalhes abaixo).
Presidente voluntário da rede, Paulo Renê Bernhard avalia que a solidariedade aumentou entre os gaúchos. Pelos menos 500 toneladas de mantimentos já foram doadas desde o início da pandemia em Porto Alegre, além de outras 150 toneladas no Interior.
– A fome já existia, mas ganhou intensidade na pandemia. A situação deve permanecer assim por um longo tempo. Menos mal que o tamanho do problema corresponde ao tamanho da reação da sociedade. As pessoas estão colaborando – destaca Bernhard.
Poder público organiza doações
O combate à fome durante a pandemia também levou o poder público a buscar doações de alimentos. No âmbito do governo estadual, a Defesa Civil centraliza o repasse de mantimentos para comunidades. Os produtos são recebidos em Porto Alegre mediante agendamento (veja abaixo).
Outros órgãos do governo também anunciam medidas para reduzir os danos. Em nota, a Secretaria Estadual da Educação informou que deu início à distribuição de alimentos para famílias de alunos que tiveram as aulas suspensas em razão da pandemia. A promessa é de repassar 185 mil cestas básicas até o final de maio.
O custo estimado é de quase R$ 22 milhões. Os recursos são provenientes do governo do Estado (R$ 9 milhões) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (R$ 12,7 milhões).
A Secretaria do Trabalho e Assistência Social também promoveu doações. Em parceria com as Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa-RS), distribuiu 94 sacolas de alimentos para idosos em situação de vulnerabilidade.
– Sabemos que a política social é extremamente afetada. Problemas vão se aprofundar. Quem mais sofre com a pandemia são as pessoas em vulnerabilidade – diz a secretária estadual de Trabalho e Assistência Social, Regina Becker.
Na Capital, a prefeitura desenvolveu ação batizada de Adote uma Comunidade. Além de alimentos, material de limpeza e agasalhos são aceitos durante a pandemia. A promessa é de repassá-los a famílias em situação de vulnerabilidade atendidas pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). Quem responde pela iniciativa é a primeira-dama de Porto Alegre, Tainá Vidal.
– Não interessa o tamanho de cada doação. O importante é que as pessoas ajudem. – pontua Tainá.
Campanhas contra a fome
Projeto Alimente POA
O que é: ação elaborada por empreendedores para distribuir almoços a moradores de rua e de comunidades de Porto Alegre e Guaíba entre segunda-feira e sábado
Como ajudar: o projeto aceita doações de alimentos (arroz, feijão, sal, óleo de soja e extrato de tomate) no restaurante Baro Experiência Gastronômica (Rua Barão de Ubá, 9, bairro Bela Vista, Porto Alegre), além de auxílio em dinheiro. Para o repasse de recursos, é preciso entrar em contato via WhatsApp. O telefone é (51) 99143-2626. Dados sobre transferências bancárias são informados por meio desse canal. Mais detalhes podem ser conferidos no perfil do projeto no Instagram (@projetoalimentepoa).
Banco de Alimentos
O que é: rede criada em 2000 para distribuir alimentos no Estado
Como ajudar: doações são aceitas por meio do site www.doealimentos.com.br. É necessário fazer cadastro com e-mail e senha. No endereço, produtos diversos, como açúcar, água mineral e biscoitos, podem ser escolhidos pelos doadores. Também há opções de cestas já montadas. Em seguida, o pagamento pode ser realizado por meio de boleto, cartão de crédito ou bankline. Há, ainda, como fazer doações via transferência bancária nas seguintes contas do Banco de Alimentos (CNPJ 04.580.781/0001-91): Banco do Brasil (agência: 1889-9, conta corrente: 122.323-2) e Banco Itaú (agência: 1687, conta corrente: 29.898-2)
Campanha da Defesa Civil
O que é: o órgão recebe alimentos, produtos de higiene pessoal e limpeza para distribuição no Estado, além de equipamentos de proteção individual (EPIs) para as áreas de saúde e segurança pública (máscaras, luvas, álcool 70%)
Como ajudar: as doações podem ser feitas na Central de Doações da Defesa Civil, que funciona de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 18h, em Porto Alegre. O órgão fica no Centro Administrativo do Estado (Avenida Borges de Medeiros, 1.501). Para evitar aglomerações, é necessário agendar horário, por meio do telefone (51) 3288-6781. Em algumas ocasiões, a Defesa Civil pode coletar os produtos na casa do doador, mas isso é avaliado caso a caso
Adote uma Comunidade
O que é: a ação busca arrecadar alimentos, material de limpeza e agasalhos para famílias em situação de vulnerabilidade social atendidas pela Fasc
Como ajudar:
-Alimentos e produtos de higiene e de limpeza podem ser entregues na sede da Fasc (Avenida Ipiranga, 310), de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 12h e das 13h30min às 18h
-Agasalhos, calçados, toalhas e roupas de cama podem ser entregues em centro de triagem na Rua Múcio Teixeira, 33, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 17h
-Pessoas jurídicas que queiram encaminhar propostas de doações podem entrar em contato por e-mail (gabinete.fasc@portoalegre.rs.gov.br)