O coronavírus abalou a indústria gaúcha. Em razão da pandemia, a demanda por produtos caiu em 80% das fábricas, estima a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). Divulgada nesta terça-feira (28), a pesquisa também aponta que 42% das empresas tiveram de paralisar as atividades de produção em meio à crise.
O presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry, avalia que a covid-19 gerou "grandes obstáculos às operações". "Enquanto o comércio não puder abrir em sua totalidade, seguindo todos os protocolos de segurança para funcionários e clientes, a situação só irá se agravar", afirma o dirigente em nota.
O levantamento foi produzido entre os dias 1º e 14 de abril. Segundo a Fiergs, as indústrias apontam como principais problemas da crise a redução do faturamento (72,3% das respostas), o cancelamento de pedidos (56,6%) e a inadimplência de clientes (55,4%).
O estudo ainda menciona que oito em cada 10 empresas enfrentam dificuldades para obter insumos. Gargalos na área de crédito também foram lembrados. Conforme a Fiergs, dois terços das indústrias indicaram aumento nos obstáculos ao acesso a capital de giro — recursos usados para pagamento de despesas recorrentes, como salários.
— As dificuldades de crédito continuam. Hoje, as exigências dos bancos estão maiores devido ao risco existente. Seria preciso um instrumento que permitisse ao governo federal atuar como uma espécie de fiador, um avalista dos empréstimos. Não se sabe ainda se o atual cenário seguirá por um, dois ou três meses — analisa Maria Carolina Gullo, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Para a economista, as incertezas geradas pelo coronavírus tendem a provocar mais demissões no setor industrial. No momento, apenas empresas de segmentos essenciais, como o de alimentação, conseguem manter a produção em nível similar ao pré-crise, acrescenta Maria Carolina.
— Há uma nova realidade, e a indústria procura se adequar. Já houve demissões, além de cancelamento de encomendas — frisa a professora.
Perda diária de R$ 180 milhões
A Fiergs havia apresentado, na segunda-feira (27), outro estudo sobre os impactos da covid-19. Segundo essa pesquisa, o setor deixou de faturar R$ 180 milhões por dia, em média, desde o início da crise.
Para calcular o dado, a entidade analisou informações de notas eletrônicas divulgadas semanalmente pela Receita Estadual. De 16 de março e 17 abril, a queda nas vendas chegou a R$ 5,7 bilhões, na comparação com igual intervalo de 2019.
Em nota, Petry mencionou que, se restrições ao funcionamento persistirem no Estado, o cenário de perdas será "aprofundado". "A redução na produção e nas vendas prejudica ainda mais a situação financeira das empresas, o que pode provocar desemprego ou até mesmo o encerramento de atividades de algumas indústrias", declarou o dirigente.