A crise econômica provocada pelo coronavírus espalha incertezas pelo mundo. No Brasil, a situação não é diferente. Mesmo com as dúvidas no radar, economistas de diferentes linhas de pensamento concordam com a avaliação de que o combate aos prejuízos passa por novas medidas de socorro do governo federal. Isso, consequentemente, exige aumento nos gastos públicos, área em que o país já registrava dificuldades antes da crise.
Segundo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia global passará em 2020 pela maior recessão desde 1929. A queda estimada para o Produto Interno Bruto (PIB) mundial é de 3%. O PIB brasileiro deve amargar tombo de 5,3%, projeta o FMI.
O economista Marcel Balassiano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que as ações para diminuir perdas, neste momento, devem focar nas camadas mais desfavorecidas da população. Nesse sentido, ele elogia o auxílio de R$ 600 para trabalhadores informais, medida costurada entre o Congresso e o governo Jair Bolsonaro.
– Agora, é preciso direcionar recursos para a área de saúde e cuidar, principalmente, dos mais vulneráveis – aponta Balassiano.
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Fernando de Paula também entende que medidas como o auxílio aos informais são importantes. O economista, entretanto, considera que o governo precisa ir além e anunciar novas ações, mesmo com as dificuldades fiscais enfrentadas pelo país.
– A comparação internacional mostra que as respostas à crise aqui são menores do que as adotadas por outros países. Tempos excepcionais exigem respostas excepcionais – destaca o economista.
No setor produtivo, empresários têm feito críticas a supostas barreiras ao acesso a crédito durante a pandemia. Conforme analistas, desatar o nó dos financiamentos é uma das necessidades imediatas no país. Em períodos de turbulência, bancos privados veem mais riscos no horizonte e tendem a fazer mais exigências para liberar empréstimos. Enquanto isso, empresas correm contra o tempo em busca de recursos para custear despesas, incluindo a folha salarial.
Buraco nas contas é desafio
Administrar o impacto do coronavírus nas contas públicas surge como um dos principais desafios para a economia brasileira na próxima década. Diante do aumento no rombo necessário para o combate à pandemia, o governo Jair Bolsonaro decidiu pedir ao Congresso autorização para flexibilizar a meta fiscal de 2021 – para déficit de R$ 149,6 bilhões, mais do que o dobro do inicial, de R$ 68,5 bilhões.
Diretor para as Américas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner relatou, na quinta-feira, que o coronavírus pode causar uma década perdida para a América Latina no recorte de 2015 a 2025. "Os países devem garantir que as políticas adotadas em resposta à crise não sejam percebidas como permanentes, principalmente no que diz respeito à assistência a determinados setores", escreveu.
Economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini considera que o governo federal precisa socorrer empresas e famílias neste momento, mas deve focar em medidas de austeridade fiscal depois da pandemia. Ele também entende que atritos entre Bolsonaro e o Congresso representam risco adicional para a reação do país.
– Sem diminuição do tamanho do Estado nos próximos anos, seguiremos patinando. A década atual traz esse aprendizado. O governo precisa deixar a economia andar com suas próprias pernas. Não quer dizer que o Estado não pode dar assistência. Em momentos inesperados, como no caso do coronavírus, o governo tem de auxiliar a sociedade – argumenta Agostini.
O economista Luiz Fernando de Paula discorda da ideia de enxugar ao máximo o orçamento estatal. Na visão do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mesmo após o fim da crise do coronavírus, empresas e consumidores estarão fragilizados. Por isso, defende fatia mais robusta do orçamento para obras públicas de infraestrutura. Aportes nessa área, salienta o professor, podem espalhar estímulos a setores diversos da economia.
– Nos últimos anos, o país implantou uma agenda de pura austeridade. Não é dessa maneira que se resolve o problema. O investimento em infraestrutura puxa outros segmentos da economia junto – observa.