Ao mesmo tempo em que derruba o faturamento de grandes companhias, a crise provocada pelo coronavírus ameaça o futuro de pequenos e médios negócios. Com calibre financeiro inferior para absorver choques econômicos, empresas menores enxergam uma série de desafios para manter o equilíbrio durante o período da pandemia. Em razão das dificuldades que se multiplicaram nas últimas semanas, pequenos empresários devem buscar opções para tentar reduzir perdas, o que pode evitar demissões, dizem analistas.
Diretor-superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no Rio Grande do Sul, André Vanoni de Godoy ressalta que, neste momento, é preciso cortar gastos desnecessários. Assim, o caixa das empresas pode ter fôlego adicional.
A situação é difícil. É praticamente impossível que os negócios não sintam nada e passem ilesos. Muitos podem ficar pelo caminho. Então, é preciso que as empresas olhem para o caixa, cortando despesas não essenciais – relata Godoy.
Segundo ele, aperfeiçoar canais de venda online é outra ação que pode beneficiar os micro e pequenos empreendedores. Aliás, a tecnologia também deve ser usada pelas marcas para manter contato com os clientes durante o período de isolamento social, acrescenta.
– É importante não abandonar o consumidor neste momento. Uma academia, por exemplo, tem de fechar as portas, mas deve seguir em contato com os alunos, oferecer aulas por vídeo. O serviço não será o mesmo, só que a conexão será mantida – sugere Godoy.
Conforme o Sebrae, o Brasil tem 16 milhões de micro e pequenas empresas. Do total, 2,4 milhões ficam no Rio Grande do Sul. Representam 98% dos estabelecimentos e 55% dos empregos formais, diz a instituição.
Na terça-feira, o Sebrae relatou que destinará, no mínimo, 50% de sua arrecadação para ampliar o crédito a pequenos negócios ao longo de três meses. A estimativa é de que os financiamentos cheguem a R$ 12 bilhões. A ação foi autorizada pelo governo federal por meio de medida provisória.
Ao mesmo tempo, a Magazine Luiza, uma das maiores varejistas do país, lançou iniciativa para tentar auxiliar pequenos comerciantes e autônomos. Trata-se de uma plataforma digital, chamada de Parceiro Magalu, na qual os varejistas de menor porte podem negociar produtos em estoque.
Especialistas cobram agilidade do governo
Analistas elogiam as medidas adotadas pelo Ministério da Economia para tentar amenizar os danos da pandemia de covid-19 na atividade econômica. De acordo com eles, iniciativas como a permissão para corte de jornada e salários, mediante apoio da União, podem ajudar a preservar empregos.
Mesmo assim, é praticamente unânime a leitura de que o governo federal tem de ir além. Na visão de especialistas, a pandemia cobra maior velocidade na tomada de decisões.
Fernando Ferrari Filho, professor da Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), avalia que o governo precisa acelerar a concessão de crédito em bancos públicos. Sem acesso a financiamentos com taxas mais atrativas, empresários tendem a sentir dificuldades para manter os funcionários, destaca.
– A MP (medida provisória) que permite redução de jornada e salário é interessante se as empresas, de fato, não demitirem. Mas também é preciso que haja crédito mais competitivo no país. Sem financiamento para capital de giro, é pouco provável que as empresas tenham sobrevida por três, quatro meses. Aí, seriam obrigadas a demitir – observa Ferrari Filho.
Professor da Unisinos, o economista Guilherme Stein também chama atenção para a necessidade de avanços na área de crédito. Ele afirma que, até o momento, quem sente mais os efeitos da crise são os empregadores e os trabalhadores do setor privado no país. Por isso, Stein considera que uma revisão temporária nos benefícios de representantes do poder público também deveria ser discutida.
— A quarentena é importante, mas é necessário reconhecer que o custo econômico é alto. Então, temos de pensar logo no próximo passo. Ou seja, ver como conseguiremos reabrir a economia após a crise. Empresas costumam ter preparação financeira para um, dois meses – argumenta Stein
Dicas contra a crise
O Sebrae-RS lançou uma série de recomendações para auxiliar micro e pequenos empresários no período de dificuldades imposto pelo coronavírus. Veja, abaixo, um resumo das sugestões.
- Busque reduzir custos desnecessários
- Converse com fornecedores e replaneje estoque, compras e período de entrega. A renegociação do prazo de pagamento pode gerar fôlego financeiro neste momento
- Tente intensificar vendas a distância, com possibilidade de entrega dos produtos na casa dos clientes
- Mantenha contato com os consumidores. Endereços digitais da empresa, como site e redes sociais, além de ferramentas como o WhatsApp, podem aproximar a marca das demandas do público
- Renegocie financiamentos de longo prazo com bancos, a fim de encontrar taxas de juro mais atrativas e carência durante o período de crise
- Para os negócios que seguem operando, a adaptação do horário de funcionamento da empresa pode resultar em ganhos e melhor atendimento aos clientes
- Procure ajuda de especialistas para tirar dúvidas. O Sebrae promete dar suporte a pequenos empresários, via site (sebraers.com.br) ou telefone (0800 570 0800).