As unidades de tratamento intensivo (UTI) de hospitais de Porto Alegre tratam, nesta quarta-feira (6), 25% mais pacientes suspeitos ou confirmados para coronavírus do que na semana passada, mostra análise de GaúchaZH. Em uma semana, a soma de internados com sintomas para covid-19 subiu de 44 para 55.
O aumento não chegou a impactar o sistema de saúde porque a Capital ganhou, na semana passada, 47 leitos de UTI — com isso, a taxa de ocupação se manteve baixa e em patamar semelhante ao da semana passada. Segundo a prefeitura, são vagas no Hospital de Clínicas, no Conceição e no Cristo Redentor.
Agora, há 607 vagas de UTI em Porto Alegre, das quais 9% tratam pacientes graves de coronavírus — na semana passada, a ocupação era de 8%. Manter o índice baixo garante melhor atendimento à população.
A adesão ao distanciamento social é citada como a principal explicação para os bons resultados de Porto Alegre, que tem a menor ritmo de avanço de coronavírus dentre todas as capitais do Brasil. Até esta quarta-feira, a cidade tinha 477 casos oficiais e 17 mortes. O cenário, no entanto, pode mudar nas próximas semanas com a retomada de serviços.
— Esses números de aumento de casos, embora reflitam um afrouxamento da adesão às medidas de restrição, são muito pequenos perto do impacto que se pode ter. Veremos daqui a duas semanas se a população conseguirá manter a incidência de casos novos em limite controlado ou se, mesmo com o alerta, não teremos capacidade de segurar o aumento de casos sem isolamento — diz Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor de Infectologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O diretor de Atenção Hospitalar da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), João Marcelo Lopes Fonseca, afirma que os casos confirmados de coronavírus seguem no mesmo patamar nos últimos dias e que o aumento de 25% nas internações se deve ao crescimento de número de suspeitos, uma consequência da maior incidência de doenças respiratórias em maio.
— No momento, temos uma situação relativamente confortável em relação a outras capitais, fruto de Porto Alegre ter entrado em distanciamento social cedo. Relaxar as medidas não quer dizer que resolvemos a situação e não teremos crise, mas estamos com situação monitorada e seguimos acompanhando dia após dia. Se houver aumento no número de casos, vamos ver a capacidade de leitos e discutir talvez um retrocesso nas medidas de restrição — pontua Fonseca.
No dia 29, havia 29 pessoas confirmadas para covid-19 em UTIs de Porto Alegre e 14 suspeitas. Uma semana depois, até as 14h desta quarta-feira, eram 32 confirmadas e 23 suspeitas. Para o médico infectologista do Hospital Conceição André Luiz Machado, esses casos suspeitos provavelmente são de covid-19.
— O número de aumento de síndrome respiratória aguda grave muito provavelmente está associado ao coronavírus, mesmo que comecemos um período em que começam a circular outras doenças. O vírus respiratório prevalente no nosso meio é o coronavírus. Esse aumento é resultado do relaxamento do distanciamento social que começou duas semanas atrás de forma não aconselhada. As praças e os parques começaram a ficar mais ocupados — aponta.
Chegada na periferia
Apesar de a taxa de ocupação na cidade inteira se manter estável, houve uma importante mudança: agora, quem concentra a maior parte dos pacientes com covid-19 não é mais o Hospital Moinhos de Vento, e sim o Hospital Conceição (veja o gráfico acima), onde 100% das vagas em UTI são pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Isso indica uma entrada do coronavírus na periferia da Capital e, também, em cidades da Região Metropolitana onde moram habitantes que tradicionalmente buscam o Conceição, destaca Machado.
— A covid-19 é uma doença que veio importada por uma classe social mais elevada, então é normal ter uma taxa mais elevada primeiro em hospitais privados. O Conceição estar agora à frente em casos internados está relacionado com a doença ir para a periferia. Aqui, tradicionalmente se atende a pessoas de Alvorada, Viamão e Cachoeirinha — afirma.
A chegada do coronavírus a bairros mais periféricos é esperada, mas não há nenhum surto em nenhum bairro, assegura o diretor geral de Regulação da Secretaria Municipal da Saúde, Jorge Osório.
— Sem dúvida pode estar entrando na periferia. Os primeiros casos ocorrem na população que viaja de avião. Aos poucos, o vírus se dissemina e, consequentemente, atinge de forma mais homogênea toda a população. Não temos um surto na periferia, mas há uma disseminação lenta e gradual na cidade, sem estar concentrada nos bairros mais ricos — acrescenta.
Das 607 vagas em UTI, 71,6% estão ocupadas (seja por pacientes com coronavírus ou por outras doenças) — quando GaúchaZH realizou essa análise, havia 435 pacientes ativos no sistema de monitoramento; no fim do dia, havia 438.
Nas últimas semanas, o índice de ocupação tem oscilado entre 65% e 70%, embora na sexta-feira (24) tenha chegado a 73%. Ter poucos pacientes internados ajuda a reduzir a mortalidade pela doença — é por isso que governos correm para expandir a capacidade de atendimento enquanto a curva da epidemia está achatada. Capitais como Manaus, São Luís e Recife já ocupam quase 100% da capacidade.
O plano da prefeitura é ter, em um cenário extremo, 383 leitos de UTI apenas para tratar pacientes com coronavírus — hoje, há 174 vagas disponíveis para receber apenas esse tipo de paciente. Se a situação piorar, em maio podem surgir mais 91 leitos e, em junho, 151. Os números incluem não apenas abertura de novas vagas, mas também adaptação de leitos já existentes para receber pacientes com covid-19.