Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (6), o ministro da Saúde, Nelson Teich, admitiu que a pasta poderá recomendar lockdown em alguns lugares do Brasil. A medida é o método mais restritivo de afastamento social. Atualmente, o modelo em vigor na maior parte do Brasil é o de distanciamento social ampliado (entenda as diferenças entre os modelos aqui).
— Não é uma política de a gente é contra ou a favor do distanciamento. É você fazer o que é certo no lugar certo. Vai ter lugar que a gente vai recomendar lockdown, vai ter lugar que existe situação que te permite tentar alguma coisa — declarou Teich.
Para Teich, entre as condições que podem levar à recomendação de lockdown, três devem acontecer ao mesmo tempo: a alta incidência de pacientes infectados, pouca infraestrutura, poucos leitos disponíveis ou sem leitos disponíveis e a tendência de elevação no número de casos na região. Mais detalhes serão conhecidos quando as novas diretrizes forem apresentadas pelo Ministério.
Quando questionado sobre as decisões judiciais que impuseram lockdown em cidades como São Luís, no Maranhão, ele afirmou que é necessário parar de tratar isso "de forma radical".
Teich ainda deu como exemplo fábricas onde as pessoas têm os sintomas testados na entrada, e disse que “o ideal seria identificar quais pessoas isolar”.
— Se você tiver uma situação em que tem uma alta incidência da doença, isso é o extremo da gravidade da situação. O que é importante é que se discuta as estratégias de acordo com a situação de cada lugar. Ele vai ser importante em momentos em que a situação estiver muito difícil: alta incidência, baixa capacidade de leitos, aumento da quantidade de pessoas chegando aos hospitais. Aí é muito importante também que a gente consiga ver como conduzir aqueles que não vão ficar presos, pois sempre vão ter serviços essenciais. Provavelmente essas pessoas vão ter que ser testadas todos os dias — afirmou o ministro.
Na semana passada, o ministro e o de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, adiantaram que a nova diretriz de distanciamento social já foi feita. Falta, apenas, segundo o próprio Teich, planejar a apresentação de modo que o plano não seja distorcido pela população. Na coletiva desta quarta (6), a pasta ainda adiantou que haverá campanha publicitária reforçando as ideias que serão estabelecidas para divisão dos cinco níveis diferentes de isolamento.
Ele também afirmou que o ministério continuará fazendo visitas às cidades do Brasil, priorizando as que têm mais dificuldades. No último fim de semana, Teich visitou Manaus, um dos locais mais afetados pela pandemia.
— Mais uma vez peço que a gente não transforme uma política que tem que ser desenhada para flexibilizar a pessoa como uma disputa política de tudo ou nada. Não é isso e nunca vai ser isso. É diferente. A gente tem que ter a tranquilidade de saber que qualquer medida que tomar em qualquer direção, é revista o tempo todo.
Lockdown: o modelo com maiores restrições
Entre as três modalidades de afastamento, o lockdown (bloqueio, em inglês) é o mais incisivo e o mais alto nível de segurança, porque ele implica a paralisação de uma cidade, Estado ou país, a interrupção de deslocamento e a manutenção somente de atividades entendidas como essenciais, como a segurança pública, a saúde e coleta de lixo, explica Mariur Beghetto, doutora em epidemiologia:
— São medidas muito restritivas de confinamento, nas quais os países podem, inclusive, fazer uso da polícia e da punição contra pessoas que furarem esse bloqueio.
A cidade de Wuhan, na China, epicentro do coronavírus, estabeleceu a política de proibição de pessoas pelas ruas. O decreto teve validade por 11 semanas e seu fim foi anunciado nesta terça-feira (7), quando os 11 milhões de habitantes do município passaram a ter liberdade de entrar e sair da cidade sem pedir autorização. O Reino Unido, a África do Sul, a Índia, a Bélgica, a França e a Singapura entre outros países ainda estão com essa medida restritiva em vigor.