O ministro da Saúde Nelson Teich diz estar preocupado com a aceitação dos novos parâmetros de distanciamento social por parte da população. Ele revelou, na coletiva desta quinta-feira (30), que o planejamento já foi feito, mas diz que teme que as medidas sejam vistas como “orientação de afrouxamento” ou utilizada para debates políticos.
— A situação é tão complicada que até na hora de colocar uma diretriz, se isso é usado contra, ao invés da pessoa analisar aquilo como uma forma de decidir o que vai melhorar a vida das pessoas, vira um argumento para discussão de polarização de políticas e ideias. Isso é muito ruim — criticou.
O ministro também atribuiu autonomia aos Estados e municípios para que gestões locais decidam suas próprias políticas de distanciamento. Segundo Teich, governadores e prefeitos estão adotando medidas baseadas em dados científicos e planejamento responsável.
— A única coisa que eu peço é que neste momento a gente tente analisar isso de forma tranquila e equilibrada, e não trate como uma forma de questionar quem está fazendo as coisas. Se não isso vira uma postura pessoal, e não da sociedade — ponderou.
Entretanto, mostrou cautela quanto às flexibilizações de distanciamento social baseadas em levantamentos quantitativos simples de cidades com ou sem infectados pelo coronavírus.
— Algumas coisas são básicas. Não dá para se ter uma liberação com curva em franca ascendência. E mesmo quando a gente discute número de municípios que não tem caso, mais importante do que número de município é números de vida. Você pode ter 15, 20% dos municípios com problemas, mas ter 70% da população de cada município — detalhou.
Teich lamentou o crescente índice diário de mortes por covid-19 no país (são 5.901 vítimas fatais ao todo) mas explicou que a nova diretriz não está condicionada à este número. O crescimento da curva de contaminação e os recursos do sistema de saúde de cada localidade são as determinantes que nortearão as ações. Assim como na audiência no Senado da quarta-feira (29), Teich ressaltou a diferença entre esses critérios técnicos e o debate ideológico:
— Se a gente não parar para olhar para tentar entender o que está acontecendo e o que isso representa para a sociedade, ficar polarizando para dizer se é bom ou ruim, isso não vai levar a nada.
Na mesma coletiva, o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Denizar Viana, confirmou a criação da nova diretriz de distanciamento social.
— O ministro nos solicitou a elaboração de uma diretriz baseada nas experiências internacionais, na evidência disponível, que possibilitasse a Estados e municípios se classificarem em relação ao risco de um possível relaxamento do distanciamento social. Essa diretriz foi criada — revelou Vianna.
Desde o seu primeiro discurso, quando assumiu o cargo em 15 de abril, o ministro admitia que buscaria novas formas de conter a pandemia. Teich diz que sua preocupação consiste em como apresentar as ideias desenvolvidas pela equipe.
— Em algum momento vai ter que ser flexibilizado e quando isso acontecer a gente vai precisar ter a calma necessária para ver o que acontece na sequência — comentou nesta quinta-feira (30).