A ocupação de leitos de UTI por pacientes com covid-19 disparou na última semana no Interior do Estado. Na quinta-feira (30), havia 60 pacientes internados em leitos intensivos fora da Capital, o dobro do registrado sete dias antes pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), quando eram 30 internações. Enquanto em todo o Rio Grande do Sul a demanda por leitos de alta complexidade cresceu 49% em uma semana, no Interior o aumento chegou a 100%. Um salto tão expressivo em um período tão curto confirma o deslocamento da gravidade da pandemia de coronavírus no Rio Grande do Sul, antes concentrada em Porto Alegre e arredores.
Este novo cenário mostra que há risco elevado de contaminação nas regiões de Lajeado e Passo Fundo, onde o governo do Estado tem direcionado medidas mais restritivas de distanciamento social. Ambas seriam classificadas com a bandeira vermelha, se já estivesse valendo o novo modelo de distanciamento social do Rio Grande do Sul, que classificará as regiões do Estado por cor.
Nessas duas cidades, pelo menos três indicadores da gravidade da pandemia coincidem: ambas têm o maior número de casos confirmados, de mortes e de ocupação de leitos de UTI por coronavírus depois de Porto Alegre. Com 159 infectados e 11 mortes, a cidade do Norte tem 13 pessoas em leitos de UTI. Há uma semana eram sete, aumento de 85%. Já o principal município do Vale do Taquari tinha, em 23 de abril, cinco internados em UTI, e agora tem nove, aumento de 80%. Os casos confirmados chegam a 101 em Lajeado, com cinco mortes.
Os dados também mostram que, na semana anterior, 10 cidades do Interior tinham pacientes com coronavírus na UTI, e agora são 14. Apenas Novo Hamburgo e Pelotas – que não tem registro de nenhum caso grave – tiveram queda nas internações. Antes fora do mapa dos casos de alta complexidade, Santa Maria, Santa Cruz do Sul, Erechim, Frederico Westphalen e Santiago passaram a ter, na última semana, pacientes que precisam de tratamento intensivo.
A ocupação total dos 1.027 leitos de UTI do Interior é de 68%, com 702 pacientes internados. O índice é muito semelhante à taxa do Estado, que inclui Porto Alegre: 69,9%. Os 60 pacientes com covid-19 preenchem 5% do total de leitos intensivos disponíveis fora da Capital.
Outros municípios, que têm poucos ou nenhum paciente internado em estado grave com covid-19, aparecem com alerta vermelho no mapa da SES devido à sobrecarga de suas UTIs, independente do coronavírus. São seis cidades em que a taxa geral de lotação ultrapassa os 90%: Sapiranga (100%), Tramandaí (90%), Venâncio Aires (90%), Santa Cruz do Sul (94%), Santiago (100%) e Alegrete (100%).
Passo Fundo e Lajeado: prefeitos relatam dificuldades
Na leitura do prefeito de Passo Fundo, Luciano Azevedo, o fato de a cidade ter um dos mais importantes polos de saúde do Interior atrai pacientes de outras regiões e, segundo ele, até de outros Estados. A ocupação total dos leitos de UTI em Passo Fundo é de 89,1%, mas Azevedo reforça que, no diz respeito apenas aos direcionados a pacientes com coronavírus, a demanda é de 55%. Ele concorda com a adoção de critérios pelo governo do Estado, mas defende que eles precisam ser melhor discutidos com os prefeitos.
— Aqui foi feito de tudo. Se ampliou leitos de UTI, contratamos mais pessoas, abrimos um centro de referência para covid-19, compramos respiradores, demos dinheiro aos hospitais. Agora porque temos a medicina mais avançada do interior do Estado, estamos testando mais e tendo mais cuidados, estamos sendo punidos e colocados no vermelho, com medidas extremas como o fechamento do comércio — critica.
O prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo, não aponta culpados pela situação do município. Segundo ele, os próprios frigoríficos, um dos focos de contaminação na cidade, estão comprometidos em conter o vírus. O comércio, que fechou no início da pandemia e foi reaberto semanas depois, também não pode ser visto como responsável pelo crescimento da contaminação, na visão de Caumo:
— Não se busca identificar culpados, mas engajar todo mundo a vencer esse vírus. As lojas têm adotado todas as precauções, restrições, e o movimento é muito pequeno.
Caumo acredita que a classificação do município como vermelha pelo governo do Estado está correta e prevê crescimento dos números na cidade nos próximos dias. A expectativa da prefeitura é de que até a primeira quinzena de maio Lajeado enfrente períodos delicados e que, a partir de então, os casos comecem a recuar:
— É muito difícil lidar com uma doença como essa, os números mudam muito rápido. Temos mais de 50% dos casos confirmados assintomáticos, mas um aumento do número de idosos contaminados, que ficam mais tempo internados e precisam de UTI.
Aumentar os leitos de UTI é a equação mais complexa do enfrentamento ao vírus, afirma Caumo. Ainda assim, Lajeado tem avançado. Iniciou a crise com oito leitos exclusivos para covid-19, passou para 13 e agora chegará a 18. Segundo a SES, a ocupação total dos leitos de UTI na cidade é de 76,9%. Outro ponto nevrálgico, na avaliação do prefeito, é manter a população em casa por tantas semanas:
— É um desafio muito grande que as pessoas assimilem a importância do isolamento social na velocidade que o problema exige. Mas temos avanços, como o uso obrigatório de máscaras: 95% da população da cidade utiliza, já é uma mudança cultural impressionante, era inimaginável há poucos dias.
Em cidades da Serra, ocupação em UTI para covid-19 chega a triplicar
Embora não integrem regiões de alerta vermelho, Bento Gonçalves e Caxias do Sul, na Serra, tiveram aumentos significativos de ocupação de leitos de UTI por pacientes contaminados na última semana: Bento aumentou de três para sete e Caxias do Sul, de dois para seis.
O crescimento do diagnóstico em Bento Gonçalves é uma das justificativas para o aumento, na avaliação do secretário de Saúde da cidade, Diogo Seganinazzi Siqueira. De acordo com o Estado, o município tem 24 casos, mas o secretário afirma que, em contagem paralela da prefeitura, este número passa de 90:
— O Estado nos mandou 1,5 mil testes e nós estamos compramos mais 2,6 mil. Não testamos apenas os internados. Em Bento, qualquer pessoa que tenha febre e mais dois sintomas é testado também. Com isso, eu adianto a internação e consigo evitar contaminação. Não dá para ficar esperando teste do governo federal — afirma.