
Depois de um início de mês preocupante, Porto Alegre chegará ao final de abril, na quinta-feira (30), com a ocupação dos leitos de UTI por pacientes com diagnóstico ou suspeita de covid-19 em situação estável.
Até as 12h30min desta quarta (29), a taxa de utilização dos 560 leitos operacionais para tratamento intensivo se mantinha em 8% com uma tendência de equilíbrio no número diário de pacientes. A principal vantagem disso, conforme especialistas, é preservar a rede hospitalar e evitar um aumento na mortalidade por falta de atendimento adequado. A dúvida é como ficará esse cenário após a flexibilização das medidas de distanciamento social.
A situação era bem diferente na semana entre 25 de março e 1º de abril, quando o universo de pessoas com exames positivos ou em análise nas alas de alta complexidade saltou 107% e chegou a 58 doentes — em comparação, nesta quarta havia 46 internados, o equivalente a 20% menos. Se a tendência inicial tivesse se mantido ao longo das semanas seguintes, mais do que dobrando a cada sete dias, o sistema hospitalar da Capital já teria entrado em colapso.
A adoção do distanciamento social, na metade de março, é citada como um dos fatores que contribuíram para apontar essa flecha mais para baixo e abrandar a curva de doentes graves. Duas semanas mais tarde, período em que ainda podem aparecer os sintomas causados pelo coronavírus, a situação começou a mudar. A quantidade de vagas usadas por casos vinculados ao vírus se estabilizou e, ao final da segunda semana de abril, havia recuado 3,6%.
— Ter pouco paciente em UTI é um termômetro muito sensível, e um fator importante para diminuir a mortalidade. Se você trabalha com 50%, 70% de ocupação geral, é muito melhor (para atender os pacientes) do que trabalhar com 98% ou 100%. Isso foi mérito das medidas de prevenção que foram adotadas — analisa o infectologista do Hospital Mãe de Deus Gabriel Narvaez.
Até o começo da tarde de quarta, a taxa de ocupação por pacientes com todo tipo de patologias estava em 69%. Nas últimas semanas, esse índice tem oscilado entre 65% e 70% — embora na sexta-feira (24) tenha batido em 73%.
A estabilidade foi alcançada nas unidades de terapia intensiva apesar do número de exames positivos continuar crescendo em velocidade moderada — cerca de 10% ao longo dos sete dias anteriores a 27 de abril, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde ordenados por data de notificação. Uma das possíveis explicações para isso seria a adoção de cuidados ainda maiores por parte da população mais vulnerável, como os idosos.
O aumento na quantidade de leitos disponíveis ao longo de abril também contribuiu para manter a taxa de 8% de ocupação nas UTIs por casos relacionados ao coronavírus. Eram 525 vagas consideradas operacionais no começo do mês (aptas a eventualmente receber portadores do coronavírus), contra 560 atualmente.
Letalidade de 3,1% na Capital é inferior à do restante do Estado
A vantagem de manter as UTIs desafogadas é garantir um atendimento mais adequado e, assim, evitar uma explosão na letalidade provocada pelo coronavírus.
Conforme os dados disponíveis até a tarde de quarta-feira, quando se mantinha uma folga próxima a 30% nos leitos de terapia intensiva, Porto Alegre registrava uma letalidade de 3,1% — percentual dos casos notificados que terminaram em morte.
É um índice inferior à média do restante do Rio Grande do Sul quando se separam os 14 óbitos e os 443 exames positivos atribuídos à Capital pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) até o fechamento desta reportagem. A contabilidade dos demais municípios gaúchos, excluindo Porto Alegre, indicava 36 mortos em um universo de 925 casos e resultava em um percentual de letalidade de 3,9%. O painel de monitoramento da SES indicava 17 cidades com UTIs acima de 80% de uso.
A diferença se torna ainda mais perceptível quando se compara o dado porto-alegrense com a média nacional de 7%. Entre outras razões para esse abismo está o fato de que em outros locais do país, como no município do Rio de Janeiro, os hospitais já dão sinais de esgotamento. Na terça-feira (28), 97% das vagas em UTIs do SUS estavam em uso no Rio. Com 456 mortes entre 5.554 testes positivos até quarta, a letalidade chegava a 8,2%.