Porto Alegre registra o menor ritmo de crescimento de novos casos da covid-19 entre as 27 capitais brasileiras.
Um levantamento realizado com base em dados das secretarias estaduais de saúde mostra que a cidade gaúcha apresentou uma média diária de 1,1% a mais de pacientes ao longo da última semana em relação ao total de casos — cerca de 4,5 vezes menos do que o padrão nacional. Em compensação, a taxa de letalidade que indica a proporção de mortes no universo de doentes subiu de 2,5% para 3,5% e reforça a necessidade de manter as precauções de distanciamento social sugeridas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Conforme as informações oficiais compiladas pela empresa de ciência de dados de saúde Dataglass e atualizadas até o último domingo (3), nos sete dias anteriores, Porto Alegre teve um crescimento médio diário de cinco novos pacientes com o coronavírus. Isso representa pouco mais de 1% em relação aos 460 casos registrados até então. Em seguida, vêm Cuiabá e Campo Grande, com 1,4%. No outro extremo, o crescimento mais vertiginoso foi documentado em Aracaju (SE), com taxa de 11,3%.
— A comparação da média diária de novos casos com o total de notificações mostra que Porto Alegre está muito bem diante de outras capitais, onde o avanço está sendo muito mais rápido — analisa o professor do Departamento de Matemática Pura e Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Álvaro Krüger Ramos, que vem monitorando os desdobramentos da doença sob o ponto de vista estatístico.
Como resultado dessa desaceleração, os gaúchos melhoraram sua situação no ranking que mostra a incidência do coronavírus entre as capitais. No dia 23 de abril, quando GaúchaZH publicou uma lista do número de casos por cem mil habitantes, Porto Alegre estava na 10ª colocação entre os locais com menor proporção de pacientes – 27 casos por cem mil pessoas. Até o fechamento desta reportagem, o número estava em 31 por cem mil. Como o crescimento porto-alegrense foi moderado em relação a outros lugares, a Capital passou à frente de Maceió, Teresina, Aracaju e Goiânia e ocupa a sexta colocação. Pelo mesmo critério, Campo Grande apresenta a menor incidência, com 15,6 testes positivos por cem mil habitantes, e Recife ostenta a pior proporção, com cerca de 270 por cem mil.
— Não temos informação de como as pessoas aderiram ao distanciamento social em cada lugar, mas é plausível que isso seja fruto das medidas de precaução adotadas pela população em Porto Alegre — avalia o epidemiologista e consultor do Hospital de Clínicas Jair Ferreira.
Outro item importante a ser levado em consideração é o número de UTIs por habitante. Embora Recife tenha uma alta incidência do coronavírus, também conta com uma das maiores redes de leitos em UTI das capitais, com 67,5 vagas por cem mil moradores. Manaus, em contraste, tem 186 casos pelos mesmos critérios, mas apenas 19 leitos.
Por isso, a cidade do Norte vem registrando falta de vagas em hospitais e crescimento caótico no número de mortes sob suspeita de covid-19. Porto Alegre se encontra na quarta melhor posição do país na relação entre leitos de UTI e população, com 56 vagas por cem mil — esses dados levam em conta todo tipo de leito, incluindo especializados e pediátricos.
Secretaria da Saúde afirma que letalidade varia conforme a aplicação de testes
A comparação entre Porto Alegre e as demais capitais demonstra que os gaúchos estão com um ritmo mais lento de disseminação da covid-19, mas também traz um alerta. A letalidade — proporção de doentes com diagnóstico confirmado que morre — aumentou ao longo dos últimos 10 dias e deixou a cidade em uma posição intermediária no ranking nacional.
Em 23 de abril, o equivalente a 2,5% dos pacientes com teste positivo para o coronavírus havia morrido. Os dados atualizados até o domingo (3) mostram que essa cifra subiu para 3,5%, com 16 óbitos em um universo de 460 doentes até então.
No ranking de menor letalidade das capitais, esse patamar deixa Porto Alegre em uma modesta 15º colocação. O diretor de Atenção Hospitalar da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), João Marcelo Lopes Fonseca, afirma que é preciso levar em consideração que a taxa de letalidade, por relacionar o número de mortes com o total de casos confirmados, varia conforme a aplicação dos exames disponíveis. Como Porto Alegre vem testando basicamente os pacientes em situação mais grave a ponto de precisar de hospitalização, isso cria uma base de comparação mais restrita e em situação de saúde mais complicada do que aqueles portadores do vírus que não chegam a procurar a rede de atendimento.
— Com a ampliação prevista no número de testes, essa taxa de letalidade deverá cair — argumenta Fonseca.
Outros fatores também podem contribuir para essa proporção negativa. Porto Alegre conta, por exemplo, com percentual de idosos na população superior ao de outras cidades. Cerca de 15% dos moradores têm mais de 60 anos — faixa etária mais vitimada pela pandemia. Em Boa Vista, que tem a menor taxa de letalidade (1,3%), apenas 5% dos habitantes são idosos. O epidemiologista Jair Ferreira lembra ainda que, no início de pandemias, primeiro se acumula um determinado número de casos graves, e somente depois de alguns dias ou semanas as pessoas começam a morrer — o que costuma gerar uma elevação nos índices de letalidade. Depois, essa cifra tende a se estabilizar.
Na média de todo o país, incluindo capitais e demais municípios, esse índice estava em 6,9% na tarde desta segunda-feira (4). Serve como alerta para a manutenção das medidas de precaução contra a transmissão do coronavírus.