As conclusões da segunda etapa da pesquisa que verifica a presença do coronavírus na população gaúcha estimam que 15 mil pessoas já tenham sido infectadas pelo sars-cov-2 no Rio Grande do Sul.
Conforme dado oficial, até a manhã desta quarta-feira (29), havia 1.350 casos notificados no Estado. O levantamento indica que para cada caso registrado há 12 que não chegaram ao conhecimento das autoridades. O resultado da nova etapa da pesquisa coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) foi apresentado nesta manhã pelo governador Eduardo Leite.
O número de 15 mil se refere a pessoas que tenham tido contato com o vírus – tendo ou não os sintomas da doença – e tenham desenvolvido os anticorpos para a covid-19. Isso porque o teste usado no levantamento é o rápido, o que detecta dois tipos de anticorpos no organismo. O levantamento aponta que há uma pessoa infectada a cada 769 habitantes. Na primeira fase, a estimativa era de um infectado para cada 2 mil pessoas.
O coordenador-geral da pesquisa, o epidemiologista e reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, explica que "apesar de a diferença entre os resultados da primeira fase (5,6 mil) e da segunda fase 2 (15 mil) estarem dentro da margem de erro, parece haver uma tendência de aumento" no número de infectados.
A estimativa hoje mostra possíveis 15 mil pessoas que já tenham tido contato com a covid-19, mas levando em conta a margem de erro, o número pode ser entre 5,6 mil e 32,7 mil.
O dado relativo ao isolamento social indica que aumentou o número de pessoas que saem de casa diariamente. No primeiro turno de entrevistas, 20,6% dos participantes iam para as ruas todos os dias. Agora, o percentual subiu para 28,3%. Isso se traduz no movimento que tem sido percebido nas ruas nos últimos dias em várias cidades do estado, até com casos de aglomerações. O percentual de quem fica em casa o tempo todo caiu: de 21,1 para 18,3%.
Segundo os questionários aplicados pelos entrevistadores, as cidades com maior percentual de pessoas que afirmam sair de casa todos os dias são Ijuí, Passo Fundo e Santa Cruz do Sul. Porto Alegre é o local onde as pessoas dizem estar saindo menos para as ruas.
O trabalho tem como base entrevistas e aplicação de testes rápidos para identificar anticorpos para a covid-19 em 4,5 mil pessoas de nove cidades. As coletas foram feitas entre os dias 25 e 27 de abril. Quando for concluído, na última semana de maio, o estudo terá testado cerca de 18 mil pessoas no Estado.
Um dado novo em relação à fase anterior é o de capacidade de transmissão do vírus em ambientes domésticos. Os entrevistadores identificaram seis pessoas com teste positivo, das quais uma morava sozinha. Nas casas das outras cinco foram submetidos a exames 12 familiares e 75% deles também tiveram resultado positivo.
O coordenador-geral da pesquisa destaca que a prevalência da covid-19 na população ainda é baixa, o que reforça a necessidade de aumentar a capacidade de testagem na população e a "busca ativa":
— É preciso fazer a busca pelos infectados e a sua rede de contatos para impedir a propagação do vírus.
A taxa de letalidade oficial no Estado hoje é de 3,6%. Com base nas estimativas, a pesquisa revela que a real taxa seria de 0,33%.
Depois de planejado no Rio Grande do Sul, por iniciativa do governo, por meio da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão, o estudo foi encomendado pelo Ministério da Saúde. A etapa nacional tem previsão de começo para o dia 5 de maio. Entrevistas e testes serão aplicados em 133 cidades atingindo 99,7 mil pessoas. O trabalho nacional será financiado pelo Ministério da Saúde. No Estado, o trabalho foi pago pela Unimed Porto Alegre, Instituto Cultural Floresta e Instituto Serrapilheira, do Rio.
No Estado, as próximas duas etapas de exames e entrevistas ocorrerão de 9 a 11 e de 23 a 25 de maio. Os pesquisadores comemoram o sucesso desta segunda fase, já que foi possível atingir a meta de 4,5 mil participantes. Na primeira etapa, as pessoas tiveram mais resistência em deixar os entrevistadores entrarem nas casas.
Como é feito o estudo
- O levantamento é feito nas oito regiões intermediárias do Rio Grande do Sul, segundo critério do IBGE: Pelotas, Santa Maria, Uruguaiana, Ijuí, Passo Fundo, Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul/Lajeado e região metropolitana de Porto Alegre. O resultado que for encontrado, com uma margem de erro muito pequena, representará o resultado real que seria obtido se fosse possível investigar toda população do Estado, mesma lógica da pesquisa eleitoral.
- A pesquisa incluirá quatro inquéritos populacionais (quatro etapas) realizados a cada duas semanas, em visitas domiciliares, quando os participantes serão submetidos a um teste rápido para o vírus da covid-19. A cada etapa, serão testadas novas pessoas.
- Ao todo, serão aplicados 18 mil testes — 4,5 mil por rodada de exames, com distribuição de 500 por cidade e mil para a região metropolitana de Porto Alegre.
- Os kits de testes serão fornecidos pelo Ministério da Saúde.
O que o estudo responderá
- A três perguntas científicas prioritárias: qual percentual de infectados no Estado? Quão rápido a infecção está se alastrando por meio da comparação ao longo do tempo? Qual percentual de infectados que não desenvolvem sintomas?
- Com as respostas sustentadas por dados reais, será possível avançar para mais três questões: qual a letalidade real da doença, ou seja, do total de pessoas que pegam o vírus, quantas vão morrer? Qual percentual dos infectados que vai precisar de atenção hospitalar importante, com internação em UTI e uso de respiradores?
- Fornecerá informações para discussão e decisão sobre o isolamento