A pesquisa inédita que mostrou os primeiros resultados da prevalência do coronavírus na população gaúcha começará a ser aplicada em todo país, com meta de testar para anticorpos do vírus 99,7 mil pessoas em 133 cidades. O trabalho, coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), será financiado pelo Ministério da Saúde e está orçado em R$ 12 milhões.
A expectativa é de que o trabalho tenha início na próxima semana. Com a ampliação do estudo para o Brasil, o Rio Grande do Sul terá um ganho: além das 18 mil pessoas testadas na pesquisa local, haverá mais 6 mil entrevistados pelo levantamento nacional.
No Estado, a primeira etapa de quatro já teve resultados. Na semana passada, foi apresentada pela UFPel uma estimativa de que há 5,6 mil pessoas infectadas pelo coronavírus no Rio Grande do Sul. Os dados oficiais, a partir de casos notificados, mostram apenas 871 infectados. A pesquisa, inédita no mundo, foi encomendada pelo Governo do Estado.
No país, o trabalho terá três etapas (chamadas de inquéritos populacionais) com intervalo de 15 dias entre cada uma. Em cada inquérito serão ouvidas e testadas 33.250 pessoas.
O Ibope foi contratado pela UFPel para fazer as entrevistas e aplicar os testes rápidos para covid-19 nos sorteados. O teste que será usado no estudo é o que identifica se a pessoa tem anticorpos para o coronavírus, feito a partir de uma gota de sangue coletada de um dedo. Para que os anticorpos sejam detectados, é preciso que a infecção esteja em estágio mais avançado.
Em cada inquérito, serão submetidas ao exame 5,5 mil pessoas na Região Norte, 10,5 mil na Nordeste, 3.750 na Centro-Oeste, 8.250 na Sudeste e 5.250 na Sul.
– O estudo será o maior já realizado até hoje no mundo sobre a prevalência de imunizados na população, especialmente pela característica de incluir várias fases e possibilitar a avaliação da velocidade de disseminação do vírus - destacou o epidemiologista Pedro Curi Hallal, que é reitor da UFPel e coordenador da pesquisa.
As próximas etapas de entrevistas no Estado estão previstas para ocorrer no próximo final de semana e segunda-feira (de 25 a 27 de abril) e, depois, de 9 a 11 de maio e de 23 a 25 de maio.
– É fundamental contarmos com dados epidemiológicos precisos para a tomada de decisão frente à pandemia de covid-19. Com o inquérito nacional teremos informação a respeito da distribuição e da velocidade da epidemia em todo território nacional. Com isso, será possível preparar melhor o sistema de saúde, assim como planejar melhor a intensidade das medidas populacionais relacionadas ao isolamento e distanciamento social - diz Erno Harzheim, secretário de atenção primária do Ministério da Saúde.
Os objetivos do estudo nacional
- Estimar o percentual de brasileiros infectados com o SARS-CoV-2
- Determinar o percentual de infecções assintomáticas ou subclínicas
- Avaliar os sintomas mais comumente relatados pelos infectados
- Analisar a evolução quinzenal da prevalência de infectados no país
- Obter cálculos precisos da letalidade da doença, através das estimativas do percentual de infectados
- Estimar recursos hospitalares necessários para o enfrentamento da pandemia, de baixa, média e alta complexidade, por modelagem matemática, a partir das estimativas de prevalência obtidas
- Permitir o desenho de estratégias de abrandamento das medidas de isolamento social, com base nas estimativas obtidas.