Se você é atleta, ex-atleta ou pratica esportes regularmente, isso não significa que está protegido de ter complicações provocadas por infecção do coronavírus. Em declaração feita em rede de TV na noite da terça-feira (24), o presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou que, por ter histórico de atleta, se fosse contaminado, sofreria apenas com uma gripezinha. Mas essa informação não procede.
Especialistas confirmam que uma pessoa com boa saúde e boa imunidade tem melhores condições de reagir à doença, mas isso não significa que o caso não possa se agravar.
— Em se tratando do quadro do coronavírus, não tem como afirmar que um ex-atleta ou um atleta estão mais protegidos. Eles podem ter um sistema imune mais preparado para combater processos infecciosos, o que não quer dizer que estão imunes à doença e que não possam adoecer e até vir a morrer — diz Rosemary Petkowicz, médica do esporte e coordenadora do departamento médico do Grêmio Náutico União.
A médica alerta que o fato de alguém ter sido atleta garante a existência do que se chama de "memória muscular", mas que se a rotina de exercícios não for mantida, as condições do treinamento vão se perdendo, ou seja, não existe "poupança de exercício":
— Mas digamos que a pessoa tenha mantido os exercícios e, portanto, tenha um sistema imune melhor. Com o exercício, o corpo aprende a aumentar a produção de enzimas antioxidantes para enfrentar esse estresse oxidativo, então, quando surgirem outras situações estressantes, como a doença, já vai ter aporte melhor de enzimas para combatê-lo.
Sem evidências científicas
Para o médico Alexandre Schwarzbold, presidente da Sociedade Riograndense de Infectologia, não há nenhuma evidência científica no que Bolsonaro afirmou. Segundo o médico, dados epidemiológicos mundiais mostram que a população jovem e sadia, não somente atletas, tem evolução mais favorável no combate à covid-19.
— Mas isso não é uma verdade em si, pois temos casos de jovens mortos pela doença. No caso do presidente, tem a questão de ele ser de grupo de risco por ter mais de 60 anos. O fator etário conta mais do que qualquer histórico como atleta. Mesmo uma pessoa saudável e com boa memória física, com um ou dois dias de infecção aguda, esse histórico se perde — disse o infectologista.
Quanto mais saudável a pessoa for, mas imunidade tem. A máxima, que é comprovada cientificamente, conforme o traumatologista e ortopedista Uronal Zancan, não confirma, porém, as afirmações de Bolsonaro.
— Mesmo um ex-atleta pode ter baixa imunidade e ficar doente. Mas se ele mantém atividade atlética, pode manter a imunidade. Qualquer um que fizer exercícios, controlar a alimentação e o estresse terá mais imunidade que qualquer ex-atleta da Sogipa que tenha abandonado o esporte — atesta Zancan, que é diretor do departamento médico da Sogipa.
O traumatologista explica que a partir dos 30 anos a pessoa começa a perder saúde:
— Se não continuar treinando, a pessoa vai perdendo força, capacidade cardiovascular e resistência. A pessoa mais imune ao vírus não é aquela que é atleta ou não, mas sim a que tem saúde e imunidade.