A pequena Vila Flores, na Serra Gaúcha, ficou em pânico na semana passada quando surgiu uma suspeita de contaminação por coronavírus no município. Para o alívio dos 3,3 mil habitantes da cidade, o caso foi descartado, mas o temor de que a covid-19 chegue até a comunidade de tradições italianas ainda atormenta moradores.
— O caso suspeito na semana passada gerou um certo pânico. Por isso, nas minhas manifestações, tenho pedido calma e serenidade para que a população não fique apavorada. Estamos fazendo um trabalho de conscientização que tem dado resultado: as pessoas estão ficando em casa mesmo. Estamos muito preocupados — afirma o prefeito Vilmor Carbonera.
Assim como muitos municípios de pequeno porte, Vila Flores não possui respiradores, hospital e pronto-atendimento. Em uma situação de agravamento da doença, não tem como internar pacientes. Acompanhando centenas de outras prefeituras, decretou estado de calamidade pública. Um levantamento realizado por uma força tarefa da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) aponta que 269 cidades já decretaram situação de calamidade pública e outras 74 estão em situação de emergência devido ao coronavírus, o que representa 69% dos 497 municípios do Rio Grande do Sul.
Esses decretos permitem que os municípios tenham mais flexibilidade nos gastos, prestação de contas e agilidade na compra de equipamentos. Outros 79 municípios, que representam 16% do Estado, emitiram decretos com medidas de prevenção e orientação. Apenas 15% das cidades gaúchas não publicaram decretos por conta do surto de coronavírus. Até o último relatório epidemiológico publicado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), na terça-feira (24), 35 cidades do RS registravam casos positivos de covid-19, o que representa 7% dos municípios gaúchos.
Dependência de leitos referenciados
Para pequenos municípios, a preocupação se multiplica devido à falta de estrutura mínima para atender pacientes em estado grave. Muitas dessas comunidades dependem de leitos em hospitais regionais, que também atendem diversos outros municípios. Como é o caso de Vila Lângaro, no Norte do Estado. A cidade de 2 mil habitantes, que tem dois casos suspeitos da doença, tem seus leitos referenciados em Passo Fundo e Tapejara.
O caso suspeito na semana passada gerou um certo pânico. Por isso, nas minhas manifestações, tenho pedido calma e serenidade para que a população não fique apavorada. Estamos fazendo um trabalho de conscientização que tem dado resultado: as pessoas estão ficando em casa mesmo. Estamos muito preocupados.
VILMOR CARBONERA
Prefeito de Vila Flores
— Nosso grande temor é não poder atender os casos mais graves. Não temos equipamentos para atender — explica o secretário de Saúde, Giovani Sachetti.
Para casos menos graves, a prefeitura dispõe de equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) que acompanham os pacientes em suas residências. Com grande população idosa, o município, que também está na lista dos que decretaram estado de calamidade, tem apenas farmácia e postos de gasolina funcionando.
— A população está com medo. Circula muita fake news que apavora ainda mais o pessoal, coisas descabidas que geram pânico — lamenta Sachetti.
O prefeito de Taquari e vice-presidente de Famurs, Emanuel Hassen de Jesus, afirma que o momento é de muita apreensão:
— O sofrimento é de todos os municípios, mas a angústia maior é nas cidades pequenas e médias que não têm instrumento hospitalar para tratar. Município pequeno não tem hospital e, se tem, não tem leito adequado. Tem que correr para levar para a cidade de referência. Como vai atender um caso grave?
O sofrimento é de todos os municípios, mas a angústia maior é nas cidades pequenas e médias que não têm instrumento hospitalar para tratar. Município pequeno não tem hospital e, se tem, não tem leito adequado. Tem que correr para levar para a cidade de referência. Como vai atender um caso grave?
EMANUEL HASSEN DE JESUS
Vice-presidente da Famurs
Por isso, Hassen defende que as cidades adotem medidas de restrição máxima e reforcem o pedido para que as pessoas não saiam de casa:
— A grande tarefa é estender a curva de contaminação e evitar o acúmulo de pacientes nos hospitais.
"Tempos difíceis pela frente"
Também no Norte do Estado e com decreto de calamidade em vigor, Victor Graeff está com as ruas vazias, sem crianças brincando fora de casa, descreve o prefeito Claudio Alflen. Carros de som circulam reforçado o apelo para que as pessoas não saiam de suas residências e muitos mercados se propõem a entregar as compras para que os clientes não precisem colocar o pé para fora da porta. O município conta com um pronto-atendimento, mas não pode internar pacientes. Casos de urgência devem ser enviados a Não-Me-Toque.
— Não temos estrutura, não temos profissionais que tenham especialização para lidar com esta situação anormal. O nosso grande objetivo é que essa doença não chegue até aqui. A resposta aos nossos decretos foi muito boa. O clima é de medo. É algo novo que nunca passamos. Além disso, ainda sofremos com a estiagem, 77% da nossa economia é ligada à agropecuária. Teremos tempos difíceis pela frente — prevê o prefeito.