Quando se fala na Finlândia, sobra senso comum sobre o país nórdico da Europa. Sobre o local, a fama transita entre Lapônia, a terra do Papai Noel, mas o foco é a notícia de que, pelo sétimo ano consecutivo, a nação é considerada a mais feliz do mundo.
O resultado do relatório patrocinado pela Organização das Nações Unidas (ONU), no entanto, não foi o principal motivo que levou o casal Marcelo Miranda Becker, 37 anos, e Isadora Gasparin, 34, ao país, mas a credencial ajudou. Por lá desde 2023, eles lançaram o blog O que a Finlândia tem, que conta mais sobre o país e suas curiosidades.
Juntos desde 2010, o jornalista e a pesquisadora fizeram as malas para Turku, cidade a 150 quilômetros da capital Helsinque, assim que uma oportunidade bateu à porta em Porto Alegre.
— Como doutoranda em Administração, conheci umas pessoas daqui quando morávamos no Brasil e passamos a trabalhar juntas. Quando surgiu a chance de fazer um doutorado-sanduíche (parte da pesquisa no exterior), decidimos vir — conta Isadora, que já dividia com o marido o sonho de viver em outro país.
A escolha para o dia da mudança não podia ser mais simbólica: 1° de janeiro de 2023. O primeiro impacto foi o térmico.
— Saímos de um calor porto-alegrense de mais de 30° graus para uma temperatura negativa. No segundo dia, foi a primeira vez que vi neve na vida. Mas, tínhamos nos informado bastante antes sobre o clima e como se vestir apropriadamente — diz Isadora, como uma dica a futuros viajantes interessados.
O casal precisou recorrer ao idioma inglês, bastante difundido no país pela dificuldade de estrangeiros em conversar na língua local.
— Estamos no segundo semestre de estudos do finlandês, mas ainda não estamos confortáveis de trocar mais que duas palavras, a não ser em situações como em um restaurante, por exemplo, quando me arrisco — reconhece Marcelo.
Lá vem o sol
Um fenômeno que chamou muito a atenção do casal foi a luminosidade solar no país. Por conta da proximidade com o Polo Norte, há dias com, no máximo, cinco horas de exposição solar no inverno, isso se não estiver nublado.
— Chegamos a ficar quase duas semanas sem um dia ensolarado, difícil de um brasileiro se acostumar — lembra o jornalista.
O outro lado da moeda, como diz Marcelo, é a primavera e o verão finlandeses e suas quase 19 horas de luz solar diárias, que trazem uma sensação que justifica a liderança da Finlândia no ranking de bem-estar da ONU.
— Parece que dá um ânimo nas pessoas de estarem na rua, muitas mesas nas calçadas, parece que a cidade e o país se enchem de vida. O conceito de felicidade, neste caso, diz mais respeito à satisfação com a própria vida. É difícil associar o estereótipo finlandês médio a alguém feliz e radiante. Eles são mais retraídos, mas são contentes com a sua realidade — analisa o jornalista.
Belezas naturais
Cercada por um arquipélago, a cidade de Turku tem uma série de paisagens incomuns ao imaginário de um brasileiro sobre o país nórdico. Na foz do Rio Aura, próximo ao Mar Báltico e o Golfo de Bótnia, que separa a Finlândia da Suécia, há balneários e recantos acessíveis somente de barco.
— Foi impactante ver tudo isso e mudou a minha perspectiva sobre o que é bonito e agradável de se fazer. São visões deslumbrantes — descreve Marcelo.
No entorno de museus e universidades, há parques e 70% de florestas preservadas, bastando uma caminhada de cerca de 20 minutos para que o centro urbano se encontre com a natureza. O casal gaúcho se locomove basicamente a pé ou de bicicleta, sem a necessidade de adquirir um carro em 15 meses de vida em Turku.
Clichês, mas não tanto
Marcelo e Isadora foram à região da Lapônia, no norte da Finlândia, em um final de semana, na intenção de presenciarem a autora boreal. O fenômeno que forma luzes coloridas no céu e só acontece no Hemisfério Norte é atração turística no país. No primeiro dia, as nuvens não deixaram, mas o dia de despedida valeu a visita, segundo a pesquisadora.
— Estávamos próximos de um lago congelado e foi algo maravilhoso de ver, lindo e surpreendente. As pessoas em volta se empolgavam com o que assistiam, foi uma experiência muito legal — lembra a gaúcha, que indica os meses de fevereiro e março como os melhores para acompanhar o fenômeno pelas condições climáticas.
Chamada de "terra do Papai Noel", a Lapônia atrai pessoas de todas as partes do mundo a partir da mitologia acerca da origem do "Bom Velhinho". Os visitantes podem fazer passeios de trenó puxados por cachorros e dar uma conferida em uma fazenda de renas, oficina de elfos e a casa da Mamãe Noel, na cidade de Rovaniemi, capital da Lapônia.
No local, o Noel tem um escritório: ele vive ao lado de uma agência que recebe cartinhas de pedidos de presente do mundo todo.
Um convite a visitas
A ideia do blog foi natural ao casal, principalmente, para o jornalista, afeito a escrever histórias. Ele já tinha começado outro espaço virtual, o Marcelo no País da Felicidade. Incentivados por amigos e familiares, nasceu O que a Finlândia Tem.
— Além de compartilhar nossas experiências, é uma forma de fazer com que as pessoas conheçam mais sobre o país e possam considerar como destino, um lugar não muito pensado pelos brasileiros como alternativa — diz Isadora.
— Se conseguirmos trazer a Finlândia para mais perto das pessoas, estaremos satisfeitos e com nossa missão cumprida. A gente brinca que um motivo muito egoísta é convencer as pessoas a virem nos visitar — sorri Marcelo.
Quanto custa para ir?
As viagens com saída de Porto Alegre duram, em média, 26 horas, mas o tempo de voo pode variar de acordo com o roteiro escolhido, que pode ter duas ou três conexões. Antes de chegar à Europa, o passageiro deverá passar por São Paulo ou Rio de Janeiro — com exceção a quem optar por direto a Lisboa, em Portugal, pela TAP.
De qualquer forma, para chegar a Helsinque, o viajante ainda faz uma escala em uma cidade europeia, como Paris, Londres ou Frankfurt, por exemplo. Os valores também podem variar, entre R$ 4,5 mil e R$ 13 mil por pessoa, dependendo da antecedência do pacote adquirido e dos pontos de parada. Sites como Decolar, Google Flights e SkyScanner ajudam o turista a escolher a melhor forma de economizar.
— Custa um pouco para viajar até a Finlândia, mas é caro ir para a Europa, de modo geral. No nosso caso, ainda tem mais duas horas de Helsinque a Turku, mas vale a pena — comenta Marcelo.
Curiosidades sobre a Finlândia
- Turku é a cidade mais antiga do país e a primeira capital
- Em 2010, decretou acesso à banda larga com conexão de, no mínimo, 1 Mb/s como um direito básico de seus cidadãos
- O governo finlandês é quem controla a importação e venda no atacado das bebidas alcoólicas no país. Por isso, nem todo restaurante ou supermercado pode comercializar
- Finlandeses têm um hábito um pouco incomum: o "kalsarikännit", que significa ficar em casa, bebendo e vestindo apenas roupas de baixo
- A carne de rena é uma iguaria exótica apreciada pelos finlandeses, mas de preço mais caro
- Os finlandeses são a população com o maior consumo de café per capita em todo o mundo, o que faz desse o principal produto de exportação brasileiro para lá
- O escritor J. R. R. Tolkien se inspirou no finlandês ao criar o quenya, um dos idiomas élficos do universo de O Senhor dos Anéis
- Palavra de origem finlandesa, a sauna foi criada no país. A prática é uma tradição, semelhante às churrasqueiras no RS, poucas são as residências que não possuem uma
- Nunca disputou uma Copa do Mundo de futebol. O esporte preferido pela população é o hóquei
- Possui apenas 18 habitantes por quilômetro quadrado, a menor densidade populacional de toda a Europa
- Segundo o Itamaraty, são estimados 2,3 mil brasileiros no país