Com o avanço da variante Ômicron ao redor do mundo, em muitas regiões do país, não será nesta virada de ano que a população vai matar a saudade das festas de Réveillon organizadas pelas prefeituras. Entre as capitais, a maioria já bateu o martelo e não irá realizar eventos. A lista inclui Porto Alegre, Florianópolis, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. As festividades também foram canceladas no Distrito Federal.
No início deste mês, em uma rede social, o prefeito Sebastião Melo anunciou o cancelamento da tradicional festa realizada ao lado da Usina do Gasômetro.
"Diante da incerteza sobre a nova variante do coronavírus, a Ômicron, definimos pelo cancelamento da festa de Réveillon na orla do Guaíba, junto à Usina do Gasômetro. É uma medida de cautela, em um cenário impreciso quanto à dimensão e ao potencial de gravidade", escreveu o prefeito em seu perfil no Twitter.
No litoral norte do Estado a medida também foi adotada. Em uma nota conjunta, Torres, Capão da Canoa, Osório, Arroio do Sal, Cidreira e Terra de Areia anunciaram que não irão promover shows musicais durante a virada do ano, por motivo de "cautela em relação à pandemia". Tramandaí também cancelou as festividades.
Torres, que prevê receber 500 mil pessoas na virada do ano, vai realizar a tradicional queima de fogos à beira mar. O evento também prevê a realização de uma contagem regressiva. A mesma medida foi adotada pela prefeitura de Capão da Canoa, que já tem a maior parte dos hotéis e pousadas reservada para o final do ano. Já a prefeitura de Imbé está prevendo a realização de shows ao vivo, mas não irá promover a queima de fogos.
Na Serra, a prefeitura de Gramado anunciou na quarta-feira (22) que não irá realizar a queima de fogos e nem shows durante a virada do ano.
Segundo um levantamento feito pela Confederação Nacional de Municípios, pelo menos 64% das cidades do país cancelaram as festas públicas. Para a realização do estudo, 2,6
mil prefeitos foram entrevistados.
Especialistas avaliam medidas
Na quarta-feira (22), a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a solicitar que os governos limitem os eventos com multidões e disse já ter evidências concretas de que a nova cepa se propaga mais rápido do que a Delta.
Para André Luiz Machado da Silva, 44 anos, médico infectologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição, os eventos públicos de final de ano ainda são arriscados, uma vez que nas aglomerações não há como saber o histórico vacinal ou condição clínica dos participantes desconhecidos.
— Avalio como pertinente, positivo, necessário o cancelamento dos eventos, além de medidas de estímulo ao uso de máscaras e para que as pessoas tomem sua terceira dose — destaca.
Para ele, o ideal é, caso a prefeitura local não tenha cancelado as comemorações de final de ano, deixar o Réveillon para outro ano. Ainda, relembra que em 2020 muitas pessoas deixaram de abraçar seus familiares, quando ainda não havia vacina contra a covid-19 disponível.
— Hoje, com a vacinação adequada no Brasil temos a possibilidade de nos reunirmos com os familiares, mas um passo de cada vez. Sair dos ambientes familiares e se aglomerar com pessoas em festas é um tanto temerário, podendo colocar a saúde dos familiares mais idosos em risco — diz o infectologista, reforçando que o ideal é não ir nestes eventos.
Outro fator também precisa ser levado em conta quando se trata das festividades: o avanço da influenza do tipo A-H3N2, com uma vítima e outros 23 infectados detectados até agora no Estado. Diante disso, os cuidados para quem decide participar de celebrações de final de ano devem ser reforçados, mesmo que em ambiente aberto: a máscara não deve ser deixada de lado, e o distanciamento social ainda precisa ser respeitado.
Ainda assim, o epidemiologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry avalia que, na maior parte das vezes, essas medidas não são seguidas pelas pessoas nas comemorações.
— Estes eventos não são seguros, infelizmente. Porque nesses momentos a gente sabe que as pessoas deixam de lado as máscaras porque bebem, se alimentam. Mesmo em locais abertos, que é melhor que um local fechado, quando há aglomeração ele também traz risco — avalia.
Europa em estado de alerta
Neste final de ano, países da Europa estão adotando uma série de medidas para conter o avanço da covid-19 na região. A Holanda é o país que adotou as medidas mais restritivas: foi decretado lockdown até 14 de janeiro. Durante as celebrações de final de ano, os holandeses poderão receber até duas pessoas em suas casas, com exceção para o dia de Natal (25).
Paris cancelou a tradicional festa de Réveillon na Avenida Champs-Elysées, e outros eventos na França foram proibidos. O governo recomenda que, mesmo vacinados com duas doses, os cidadãos se submetam a testes de covid-19 antes de comparecer a encontros familiares.
Na Alemanha, a partir do dia 28 o número de pessoas que poderão comparecer a reuniões privadas estará limitado a 10 pessoas vacinadas — entre não vacinados, o número cai para duas. Já na Itália, o concerto de Ano-Novo no Circo Máximo foi cancelado pela prefeitura de Roma. Outras cidades, como Veneza e Pádua, proibiram a queima de fogos de artifício.
Pelo segundo ano consecutivo, Londres também não terá queima de fogos à beira do Rio Tâmisa, uma medida que foi adotada antes mesmo do surgimento da Ômicron. Em vez disso, o município estava planejando fazer um evento menor na Trafalgar Square, mas diante do cenário incerto trazido pela nova variante, a programação também foi cancelada. Portugal, por sua vez, antecipou as restrições e já fechou discotecas e bares, medida que deve valer até 10 janeiro, com uma avaliação no dia 5.