A essa altura do ano passado, o Natal se aproximava com alguma esperança frente a pandemia de covid-19, com a vacinação começando em algumas partes do mundo, em especial na Rússia, no Reino Unido e no Chile – o Brasil só aplicaria a primeira dose em janeiro de 2021. O país só engrenaria mesmo alguns meses depois.
2021 foi o ano em que a imunização se espalhou pelo mundo, embora em algumas regiões do globo isso tenha ocorrido aos trancos e barrancos por problemas de governo, disputas comerciais e ideológicas, dinâmicas produtivas e gargalos logísticos – sem falar das resistências de negacionistas.
Há ainda inúmeros desertos de vacina na África e na Ásia. Basta olhar os vazios no mapa-múndi divulgado em tempo real pela Universidade de Oxford (no site One World in Data). Em outras palavras, locais prontos para se tornarem viveiros de novas variantes do coronavírus.
Nesta terça-feira, o presidente Joe Biden anunciou novas medidas para combater a Ômicron. Entre as ações, estão a compra de meio bilhão de testes rápidos, apoio de militares e envio de equipes aos Estados de Arizona, Indiana, Michigan, New Hampshire, Vermont e Wisconsin. Os três eixos do plano são: aumentar o apoio federal a hospitais, ampliar acesso dos americanos a testes grátis e expandir o número de centros de imunização contra a covid-19.
Nas entrelinhas, está claro que apenas a vacinação não será suficiente para vencer o coronavírus. Mais: segundo The New York Times, um crescente corpo de pesquisas preliminares sugere que os imunizantes mais utilizados no mundo – de AstraZeneca, Johnson & Johnson e os fabricados por China e Rússia – quase não oferecem defesa contra a infecção pela nova variante. O ponto positivo é que todos ainda fornecem um grau significativo de proteção contra formas graves da doença causadas pela Ômicron. Mas apenas os produtos da Pfizer e da Moderna, quando completadas por uma dose de reforço, parecem ter sucesso inicial para barrar as infecções. A maioria das evidências até agora se baseia em experimentos de laboratório, que não capturam toda a gama da resposta imunológica do corpo e não rastreiam o efeito em populações do mundo real. Mais, ainda assim, os resultados são preocupantes.
A Europa, que já adota novas medidas de restrição de deslocamento e seus moradores retiram as máscaras das gavetas, viverá um Natal sem festas na maioria das cidades e um Ano-Novo sem abraços, em uma preocupante reprise de 2020 – Portugal, por exemplo, antecipou restrições e fechou discotecas e bares. Antecipou a medida porque, no ano passado o país relaxou as regras e viu, em janeiro, o número de casos explodir.
Começamos 2021 com a esperança de que a vacina nos traria de volta algum grau de normalidade. Mas, a se observar a chegada do inverno nos EUA e do outro lado do Atlântico, o encerramos sob o fantasma da Ômicron. Que pena.