De portas fechadas desde o começo da pandemia, o Hotel Samburá, localizado na beira-mar de Imbé, aproveitou o embalo dos feriados do segundo semestre para retomar as atividades. A expectativa para a temporada que se aproxima é grande e, por conta disso, o estabelecimento já se adequou para receber os hóspedes com segurança.
Álcool gel, termômetros, uso de luvas para servir-se no bufê de café da manhã e distanciamento entre as mesas são algumas das medidas estabelecidas para evitar a contaminação pelo coronavírus. Por ora, piscina e churrasqueiras permanecem fechadas. Nas áreas comuns, os turistas são orientados a circular somente usando máscara, mesmo que estejam em deslocamento até a praia.
— A maioria respeita, mas sempre tem um ou outro que não — conta Taisson Colombo da Silveira, proprietário do hotel.
O Litoral Norte conta com cerca de 22 mil leitos em mais de 20 praias. Para os meses que estão por vir, a expectativa é grande — respeitando, claro, as regras de capacidade máxima determinadas pela bandeira vigente do sistema de distanciamento controlado do governo estadual.
Na mesma batida dos hotéis e pousadas, as imobiliárias preveem movimento acima da média para a temporada. Embora a procura por imóveis no Litoral Norte seja comum no período, o que se observa este ano é uma busca atípica por estadias desse tipo, diz Alexandre Prudencio, presidente da Associação das Empresas Imobiliárias e Corretores de Imóveis de Xangri-Lá (Associx).
— Nesta época do ano, sempre havia opções disponíveis para locação. Agora, está tudo comprometido. Empresas que trabalham com locação estão atrás de alternativas para atender todos os clientes — conta Prudencio, que, apesar de representar apenas entidades de Xangri-Lá, diz que a percepção de lotação se estende por todos os municípios.
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O fechamento das fronteiras com o Uruguai, destino costumeiro de gaúchos no fim do ano, e o temor de fazer viagens de avião são algumas das razões para essa procura exorbitante por hospedagens no Litoral Norte, palpita o presidente da Associx.
Como o verão 2020/21 promete ser excepcional, GZH criou um formulário para receber as dúvidas dos leitores sobre férias em meio à pandemia. Pelo volume de perguntas, na primeira seleção, escolhemos o tema hospedagem e alimentação.
Entre as dúvidas dos leitores estavam as do analista de sistemas Felipe Pellegrini, 39 anos. Integrante de grupo de risco, ele deseja ir para o Litoral, contudo, quer se certificar de todos os cuidados que os meios de hospedagem estão tomando para garantir a segurança. Ele tem dúvidas sobre higienização dos locais comuns, como o ambiente em que o café da manhã é servido, e também sobre como as equipes estão trabalhando durante o período.
— As camareiras, por exemplo, que entram no quarto, estão usando máscara, luvas? — questiona.
Pellegrini está de olho nas acomodações, no entanto, ainda não bateu o martelo se vai viajar ou permanecer em Porto Alegre. Para ele, ir para o Litoral demandaria cuidados extras:
— Não sei se vou acabar indo. Tenho receio, embora já tenha ido em restaurante na Capital.
Sem viajar por um longo período em razão da pandemia, a professora Vera Deicke, 65 anos, retomou as saídas em setembro e voltou a frequentar meios de hospedagem, como hotéis. Por esse motivo, tem dúvidas sobre as roupas de cama e travesseiros disponibilizados pelos estabelecimentos.
— No nosso Litoral temos casa, então está tudo dentro das condições necessárias. Só tinha incerteza sobre esses momentos em que saímos — contou enquanto se deslocava para Garopaba, em Santa Catarina.
As dúvidas de Pellegrini, de Vera e de outros leitores você vê a seguir:
Como escolher a hospedagem mais segura?
Pergunta enviada por Luis Gustavo Crus da Silva, de Canoas.
A recomendação é que os turistas se certifiquem de que o local onde planejam se hospedar segue as regras sanitárias determinadas, como medição de temperatura, oferta de álcool gel, uso de máscaras em ambientes compartilhados. Também é fundamental observar se o local obedece à capacidade máxima de pessoas estabelecida por decreto e como organiza os ambientes, como o do café da manhã, por exemplo.
A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do RS (Abihrs) trabalha para apoiar os estabelecimentos para receber os turistas com toda a segurança durante a temporada. José Justo, diretor de Planejamento da Abihrs, destaca quatro ações a serem seguidas para dar essa garantia aos hóspedes: qualificação dos ambientes, limpeza, treinamento de equipes e segurança. Para isso, haverá investimento forte no treinamento de equipes que atendem as grandes praias do Litoral Norte — Tramandaí, Capão da Canoa e Torres.
— As pessoas, mesmo com medo, estão com vontade de viajar. Isso nos dá uma esperança de receber bastante gente no Litoral. Naturalmente, vamos ter que esticar o veraneio ou, pelo menos, tentar fazê-lo para que os turistas não se aglomerem e fiquem só em torno do Ano-Novo e do Carnaval. Essa tentativa será feita, mas não quer dizer que tenhamos sucesso. Por isso, vamos qualificar os destinos para que eles recebam os veranistas com o máximo de segurança. Estaremos preparados com mais treinamento, mais limpeza e mais atenção — assegura.
Há risco de me contaminar ao tocar na superfície de móveis e objetos? Devo limpar tudo ao chegar (em hotel ou casa alugada)?
Pergunta enviada por Guilherme Bender, de Jaraguá do Sul.
A infectologista pediatra Fernanda Hammes Varela, pesquisadora e médica do corpo clínico do Hospital Moinhos de Vento e membro da Sociedade Riograndense de Infectologia, explica que sim, há risco de contaminação ao tocar nas superfícies. Por essa razão, a recomendação é sempre higienizar as mãos com álcool gel ou água e sabão ao tocar em algum lugar.
— Tem sobrevida de coronavírus e outros vírus em superfícies diferentes por tempos diferentes. Em metal pode ser mais longa e durar vários dias, por exemplo — observa.
Sobre a limpeza do ambiente, Fernanda fala que, via de regra, o local passou por uma higienização antes do ingresso do novo hóspede ou locatário, contudo, se a pessoa não tiver segurança, é possível higienizar as superfícies com álcool líquido 70%.
É preciso levar lençóis e travesseiros ao ir para um hotel ou casa alugada?
Pergunta enviada por Meri Venturini, de Porto Alegre, e Vera Regina Machado Deicke, de Guaíba.
Fernanda destaca que não há estudos que avaliem os travesseiros versus contaminação, pois, na prática, esses itens não são higienizados e a persistência do vírus em roupas por mais de um dia já foi comprovada. Por este motivo, a infectologista indica que as pessoas levem seus próprios travesseiros ao viajar.
— Lençol e toalha, se foram lavados, não teriam risco. Aqui, é importante que a pessoa saiba para onde está indo e confie no local — fala.
Quais os cuidados ao chegar em um hotel? E no dia a dia, café da manhã, refeições em restaurantes?
Pergunta enviada por Luciane Costa e Márcia Helena, moradoras de Porto Alegre.
A recomendação é sempre conhecer previamente o ambiente que vai frequentar e saber se o estabelecimento está respeitando normas de distanciamento, uso de máscaras, higiene das mãos e afastamento de funcionários com sintomas respiratórios. Outra dica é prestar atenção se há triagem das pessoas que circulam pelo local.
— É preciso sempre manter o uso da máscara enquanto não estiver comendo. Também dar preferência para ambientes externos e solicitar distanciamento entre as mesas — pontua a médica.
Nos restaurantes, a infectologista sugere que se dê preferência àqueles que servem pratos à la carte.
— Mesmo sabendo que os bufês oferecem álcool e luvas, nem todas as pessoas respeitam — justifica.
Os camareiros (as) estarão utilizando luvas a cada quarto que limpam? Irão fazer testes nos funcionários a fim de afastar aqueles que apresentarem positivo para a covid-19 ou que estão com os sintomas?
Pergunta enviada por Felipe Pellegrini, de Porto Alegre
O uso de luvas não é recomendado, pois prejudica a higiene das mãos. O ideal, diz Fernanda, é realizar a limpeza das mãos com água e sabão ou álcool gel. Sobre os funcionários com sintomas, a orientação é que eles sejam afastados e testados. A partir daí, deve-se seguir a recomendação do médico em relação ao número de dias de afastamento.
A possibilidade de contágio dentro da piscina e no mar é grande?
Pergunta enviada por Douglas Bersch, Octávio Augusto de Souza, Fernanda Cardoso, Betina Dazzi, Leandro Nascimento, Sueli Moreto, Ricardo Porto Lauda, Ednéa Arejano, Sandra Oliveira, Silvio Irineu Castor Ferreira, Márcia Zirbes Lages, Beth Schneider, Juliana Silva, Débora Simões, Adriana Boeck e Vanderleia Venturini — todos de Porto Alegre — Alexandre Mallmann, de Lajeado, Helen Herzer Habigzang, de Capão da Canoa, Douglas Molina, de Ivoti, Isabel Schreiner Heck, de Santa Rosa, Gilberto Kappel, de Passo Fundo, Arlete Silva, de Gravataí, Ricardo Franck, de Novo Hamburgo, e Cristiane Pereira, de Bagé.
Fernanda afirma que não há evidências científicas sobre a transmissão pela água. No entanto, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, da sigla em inglês) recomenda alguns cuidados específicos para esses locais. Nas piscinas, deve-se atentar para a limpeza frequente de itens como escadas de metal, escorregadores e cadeiras/espreguiçadeiras. Também é preciso limitar a quantidade de pessoas dentro d'água, para que que se garanta o distanciamento entre elas. É importante destacar que não se deve usar máscara dentro da água, pois isso aumenta o risco de sufocamento.
Há uma certificação que indique lugares recomendados por autoridades sanitárias?
Sim. Alguns municípios criaram selos próprios, porém, existe o selo Turismo Responsável, emitido pelo Ministério do Turismo. No Rio Grande do Sul, 288 certificações foram emitidas para estabelecimentos relacionados à hospedagem. Desse total, apenas 16 estão no Litoral Norte.
— O turista pode perguntar ao estabelecimento se ele tem o selo ou não. Aqueles que tiverem, com certeza são empresas que buscaram cumprir os protocolos — diz Rodrigo Lorenzoni, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico e Turismo.
Quais são as políticas de cancelamento e remarcação adotadas pelos hotéis e pousadas? E de aluguéis?
A medida provisória 948, que tratava do assuntou, virou lei (nº 14.046) em agosto deste ano. Pela normativa, os consumidores podem remarcar os serviços ou reservas contratados ou então receber um crédito para uso ou abatimento no estabelecimento.
— Uma reserva em junho tem valor diferente de janeiro. Então, o consumidor fica com o crédito para reutilizar — explica Ivone Ferraz, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral Norte (SHRBS-LN).
— A maioria das pessoas optou pela reutilização. Em apenas 1% dos casos houve pedido de devolução — completa Ivone.
Liliani Panini, sócia da Karpat Sociedade de Advogados de Porto Alegre, esclarece que a remarcação ou concessão de crédito sem juros ou multa deverá ocorrer no prazo de 120 dias após o anúncio do cancelamento por parte da empresa ou 30 dias antes da data da reserva.
— O consumidor que fizer o cancelamento ou adiamento do serviço até 120 dias não vai ter nenhum custo adicional. Pela lei, a empresa é obrigada a devolver o valor em até 12 meses se não der opção de remarcação ou data posterior — informa a advogada.
Por ser uma situação excepcional, Liliani lembra que adiamentos e cancelamentos não são passíveis de danos morais, a menos que seja comprovada a má-fé do prestador de serviço.
No caso da locação de casas ou apartamentos, o presidente da Associx reforça a importância de questionar o locador antes de assinar o contrato, verificando as condições de cancelamento.
— Normalmente, o inquilino antecipa 50% da locação. É importante nesse momento que seja acordado se terá ou não a possibilidade de cancelar — aconselha Prudencio.
Aluguéis feitos por meio de aplicativos, como Airbnb, têm regras estipuladas pelos proprietários do imóvel. Cabe ao locatário se informar sobre as políticas adotadas antes de fechar o negócio.