O anúncio do governo uruguaio, nesta semana, de praticamente fechar as fronteiras na próxima temporada de verão surpreendeu os gaúchos que já se programavam para ter o território vizinho como destino de férias. Em 2019, segundo o Ministério do Turismo do Uruguai, 489.701 brasileiros estiveram no país, 5% a mais do que no ano anterior, sendo que mais de 50% deles eram do Rio Grande do Sul.
Empresário gaúcho que há sete anos realiza eventos em Punta del Este no período do verão, Marcos Paulo Magalhães, do Grupo TE2, projeta perdas de pelo menos 12% no faturamento anual com o cancelamento das quatro festas já agendadas. Uma delas, o tradicional Réveillon Unique, organizada em parceria com o empresário Fabrício Kroeff, chega a reunir 2 mil pessoas. Os ingressos estavam à venda, e, agora, a empresa começará a fazer o estorno dos valores aos clientes, remarcando o evento para a temporada 2021/2022. Para a montagem de toda a estrutura, pelo menos 40 funcionários eram contratados no Brasil para trabalhar nos eventos.
— É um ano trágico para todo o setor de eventos. Para o Uruguai é uma perda grande também porque só com os nossos quatro eventos a receita ficaria em torno de US$ 1,5 milhão — ressalta Magalhães, que já vinha enfrentando perdas por conta da pandemia, já que o grupo do qual faz parte é proprietário de duas casas noturnas e um restaurante em Porto Alegre, uma boate em Atlântida e outra em Santa Catarina.
De acordo com o Ministério do Turismo do Uruguai, os destinos mais visitados em 2019 foram Montevidéu, que recebeu 1.003.379 turistas e obteve ganhos de US$ 574.986.163, e Punta del Este, com 584.251 turistas e ganhos de US$ 672.115.467.
A orientação da Associação Brasileira de Agências de Viagem, regional Rio Grande do Sul (Abav-RS), é de que os turistas com viagens marcadas e hotéis agendados procurem remarcar as datas. O vice-presidente de Relações Externas da Abav-RS, João Augusto Machado, confidencia que ainda tem esperança de que o Uruguai revise o processo de reabertura das fronteiras até dezembro, mas ressalta que é incerto.
Acostumada a passar com a família os Réveillons em Punta del Este, a empresária Julia Jardim Tellechea Nahas, de Porto Alegre, já estava receosa de que o país vizinho não fosse reabrir a fronteira antes de 2022. Apesar disso, mantinha a esperança de seguir o ritual de uma década consecutiva de estar no Uruguai na virada do ano. De tanto gostar do país vizinho, Julia criou uma marca de roupas de linho, a Faro9, inspiradas em Jose Ignacio, praia que fica ao lado de Punta del Este.
— Punta é essencial porque vai toda a família e um grupo grande de amigos. Mas estamos descartando dos planos deste ano. Vamos ficar em Atlântida, ir para a fazenda no Interior ou viajar pelo Brasil — planeja.
Assim como Julia, a influenciadora digital Claudia Bartelle também deverá trocar Punta del Este com a família, local que visita anualmente há duas décadas, inclusive no inverno, por visitas às praias de Santa Catarina e da Bahia.
— É um momento delicado que estamos vivendo e, mesmo que abrisse, já seria diferente daquela Punta com que estamos acostumados, com festas e cassinos. Seguimos em meio a uma pandemia e estamos torcendo que logo chegue a vacina — comenta.
Trocar o destino uruguaio por um dentro do próprio Rio Grande do Sul é o que deverá fazer a família da nutricionista Caroline Vargas, 39 anos, de Porto Alegre. Há sete anos, ela, o marido, o administrador de empresas Rodrigo Vargas, 40 anos, e o filho João Vargas, nove anos, passam a virada do ano acampando no Parque Nacional de Santa Teresa e percorrendo as praias uruguaias próximas. Desta vez, deverá ser diferente. A família, que costuma visitar o Uruguai também na Páscoa, já não conseguiu fazer o passeio em abril deste ano, quando a pandemia estava no início na América do Sul. Para a próximo Réveillon, a família estará entre as praias catarinenses e algum destino na região da serra gaúcha:
— Acompanhamos as notícias de lá durante todo este período e ainda tínhamos a esperança de que até dezembro tudo poderia mudar. Mas o país está tomando todos os cuidados com a covid-19 e é compreensível a decisão deles.
Neste mês, já prevendo que muitos gaúchos acabarão ficando no litoral do Estado na próxima temporada, cidades litorâneas fizeram estimativas de aumento da população no verão. Entre dezembro e fevereiro, Tramandaí, que tem população estimada pelo IBGE em 52,6 mil habitantes, prevê passar dos 300 mil visitantes nos três meses. Torres vislumbra um aumento de 20% na população visitante — são cerca de 100 mil na temporada. Capão da Canoa, com cerca de de 54 mil moradores, projeta números ainda maiores: 1 milhão de pessoas no próximo verão.