O receio de que o número de casos de coronavírus aumente no Uruguai fez com que Lacalle Pou, presidente do país vizinho, recrudescesse as regras em relação à entrada de estrangeiros. A medida, que pega em cheio os brasileiros que têm o território uruguaio como destino de férias, é motivada pelo aumento repentino de infectados pela doença.
O Uruguai tem 3,4 milhões de habitantes e, até o momento, contabiliza 53 vidas perdidas para o coroanvírus, além de 2.851 casos confirmados. A questão é que, em 18 de outubro, foram registrados 30 novos casos, já no dia 20 deste mesmo mês foram 63 diagnósticos positivos. E, desde então, o país não apresentou nenhum boletim epidemiológico com números inferiores a 30.
Obviamente, os dados não se comparam aos números exorbitantes que vemos em solo brasileiro. A título de comparação, o país platino tem um índice de 840 casos de covid-19 por milhão de habitantes. No Rio Grande do Sul, esse dado salta para 20.899 por milhão de habitante e, por fim, em nível nacional alcança 25.332 por milhão de pessoas.
Por 100 mil habitantes, o Uruguai tem 1,56 morte e 83,85 casos. Outra vez, a disparidade em relação ao Rio Grande do Sul e ao Brasil é clara: 49,05 mortes e 2.057,41 casos no Estado e 74,8 óbitos e 2.566,8 ocorrências no país, a cada 100 mil habitantes.
Por isso, Rachel Pollero, coordenadora do programa de População da Universidade da República do Uruguai, aponta que os boletins epidemiológicos estão longe de serem assustadores. Ela aponta que, quando comparado com outros países afetados pela pandemia, os resultados uruguaios são muito bons:
— Temos 53 mortes no total. No entanto, nos últimos dias houve um aumento nos casos positivos diários, 48 novos casos ontem (domingo). Mas, novamente, dentro do que é um resultado que não é comparado a outros países. Enfrentamos mais complicadores externos, como o verão e a fronteira com o Brasil, que é uma país que passa por uma situação delicada.
O sociólogo José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vai um pouco mais a fundo e afirma que o país platino pode estar passando por sua segunda onda pandêmica, assim como algumas localidades europeias.
— A Argentina não conseguiu controlar a pandemia, muito menos o Brasil. Nos últimos dois meses, o coronavírus chegou com força no interior argentino, e isso afeta fortemente o Uruguai por serem países vizinhos. Ele (Uruguai) conseguiu achatar muito a curva, ficou dias sem registrar novos casos da doença, mas a flexibilização das nações em volta e o trânsito de pessoas está provocando esta situação de fechamento para evitar a piora do quadro — pontua.
O apontamento do pesquisador se encaixa no que é assinalado pelo Ministério do Turismo. Em 2018, 466 mil brasileiros estiveram a passeio no país vizinho, ficando atrás somente dos 2,3 milhões de argentinos que passaram pelo Uruguai. Entre os brasileiros que mais visitam o país vizinho estão os gaúchos. A população da região Sul somou, apenas em 2019, cerca de 180 mil viagens até lá.
Rachel reforça que, neste momento, o governo local apelou para a responsabilidade social.
— O presidente disse, recentemente, em entrevista coletiva, que, por enquanto, a vacina é a máscara. Se as pessoas perderem o respeito pelo vírus, fica complicado — observa.
Sem disputa política
Alves faz a resslava de que o Uruguai é o país sul-americano que melhor encarou a pandemia de coronavírus. Para o especialista, a política unificada de enfrentamento à pandemia e a forte adesão da sociedade local em relação às regras foram fatores que contribuíram para o sucesso da estratégia uruguaia. O comportamento foi bem diferente do retratado no Brasil, em que a doença virou objeto de disputa política e o presidente Jair Bolsonaro sempre minimizou os seus efeitos, tendo anunciado recentemente que não compraria a vacina da empresa Sinovac por achar o produto chinês inconfiável, apesar de as pesquisas dizerem o contrário:
— A classe política ficou unida, pensando políticas e estratégias de combate à doença. O coronavírus não virou debate ideológico no Uruguai, ele foi encarado como um problema de saúde pública. Foram criadas políticas de suporte econômico para os afetados pela crise, a população aderiu à campanha de distanciamento social e higienização das mãos. Além disso, o país registra um bom índice de testagem da população.
De acordo com Worldmeter, que monitora a doença no mundo, foram realizados 86,938 testes por milhão de habitantes no Uruguai.