Não há mágica, dizem brasileiros que moram no Uruguai. O segredo do país ao conter o coronavírus até agora é um misto de transparência por parte do governo, diálogo com a população e amparo na ciência para a tomada de decisões. A gaúcha Lisi Claussen Robinson, 52 anos, que mora com o marido, Carlos Alberto Robinson, 73, em Punta del Diablo, no litoral uruguaio, destaca a liderança do presidente Luis Lacalle Pou.
— O êxito se deve ao diálogo e à forma como as autoridades encararam o vírus, ou seja, amparadas na ciência e sempre informando a população diariamente com coletiva com a imprensa, em rede nacional. Além disso, cada cidadão adotou uma postura de guardião da vida, todos respeitam o isolamento social e denunciam quando isso não ocorre — conta ela, que vive no país há quatro anos.
O casal relata que os controles nos acessos à fronteira com o Brasil são rigorosos. Punta del Diablo está a apenas 44 quilômetros de Chuy, cidade que é dividida por uma rua com a gaúcha Chuí. É comum moradores da praia uruguaia buscarem medicamentos e outras mercadorias na localidade.
— Primeiro os militares te param na estrada para saber onde vais e por que vais. Quando chega-se à aduana, na volta, eles passam um produto de limpeza nas rodas do carro e examinam tudo o que tu trouxeste — diz Lisi.
Desde o início da crise, foi implementada a política de quilo zero, ou seja, nenhuma mercadoria pode ser levada do Brasil para o Uruguai.
— Tudo o que se refere a brasileiros é mau visto, pelas medidas que o Brasil não toma — explica Lisi.
O presidente Lacalle Pou assumiu o governo em 1º de março, depois de 15 anos de hegemonia da esquerda no poder.
— Todo mundo esperava que o Uruguai se tornaria um outro Brasil. Mas, não. Lacalle Pou assumiu e decretou emergência sanitária, dispôs de uma série de medidas para evitar contágio — afirma a gaúcha.
Natural de São Paulo, a jornalista Regiane Martins Folter, 28, vive há seis anos em Montevidéu, onde trabalha em uma empresa de desenvolvimento de software. Desde o início da quarentena, ela está em home office. Regiane destaca o uso da tecnologia como ponto fundamental para a troca de informações entre governo e população. No início da pandemia, as autoridades criaram o app "Coronavírus uy", por meio do qual são atualizados diariamente dados sobre mortes e infectados. A plataforma também serve de canal caso o cidadão apresente sintomas da covid-19.
— É bem interativa. Em caso de sintomas, já te põem em contato com o provedor de saúde que você precisaria consultar caso você esteja em risco. Eu baixei e sempre me informo por aí — relata ela.
A brasileira salienta o espírito de comunidade entre os uruguaios, que pode ter sido fundamental, segundo ela, no enfrentamento da crise.
— O povo uruguaio é muito prático, sempre foi muito pelo coletivo, de preocupação com os demais. No meu círculo de amizades, todos fizeram quarentena e estão trabalhando de casa ou estão saindo para o trabalho o mínimo possível. Desde amigos, vizinhos, minha própria empresa fechou sem prazo para voltar — afirma, destacando que o confinamento não é obrigatório, mas respeitado pela maioria da população.
Aliviada diante das estatísticas do país, Regiane agora se preocupa com a família em São Paulo, Estado brasileiro com maior número de casos e óbitos:
— Estou sofrendo muito mais por eles do que por mim. Aqui, me sinto mais segura.