– Não deve importar a posição política de cada um dos membros do Mercosul.
A frase, pinçada do discurso de posse de Luis Lacalle Pou como novo presidente do Uruguai neste domingo (1º), é simbólica no momento em que o bloco econômico do Cone Sul está cindido por ideologias diferentes em seus governos – de um lado, presidentes conservadores como o próprio Lacalle Pou, o brasileiro Jair Bolsonaro e o paraguaio Mário Abdo Benítez, de outro o argentino Alberto Fernández e sua vice Cristina Kirchner. O isolamento de um parceiro importante como a Argentina seria um erro com potencial de fazer o bloco recuar várias casas.
Ao se dirigir ao público interno, o novo chefe de Estado afirmou que assume a administração do país, comprometendo-se em respeitar o direito de todos:
– Dos quem têm simpatia pelo nosso governo e daqueles que preferiam que outros governassem.
A própria passagem de faixa de Tabaré Vázquez para Lacalle Pou foi um gesto de tolerância e de respeito à democracia capaz de unir um abismo ideológico entre o novo presidente de centro-direita e aquele que estava saindo do poder após 15 anos de hegemonia da centro-esquerda.
No momento em que o Mercosul alcança seu maior trunfo – o acordo com a União Europeia (UE), assinado, mas com detalhes ainda pendentes –, o discurso agregador de Lacalle Pou é um bom sinal, capaz amenizar as feridas nas entranhas da região, em especial entre os governos de Brasil e Argentina.
Foi uma pena a ausência de Fernández na cerimônia. O peronista alegou sobreposição de agenda. Neste domingo, ele fez um importante discurso, a abertura do ano legislativo no Congresso, em Buenos Aires, no qual apresentou as prioridades para 2020 - entre eles, o encaminhamento de um projeto de legalização do aborto e a renegociação da dívida. O encontro com Bolsonaro, que estava alinhavado para ocorrer em Montevidéu, está ainda sem data para ocorrer. Lacalle Pou pode ser um bom mediador.