Aline Rocha
Jornalista do blog Sem Pressa de Voltar
A Jamaica reúne tudo de que um lugar precisa para ser um excelente destino de férias: ótimas praias, cultura marcante e deliciosa gastronomia. Além disso, a atmosfera rastafári é apaixonante e está longe de ser um estereótipo. De uma ponta à outra, a ilha entoa o som do reggae e a memória de Bob Marley ainda está viva e pulsante. O povo é receptivo e amigável e, mesmo que muita gente diga que o inglês dos jamaicanos é difícil de entender, você consegue se virar bem.
Ainda que tenha tantos atrativos, o país é pouco procurado por turistas brasileiros. De acordo com a cônsul honorária da Jamaica, Maria Pia Buchheim, são cerca de 5 mil por ano – um número pequeno se comparado à vizinha República Dominicana, por exemplo, que recebeu 130 mil turistas do Brasil em 2018. Além disso, grande parte desse público vem de cruzeiros pelo Caribe, que apenas passam o dia por lá.
A ilha merece mais do que uma passagem rápida. Embora fora da rota de “turismo de massa”, a Jamaica oferece experiências que agradam a todos os tipos de viajantes. Em Montego Bay e Ocho Rios, ótimas opções de resorts; em Negril, lugares badalados e cenários de tirar o fôlego; já Port Antonio é a escolha perfeita para quem quer fugir do circuito turístico mais tradicional e tem o espírito aventureiro e desbravador.
Aos que gostam de mergulhar, a transparência da água, os recifes coloridos e a rica biodiversidade marinha tornam a Jamaica um destino ideal para a prática. Foi a minha primeira vez mergulhando com cilindro e presenciei um espetáculo no fundo do mar. Levando o snorkel, você pode ver peixes e estrelas-do-mar já na parte rasa da praia.
Uma frase bastante utilizada pelos locais, e que você verá muito em camisetas e suvenires, é “NO PROBLEM”. Esse é o ritmo que quem chega à ilha deve seguir: esquecer os problemas, contemplar as belezas naturais e abrir o coração para um destino que ainda não está tão bem preparado para o turismo, mas que sabe receber muito bem quem o escolhe.
A natureza intocada de Port Antonio
Port Antonio é uma pequena cidade na ponta leste da Jamaica. Com muito verde e pouca estrutura de turismo, ainda parece um lugar “a ser descoberto”.
Na Frenchman’s Cove Beach, um pequeno rio verdinho se encontra com o mar azul turquesa. Um paraíso emoldurado por uma mata virgem exuberante. Nessa praia, a entrada custa U$ 10.
Winnifred é a praia pública mais bonita da região, bastante frequentada pelos locais. Algumas pedras fazem o mar parecer ter vários tons, lindo demais! Por lá você encontra barraquinhas de artesanato e de comida. Na hora do almoço, a pedida é a lagosta na brasa da barraca da Cintia.
O Bamboo Rafting é uma bela e silenciosa aventura de duas horas e meia de contemplação da natureza pelo Rio Grande. No meio do trajeto, uma parada obrigatória: almoçar no restaurante da Belinda. A cozinheira mais famosa da região mora em cima de um dos morros em volta do rio. De sua casa, quando vê que algum turista está fazendo o passeio, ela desce e esquenta as suas panelas. Uma das melhores refeições que fiz na Jamaica. Apesar de ficar em um local remoto, a comida da Belinda ocupa o 4º lugar dos restaurantes da região no Tripadvisor, site que reúne avaliações feitas por turistas.
Para desfrutar dos principais pontos turísticos de Port Antonio, que ainda conta com a Blue Lagoon, local onde foram filmadas cenas do filme A Lagoa Azul, aconselho uma estada mínima de três dias, que foi o tempo que fiquei por lá. Mas já aviso: você vai sair de lá com dor no coração. Quando eu voltar ao país (porque isso certamente vai acontecer), vou dedicar mais tempo a essa região.
Negril: o mais belo pôr do sol
A pequena Negril é um dos destinos mais conhecidos da Jamaica. A cidade está localizada na ponta oeste da ilha, a cerca de 80 quilômetros do aeroporto de Sangston (em Montego Bay).
Concentra dois tipos de paisagens. De um lado, a praia mais longa do país, a Seven Mile Beach, com 11 quilômetros de extensão. Por ali, a longa faixa de areia branca, os hotéis “pé na areia” e o mar cristalino e calmo convidam a curtir a positive vibration jamaicana.
Do outro lado, há West End, uma região cheia de penhascos (os cliffs), de onde é possível pular no mar ou apenas observar a água de um azul inigualável. Caso opte por se hospedar por lá, o Rockhouse Hotel é uma ótima opção.
Nessa região, o badalado Rick’s Cafe é uma atração imperdível. O bar a céu aberto de frente para os cliffs tem um palco com shows de reggae diários e fica lotado no final da tarde.
A grande sensação do local é pular no mar de uma altíssima plataforma (a mais alta tem 11 metros de altura). Trata-se, ainda, de um bom lugar para assistir ao pôr do sol no mar. Aliás, esse é um dos grandes espetáculos de Negril.
Montego Bay e Ocho Rios: conforto e surpresa
As regiões de Montego Bay e de Ocho Rios atendem aos turistas mais convencionais, que querem conhecer lugares diferentes, mas não abrem mão do conforto de bons hotéis. São duas cidades que costumam receber os turistas vindos de cruzeiros, pois oferecem uma estrutura turística mais elaborada.
Montego Bay é a chamada capital turística do país. Além de Kingston (capital oficial), essa é outra cidade que tem aeroporto internacional. Para quem deseja conhecer o país pelo litoral de leste a oeste, é a melhor opção de chegada.
Há luxuosos hotéis no estilo all inclusive, um parque temático, um parque marinho e a bela praia de Doctor’s Cave Bay. Na avenida Hip Strip, uma grande oferta de bares faz a vida noturna ser animada. Para quem quer sair dos resorts e experimentar a gastronomia local, a dica é o restaurante Pelican Grill.
Montego Bay sedia o Reggae Sumfest, o maior festival de reggae do mundo, que acontece há mais de 20 anos em meados de julho. Outra atração é o Glistening Waters, passeio noturno pelo Rio Martha Brae que tem um encantador efeito fosforescente com o movimento da água. O fenômeno é causado por conta da existência de organismos bioluminescentes.
A cidade de Ocho Rios, entre Montego Bay e Port Antonio, também conta com resorts de redes famosas. O mar é de um turquesa incrível, mas a maioria das praias não são públicas – fazem parte de algum hotel.
A atração que vale a ida é a Dunn’s River Falls, uma cachoeira enorme, que você pode escalar e que deságua em um mar perfeito – uma das praias mais bonitas de lá. Se estiver inseguro em subir sozinho, alguns guias puxam filas grandes de pessoas que se dão as mãos e seguem os mesmos pontos. Entre uma queda e outra, há piscinas naturais de água translúcida.
Pertinho de Ocho Rios, a apenas 16 quilômetros, fica a cidade de Oracabessa, onde morou Ian Fleming, que escreveu ali muitos de seus romances de James Bond. A casa do autor hoje é parte do complexo do hotel GoldenEye, destino para casais em lua de mel.
Cozinha jamaicana: tempero e autenticidade
Entre ingredientes exóticos, temperos surpreendentes e referências de ancestralidades, me entreguei à gastronomia jamaicana e voltei apaixonada. Você vai ouvir falar muito que a comida é apimentada demais, mas não foi a experiência que tive, poucos pratos eram realmente fortes. Ainda assim, se tiver essa restrição, é sempre bom perguntar antes o nível da “picância”.
O jerk é a cara da gastronomia jamaicana, um estilo de cozimento no qual a carne é marinada em uma mistura de especiarias e posteriormente assada e defumada em uma churrasqueira. Esse molho supercondimentado pode ser aplicado em porco, frutos do mar e outras carnes, mas é o frango a grande estrela dos braseiros. Em cada esquina do país você vê um Jerk Point – churrasqueiras que se espalham democraticamente vendendo o jerk chicken.
Outro símbolo da ilha é o exótico ackee. Pelas ruas, você vê várias árvores da fruta avermelhada que se abre quando madura, exibindo sementes pretas redondinhas. Desse ingrediente, foi criado um prato famoso no país: o ackee & saltfish, típico do café da manhã jamaicano. No preparo, a fruta é salteada com bacalhau e outros temperos. Uma delícia!
Para quem gosta de comidas mais condimentadas, a pedida é o curry goat, ensopado feito com a carne de cabra carregado nas especiarias. A influência da colonização indiana é fortíssima nesse prato.
Um lanche corriqueiro no cotidiano jamaicano é a patty, que lembra uma empanada e pode ser folhada ou não. Existem opções de recheios com carnes, frutos do mar, vegetais, queijos, entre outros sabores. Elas são vendidas em estabelecimentos específicos no país (existem franquias!) e também na beira da praia por simpáticos ambulantes – como o Patty Man, que trabalha na Seven Mile Beach, em Negril.
E para acompanhar tudo isso, a deliciosa cerveja jamaicana Red Stripe. É uma bebida leve e refrescante, perfeita para acompanhar os dias quentes da Jamaica. Virou minha cerveja favorita. Será que é porque me faz lembrar desse lugar tão especial?
O que saber antes de ir
- Brasileiros não necessitam de visto para entrar no país (desde que a estadia não exceda 90 dias), mas é necessário passaporte válido e com página livre e o comprovante de vacinação contra a febre amarela, registrada no certificado internacional de vacinação.
- O único voo com partida de Porto Alegre é oferecido pela Copa Airlines e tem conexão no Panamá.
- O melhor período para visitar é de dezembro a junho, quando o clima é mais seco. Evite ir de julho a novembro, pois a ilha está na rota de furacões do Atlântico. A temperatura varia entre 23°C e 30°C o ano inteiro. Mesmo nos meses mais frios, de janeiro a março, a água do mar fica em torno dos 26°C.
- A moeda é o dólar jamaicano, mas os preços nos restaurantes são baseados no dólar americano, também amplamente aceito (ainda que, na maioria das vezes, o câmbio diretamente nos lugares não seja tão vantajoso).
- A mão inglesa (direção pelo lado esquerdo) pode ser uma preocupação para quem gosta da liberdade de alugar um carro, mas passado o período de “ressignificação”, as estradas são boas (principalmente no trajeto de Negril até Ocho Rios), e é bacana curtir as nuances e diferenças de cada região pelo caminho. Nesse caso, um dos maiores cuidados é o de não atropelar as cabras. Acredite, elas passam calmamente até mesmo pelas grandes estradas. E, ainda mais importante: faça uma boa playlist com muito Bob Marley e Peter Tosh, e deixe a música local acompanhar você na estrada (as rádios não funcionam bem em todos os trajetos).
- Para quem gosta de conforto e tranquilidade, existe, ainda, uma ampla oferta de motoristas particulares (os chamados Juta Tours), e de empresas que organizam passeios para os principais pontos turísticos.