As viagens de motor home atraem brasileiros que vão para o Exterior e desejam economizar com hotel e restaurante. Abre-se mão do conforto, mas também de bagagens pesadas.
Perrengues podem aparecer, mas a família do projeto Van com Tudo acabou fazendo da dificuldade a oportunidade: quando ficou sem luz, escreveu um livro sobre a situação, além de fazer o que seus integrantes chamaram de uso consciente da internet. Outros tornaram a viagem uma fonte de renda, como a jornalista mineira Glória Tupinambás e o repórter fotográfico Renato Weil, que fazem colunas semanais em uma rádio, publicam livros e participam de uma websérie (leia mais sobre esses dois projetos mais abaixo).
Apaixonada por motor homes desde que os descobriu na França, há 20 anos, a catarinense Neide Dutra Félix não troca esse estilo de viagem por nada.
— Só ando de avião e me hospedo em hotéis quando é muito necessário. Viajar levando a casa é simplesmente incrível — comenta.
Em 2012, ela decidiu compartilhar a experiência com amigos e familiares:
— Eram 48 pessoas em 12 motor homes. A viagem foi um sucesso. Depois dessa primeira viagem, senti a gana de mostrar para outros brasileiros como há locais bonitos na Europa e que são pouco visitados.
Sair da zona de conforto
Desde a criação do projeto Caravana de Motorhome, mais de 630 pessoas já viajaram, em 16 edições, fazendo turismo pelo Leste Europeu, pela Escandinávia e por países mais visitados, como França, Alemanha e Estados Unidos. O custo aproximado de uma jornada com 28 dias de duração é de R$ 40 mil, com todas as despesas de traslado, motor home, seguros, itens de cozinha, roupas de cama e produtos de limpeza.
— É importante que as pessoas queiram sair das suas zonas de conforto e entendam que, nesse período, tudo será menor. A casa e as malas enxugam bastante, e com isso o brasileiro ainda não se acostumou. Esse hábito na Europa já foi abandonado há muitos anos. Eles só levam o necessário — compara Neide.
A viajante de 47 anos alerta que as pessoas precisam fazer um processo de desprendimento, para ficar longos períodos dentro de um veículo, com espaço limitado. Os turistas não precisam prescindir da tecnologia, já que há tomadas e internet.
— Você pode assistir a um DVD, jogar alguns joguinhos. Mas o mais importante de tudo é a proximidade com a família, os amigos, a troca de experiências e a união — afirma.
A estrada como profissão
Largar tudo, viver sob as intempéries na estrada, ficar longe de qualquer zona de conforto e mudar a paisagem todo tempo virou estilo de vida e profissão para uma família mineira que adaptou sua rotina às casas andantes. A jornalista Glória Tupinambás, 37 anos, e o repórter fotográfico Renato Weil, 46, deixaram o ambiente das redações em jornais e revistas para fazer o que eles chamam de turismo profissional. O casal, que se conhece há 13 anos, já passou por 69 países dos cinco continentes, estão atravessando as Américas e pretendem chegar ao Alasca até 2020, no projeto A Casa Nômade.
— O mais legal de tudo é não ter rotina, se surpreender a cada dia com povos, culturas e pessoas diferentes. Somos muito sintonizados na estrada e vivemos sem qualquer previsibilidade — afirma Glória. — Não estamos engessados com roteiros, caronas, formas de se manter e comer.
O sonho de uma viagem mais longa à bordo de um motor home começou a tomar forma em 2015, com a publicação do livro O Mundo em Minas, que traçava um paralelo entre vários países e Minas Gerais, como a forte religiosidade, as paisagens naturais, as ferrovias e a cultura. Nesse mesmo ano, o casal concedeu várias entrevistas, que tornaram o projeto cada vez maior e mais palpável.
— Acho que nosso divisor de águas foi quando estivemos no programa da Fátima Bernardes, na Globo, em 2015. A Mercedes-Benz se tornou nossa patrocinadora para viajar. Depois, vieram outros 14 patrocinadores — informa.
O motor home, registrado como caminhão baú, é térmico e já passou por temperaturas extremas, como 47°C na América Central e 12°C negativos nos Estados Unidos. A casa, com 10 metros quadrados, é dividida em sala, cozinha, quarto e banheiro, tem capacidade para três ocupantes e contém equipamentos eletroeletrônicos. Desenhada por Weil, conta com placas solares e uma “garagem” para moto e duas bicicletas.
Entre os quase 70 países visitados, Mianmar foi o que se tornou mais marcante para o casal.
– Visitamos eles em 2013, logo que terminou a ditadura militar por lá. Foi muito diferente visitar um país sem acesso à internet, sem cartão de crédito e até mesmo maquiagem. Notamos que as mulheres pintavam o rosto com o que vinha das árvores mesmo – comenta Glória. – Mas, em relação a belezas naturais, a Patagônia é incomparável pela natureza selvagem, com imersões em cavernas de gelo e pelos desprendimentos de icebergs que vimos por lá.
Viajando com filhos
A família mineira Duarte, da expedição Van com Tudo, também passou por locais invernais, convivendo com o frio e com o congelamento da água dentro do motor home.
– Um dos maiores aprendizados que tivemos ao longo desse período foi o do uso produtivo da internet – conta Carla Damiani Duarte.
A empresária de 37 anos trabalha remotamente com o marido, o também empresário Fernando Carvalho Duarte, 41, enquanto os dois filhos fazem estudo a distância. Eles postam no YouTube vídeos para informar à família e aos amigos os caminhos percorridos.
Para quem acha que filhos podem ser um empecilho, a gaúcha Francine Agnoletto, que mantém o blog Viagens que Sonhamos e faz parte do portal Viagens com Filhos, conta em seus relatos que essa experiência pode ser enriquecedora tanto para o casal como para a criança.
– Ela passa a conhecer o mundo além do que é possível descobrir via internet – diz a mãe de Álvaro, oito anos, incentivador da viagem que a família empreendeu pelas Montanhas Rochosas Canadenses.
Sete dicas para viajar de motor home
- A maior procura de motor homes é para Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Portugal e Estados unidos;
- Procure viajar no verão dos países que deseja visitar ou escolha locais onde o inverno não costuma ser tão rigoroso, pois o encanamento do carro pode congelar;
- Para dirigir, os principais quesitos são Carteira Nacional de Habilitação categoria B e ser maior de 21 anos;
- A diária de um motor home pode chegar a US$ 190 em algumas locadoras;
- Campings com água e energia elétrica podem custar até US$ 50 por dia;
- Para despejar o esgoto da casa móvel e abastecê-lo com água limpa, é necessário sempre que se procure uma dump station, que se assemelham a áreas de serviço para despejar o esgoto e fazer o abastecimento;
- A Permissão Internacional para Dirigir (PID) não é obrigatória em vários países, no entanto é recomendável. Ao alugar um motor home, informe-se na locadora.