Por Ronaldo Mendonça*, especial
Pequeno e muito charmoso, o Uruguai tem cidades arborizadas, campos extensos, praias limpas e clima agradável. É perfeito para os iniciantes em caminhadas, pois a geografia do país, sem montanhas e com cerros de altitude máxima de 500 metros, permite a atividade sem muito esforço físico. Seus principais destinos turísticos são Montevidéu, Punta del Este e Colônia do Sacramento, mas, para fugir dos grandes centros urbanos e colocar o pé na trilha, montamos um roteiro para conhecer a região serrana do país, seus vinhos e suas belas praias.
Saímos de Porto Alegre e entramos no Uruguai pela cidade de Rio Branco, fronteira com Jaguarão. A partir daí, o primeiro destino em território uruguaio foi Villa Serrana, local tranquilo onde é impossível se estressar. O povoado está a cerca de duas horas de viagem de Montevidéu, no meio da serra, cercado de morros, mananciais e mato selvagem. A filosofia de vida e a energia que reina por lá são inexplicáveis.
Villa Serrana surgiu da ideia de um grupo de investidores que, na década de 1940, enxergou o potencial dessa região cheia de campos, rios e paisagens exuberantes e encomendou um projeto de uma povoado recreativo ao estilo europeu. Ainda hoje, o lugar mantém esse estilo e é sinônimo de natureza e calmaria.
Fizemos nossa primeira caminhada com 12 quilômetros até o restaurante Estação Penitentes, um paraíso na Serra de Minas. A busca da natureza e de uma vida saudável para os filhos foi o motivo que levou Sara e Gonzalo a construir o empreendimento, que conta com vagões de trem de 1950, em um estilo vintage.
A viagem seguiu rumo ao pacato e escondido Pueblo Edén, recentemente descoberto pelos turistas mais ávidos por regionalismo e cultura autêntica. Não chega a ser uma cidade, mas, como o próprio nome indica, é uma pequena vila ou povoado que oferece experiências bem diferentes dos principais pontos turísticos uruguaios. Após 14 quilômetros de caminhada, chegamos lá. Além de poucas casas, há um restaurante, La Posta de Vaimaca, e dois armazéns. Ali, o tempo passa devagar e ainda alimenta a siesta que parece nunca ter fim.
O roteiro também incluiu uma passadinha pela Vinícola Garzón, a mais moderna do Uruguai e, em breve, a primeira sustentável fora da América do Norte. O empreendimento oferece, além do saboroso Terroir, um restaurante com comidas típicas e pratos frescos da região, tours pelos vinhedos acompanhados de um delicioso piquenique e, para os mais aventureiros, passeios em balão para apreciar a paisagem.
Seguimos para La Paloma, balneário que é um clássico há décadas, mas que continua sendo um dos grandes escolhidos para o verão no Uruguai. Suas praias são o principal atrativo, com geografia e estilos diversos, desde as mais concorridas e urbanas até as mais agrestes e despovoadas.
O Farol de Santa María é o grande símbolo de La Paloma. É a primeira construção da praia, em pé desde 1874. Ao seu redor, sobre o Cabo Santa María, edificaram-se as primeiras casas, que hoje formam o chamativo bairro antigo da cidade. Na costa portuária, criou-se o Paseo del Puerto, com locais gastronômicos e culturais.
Continuamos nossa viagem e aportamos no Balneário de Valizas, uma pequena e charmosa praia, de onde partimos para mais uma caminhada. Atravessamos o Arroio Valizas e deslizamos pelas dunas e pela praia até chegarmos ao Cabo Polônio.
Antes de passar para o próximo destino, cabe ressaltar que, perto do Arroio Valizas, em 1750, foi firmado entre D. João V de Portugal e D. Fernando VI da Espanha o Tratado de Madrid, para definir os limites entre as respectivas colônias sul-americanas. O objetivo era de pôr fim às disputas, substituindo o Tratado de Tordesilhas, que já não estava mais sendo respeitado na prática. As negociações basearam-se no chamado Mapa das Cortes, privilegiando a utilização de rios e montanhas para demarcação dos limites.
Cabo Polônio é uma daquelas preciosidades do Uruguai. Para chegar lá, é preciso pegar uma jardineira e fazer um caminho pelas areias balançando para todos os lados. No nosso caso, chegamos caminhando e saímos com as jardineiras.
Por lá, o clima é de vilazinha no melhor estilo do Nordeste. Tudo pé na areia, restaurantes estilosos, muito vinho e um visual deslumbrante. Sem energia elétrica, a vila construída na areia é um refúgio perfeito para desacelerar e curtir a natureza.
Todas as hospedagens são bastante rústicas, mas é possível encontrar água aquecida e lugar para carregar o celular (existem pousadas e hostels com energia solar). Também há sinal de celular, caso você tenha um chip do Uruguai, mas a proposta é se desconectar e aproveitar o local. Aqui, desacelerados, terminamos nossa viagem.
*Ronaldo Mendonça integra o projeto Ecocaminhantes, especializado em viagens com trilhas