Na quinta-feira, começa a Copa do Mundo da Rússia. Se você não conseguiu aproveitar o Mundial para conhecer o país, um tanto longe do Brasil, pode ter uma amostra da cultura russa sem sair do Rio Grande do Sul. Visitamos Campina das Missões, uma cidade de cerca de 6 mil habitantes que é berço da colonização russa no Brasil, onde os costumes, a religiosidade, a gastronomia e o idioma ainda estão tão vivos que você vai se sentir na Rússia.
A história começou há quase 110 anos, quando chegaram os primeiros imigrantes. Hoje, ainda são mais de cem famílias de descendentes. Os estrangeiros que vieram sem nada precisaram começar uma vida do zero no Brasil.
Para quem sai de Porto Alegre, a viagem até Campina das Missões leva em média sete horas, passando por diversas rodovias. Logo na entrada, esculturas de imigrantes russos dão as boas-vindas. Seguindo pela mesma rua, chegamos a uma praça onde um busto homenageia São Vladimir. Nunca ouviu falar? É um santo da igreja ortodoxa russa, o que mostra a fé trazida pelos imigrantes.
Mais cinco quilômetros de estrada de chão e chegamos a um dos mais antigos templos da igreja ortodoxa russa no Brasil, chamado de Apóstolo São João Evangelista. Mulheres, é bom saber: para entrar ali, só com lenço na cabeça.
– É para não despertar atenção – justifica o presidente da Associação Cultural Volga no Brasil, Jacinto Zabolotsky.
Os ícones são característica marcante da igreja ortodoxa, representando a fé por meio da imagem. Por isso, a parede do templo foi quase toda coberta por eles – boa parte trazida na bagagem dos primeiros imigrantes, em 1909. A vela também é uma tradição muito importante.
– Significa luz sobre as trevas – explica Zabolotsky.
A poucos passos da igreja, no cemitério, estão enterrados mais de mil imigrantes. Há lápides muito antigas, como uma de 1924.
Na localidade de Linha Paca Sul, distante cinco quilômetros do centro de Campina das Missões, está um casarão construído na década de 1930. Ali, funcionava um bolicho, espécie de mercado onde vendia-se de tudo. Hoje ele está fechado, mas, se você estiver passeando por ali e tiver a mesma sorte que eu, pode encontrar a Maria Bazila, filha do ex-dono do lugar.
– Trabalhávamos com tudo. Medíamos tecido, vendíamos tragos, tamanco, alpargata... Alpargata era muito usada pelos imigrantes – conta a aposentada.
A cada parada, víamos de uma forma diferente como viviam os russos e como eram os seus costumes. Em uma propriedade rural na principal estrada de chão da Linha Buriti, há um belo exemplo: uma cozinha encravada na terra, feita de pedra bruta, em 1913. A estrutura de 20 metros quadrados, hoje desativada, foi a maneira que o imigrante Sergei Parchi encontrou de alimentar a família e se proteger do frio.
Zabolotsky destaca outra estratégia dos russos para combater as baixas temperaturas:
– A gente toma uma vodca para esquentar o corpo.
Santa Rosa
As marcas da cultura russa estão presentes também em cidades como Santa Rosa, a 35 quilômetros de Campina das Missões. O casarão de 600 metros quadrados que hoje abriga a Câmara de Vereadores é um exemplo. Ele foi erguido na década de 1930 a pedido do imigrante Etienne Misrolaw Grigorieff, conhecido como Doutor Russo. A história que contam por lá é de que a casa é igual à que ele vivia com os pais antes de vir ao Brasil.
Além disso, o município também conta com uma igreja ortodoxa, a Paróquia Russa. Descendente de russos, Olga Lachno Giordani adora receber quem vem de fora.
– É só marcar (pelo telefone 55 3512-6657), que a gente abre a igreja para as pessoas conhecerem. É uma honra imensa – diz a dona de casa.
#PartiuRS é uma série multimídia que mostra as belezas do Estado. Além do ZH Viagem, a série pode ser acompanhada aos sábados, no Jornal do Almoço, da RBS TV, no Supersábado, da Rádio Gaúcha, e em um site especial no G1. A coordenação é de Mariana Pessin (mariana.pessin@rbstv.com.br)