Um ano após a queda da ponte pênsil que liga Torres, no Litoral Norte, a Passo de Torres, em Santa Catarina, a estrutura ainda passa por reconstrução e as causas do incidente ainda são investigadas. Nesta terça-feira (20), ocorre o içamento de cabos sobre o canal do rio Mampituba, que se iniciou ainda na segunda (19).
O rompimento da estrutura na madrugada de 20 de fevereiro de 2023 causou a queda de dezenas de pessoas. A maioria teve ferimentos leves. Mas o jovem caxiense Brian Grandi, de 20 anos, se afogou e não sobreviveu. O corpo dele foi encontrado somente dois dias depois, na Praia Azul, em Santa Catarina.
— Eu não tenho conseguido dormir. Espero que a justiça seja feita pela morte do meu filho. Hoje (terça) estão lá puxando os cabos. Mas tinha que ser justo hoje? Para eles não faz diferença, mas para mim é como cutucar uma ferida — lamenta emocionada, a mãe de Brian, Cristiane dos Santos.
O jovem era um dos sete filhos de Cristiane. Para auxiliar nas despesas, ele trabalhava. Agora, a mãe está desempregada e depende de ajuda.
— Tenho Bolsa Família e faço alguns trabalhos de freelancer. Mas se eu não vou atrás, ninguém me ajuda. Já pedi até ajuda para a prefeitura para apenas dar uma "ajeitada" no túmulo do meu filho, mas nunca me deram retorno — desabafa Cristiane.
A mãe ressalta, ainda, que convive com a saúde mental abalada desde então, mas que nunca lhe foi oferecido apoio:
— Só vieram falar comigo lá na beira da ponte (durante as buscas a Brian, no ano passado). Lá eu disse que não queria conversar, que nem sabia se ele tinha morrido. Depois, ninguém me procurou.
Questionada sobre as reclamações de Cristiane, a prefeitura de Torres afirmou que, após o fato ocorrido, prestou assistência à mãe de Brian, "como auxílio funeral, local para o funeral e caixão". Conforme a nota divulgada pela administração municipal, também foi oferecido atendimento de saúde mental, no bairro onde ela reside.
"Os benefícios eventuais prescritos pela Lei Municipal foram ofertados por um período de 12 meses. Quando se faz necessário, o usuário solicita e os técnicos da secretaria identificam a necessidade, como, por exemplo, cesta básica e vale gás. Quanto à solicitação posterior no local do túmulo, não há previsão legal", diz a nota enviada pela prefeitura.
Investigação
Um ano depois, ainda não houve nenhuma responsabilização pelo ocorrido. O incidente foi investigado em dois inquéritos separados e em paralelo: um na Polícia Civil de Torres e outro na delegacia de Santa Rosa do Sul, referente a Passo de Torres, em Santa Catarina.
Em um primeiro momento, nenhum deles indiciou instituições ou agentes públicos. A investigação de Torres foi concluída em agosto e apontou que a queda da estrutura ocorreu devido a “péssima conservação” e excesso de pessoas, mas confirmou que a manutenção não era responsabilidade do município gaúcho.
Por outro lado, o inquérito catarinense, que havia sido concluído ainda antes, em julho, teve uma reviravolta. A polícia não havia identificado “responsabilidade por parte de algum agente público ou particular na queda da ponte que, através de sua conduta ou omissão, por si só, tivesse dado causa ao acidente”. No entanto, em outubro, o Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) encaminhou um pedido de novas diligências. O documento apontou que o inquérito elaborado pela Polícia Civil “remanesce a necessidade da realização de diligências”, ou seja, ainda faltariam etapas da investigação a serem feitas.
O pedido contém 10 itens que precisariam ser refeitos no inquérito, entre eles o depoimento do prefeito de Passo de Torres, Valmir Rodrigues. Além disso, o MP aponta necessidade de apurar se havia alguma comunicação ou colaboração entre os municípios gaúcho e catarinense na manutenção da ponte; quem fazia e como fazia esse serviço; e quando ocorreu o último reparo antes da queda da estrutura.
O processo foi elaborado pela comarca da Polícia Civil de Santa Rosa do Sul, sob comando do delegado Rafael Chiara, que responde por Passo de Torres. A estimativa da polícia é de que os últimos ajustes do inquérito devam ser finalizados e encaminhados nos próximos dias.
O MP deu, inicialmente, um prazo de 90 dias para a entrega das novas diligências. Contudo, o prazo não foi cumprido. Por isso, a promotoria encaminhou, na última semana, uma petição nos autos, requisitando à delegacia a remessa da resposta às diligências.
Nova ponte em obras
Os trabalhos de reconstrução da travessia começaram em 2023 e a entrega foi prometida para antes do Natal. Entretanto, devido à falta de documentos e condições de segurança, a Marinha do Brasil embargou a obra, que só foi retomada nesta segunda-feira (19), após regularização.
Nesta terça, os primeiros cabos de aço começaram a ser puxados de uma ponta à outra da travessia.
A nova estrutura custará, ao todo, R$ 702 mil e precisa ser finalizada até o dia 6 abril de 2024. Os dois lados da margem receberam novos acessos, com escadarias de concreto que foram construídas. Enquanto o hasteamento segue, a passagem de embarcações foi obstruída na barra de Torres. A Marinha monitora a situação no local.