A Polícia Civil de Santa Catarina encerrou sem indiciamentos o inquérito que investigou a queda da ponte pênsil sobre o Rio Mampituba, entre Torres, no Litoral Norte, e Passo de Torres, no litoral catarinense. O acidente, que ocorreu na madrugada de 20 de fevereiro, causou a morte de Brian Grandi, um jovem de 20 anos. Outras 16 pessoas ficaram feridas.
O inquérito, assinado pelo delegado Andre Gazzoni Coltro, foi entregue à Justiça na semana passada. Segundo Gazzoni, “houve uma sobrecarga excessiva de pessoas em cima da ponte, bem acima do número indicado, as quais, em grande medida, fizeram uso inadequado dela ao balançar e pular, somado ao fato de a ponte estar em má condição estrutural, sem que a Prefeitura Municipal de Passo de Torres fizesse a manutenção adequada, ocasionando assim a ruptura de um cabo e a queda de todas as pessoas que estavam sobre ela”.
Conforme o relatório, entretanto, não foi identificada uma “responsabilidade subjetiva por parte de algum agente público ou particular na queda da ponte que, através de sua conduta ou omissão, por si só, tivesse dado causa ao acidente”. Foram ouvidos políticos, engenheiros e testemunhas que estavam no momento da queda.
— Essa ponte foi construída pelo município de São João do Sul, que, na época, Passo de Torres era um distrito desse município. Ela foi revitalizada com recursos do Estado de Santa Catarina. Embora não tivesse um responsável técnico pela ponte, o município tinha compra de material para fazer reformas periódicas na ponte — disse o delegado em reportagem exibida pelo RBS Notícias, da RBS TV, na noite desta segunda-feira (10).
O delegado afirmou ainda que, mesmo em situação precária, a ponte não teria rompido se o limite de 20 pessoas tivesse sido respeitado. Thiago Carrão, advogado da família de Brian Grandi, jovem que morreu na queda da estrutura, discorda do delegado.
— O fato é que nós temos uma perícia muito bem feita pelo IGP do Rio Grande do Sul que diz que se aquela ponte estivesse com 100% da sua estrutura e suas condições, de fato, ela aguentaria mais de mil pessoas sobre ela e 500 pessoas saltando sobre ela — diz o advogado.
Em maio desse ano, o resultado da análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP) sobre a queda da ponte concluiu que "a corrosão significativa dos cabos de aço, em especial de um dos principais cabos de sustentação, e a maneira incorreta de fixação/emenda foram os fatores preponderantes para a queda da ponte pênsil". O documento também afirma que o cenário demonstra a "falta de manutenção adequada" e que foi usado um número menor de grampos para unir os cabos.
Um segundo inquérito foi instaurado pela Polícia Civil de Torres, que promete concluir a investigação ainda nesta semana. Mesmo que não haja indiciamento, como foi no inquérito catarinense, caberá ao Ministério Público de cada Estado decidir se alguém será denunciado.
As prefeituras de Passo de Torres e de Torres não se manifestaram. A família de Brian vai entrar com um processo para buscar reparação pelo ocorrido.
— Tá na cara, está nas provas que aquilo ali está tudo errado. Para eles está tudo certo, tudo em paz, mas pra mim não está, meu filho morreu ali— diz Cristiane dos Santos, mãe de Brian.