O atraso na reconstrução da ponte pênsil entre Torres e Passo de Torres, que rompeu em fevereiro, traz prejuízo a moradores e comerciantes na região. Além da queda no movimento turístico, que afeta negócios locais, a travessia era usada por moradores que precisam transitar diariamente entre os dois municípios, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina.
A reportagem esteve no local no sábado (23) e não encontrou ninguém trabalhando na reconstrução da estrutura. Segundo pessoas que moram na região, desde a última quarta-feira (20) os trabalhos teriam cessado.
Em outubro, a prefeitura de Passo de Torres (SC), responsável pelo trabalho, havia prometido a entrega da obra para o dia 20 de dezembro, para que a estrutura estivesse acessível aos turistas antes do Natal. No entanto, o prazo não foi cumprido. A previsão oficial, por contrato, é que a conclusão ocorra até o dia 6 abril de 2024.
A travessia foi abaixo na madrugada do dia 20 de fevereiro, quando dezenas de pessoas estavam sobre ela. Na ocasião, um cabo que sustentava a estrutura se rompeu e causou a queda. Brian Grandi, 20 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu, enquanto outras 16 pessoas ficaram feridas.
A passagem era ponto turístico no local, ligando o município catarinense de Passo de Torres com Torres, no RS. Feito de madeira e cabos de aço, o trajeto era feito apenas por pedestres. A travessia cortava o Rio Mampituba e costumava atrair turistas e movimentar a região, especialmente nesta época, durante as fetividades de fim de ano.
No entanto, com a queda, o movimento de turistas era baixo no sábado.
— As vendas caíram pela metade agora, no período de sol. Antes, no inverno, tivemos queda de 90% no movimento. Era um ponto turístico, agora acabou — lamenta uma comerciante que atua perto da travessia há 14 anos e preferiu não se identificar.
Ao lado, outra comerciante também relata prejuízos. Maria Zenaide, 63, mantém a loja no local há 24 anos, vendendo itens de vestuário e de lembranças de Torres.
— Afeta todos nós, quem tem farmácia, bar, restaurante, lotérica, açougue. Tem funcionários que moram de um lado e trabalham em outro, e vice-versa. Tem no mínimo umas cem pessoas que usavam a ponte todo dia para trabalhar, e agora não tem mais, precisa fazer toda a volta. Aqui na loja, sendo bem realista, caiu muito o movimento, o que dá (com as vendas) é só para comer, não sobra nada. Já ficamos quase um ano sem a ponte e estávamos felizes porque falaram que teríamos até o Natal, agora é uma tristeza — diz Maria.
A recuperação do ponto turístico, que está sob responsabilidade da prefeitura de Passo de Torres, tem custo estimado em R$ 701,8 mil, e deve ser feita pela empresa Montadora e Construtora Moreira LTDA, contratada com dispensa de licitação. O valor será pago em parceria com o governo do Estado.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da prefeitura de Passo de Torres, que informou que está em recesso. A empresa que faz a obra disse que as informações sobre o trabalho devem ser repassadas pela prefeitura.
MPSC pediu mais investigações à Polícia Civil
A investigação sobre a queda da ponte foi concluída pela Polícia Civil catarinense e entregue à Justiça em julho, em inquérito assinado pelo delegado Andre Gazzoni Coltro.
O trabalho policial foi encerrado sem indiciamentos. Segundo Gazzoni, que conversou com a RBS TV em julho, “houve uma sobrecarga excessiva de pessoas em cima da ponte, superior ao número indicado, as quais, em grande medida, fizeram uso inadequado dela ao balançar e pular, somado ao fato de a ponte estar em má condição estrutural, sem que a Prefeitura Municipal de Passo de Torres fizesse a manutenção adequada, ocasionando assim a ruptura de um cabo e a queda de todas as pessoas que estavam sobre ela”. Segundo o delegado, o limite de pessoas na ponte era de até 20 por vez. Naquela madrugada, cerca de 50 pessoas estariam sobre a estrutura.
Conforme o relatório, entretanto, não foi identificada uma “responsabilidade subjetiva por parte de algum agente público ou particular na queda da ponte que, através de sua conduta ou omissão, por si só, tivesse dado causa ao acidente”. Foram ouvidos políticos, engenheiros e testemunhas que estavam no momento da queda.
No entanto, o Ministério Público de Santa Catarina (MP/SC) encaminhou, em outubro, um pedido de novas diligências. O documento aponta que o inquérito policial “remanesce a necessidade da realização de diligências”, ou seja, ainda faltam etapas da investigação a serem feitas.
O pedido contém 10 itens que precisariam ser refeitos no inquérito, entre eles o depoimento do prefeito de Passo de Torres, Valmir Rodrigues. Além disso, o MP aponta necessidade de apurar se havia alguma comunicação ou colaboração entre os municípios na manutenção da ponte; quem fazia e como fazia esse serviço; e quando ocorreu o último reparo antes da queda da estrutura. Também foram pedidos documentos técnicos sobre a ponte.
O MPSC sugeriu um período de até 90 dias para a polícia concluir o novo trabalho, que começou a contar em 23 de outubro.
Questionada, neste domingo, se as novas diligências podem resultar na responsabilização de alguém ou alguma instituição, a promotora Iara Klock Campos afirmou que, como as informações complementares solicitadas ainda não foram repassadas, "é inviável antecipar qualquer conclusão sobre eventual autoria delitiva".
O delegado Rafael Chiara, titular em Passo de Torres e responsável por complementar o inquérito, afirmou que "a depender do que for apurado nas diligências que faltam, pode haver indiciamento". Ele diz que o trabalho deve ser concluído e novamente remetido à Justiça e ao MPSC na primeira quinzena de janeiro.