Um verdadeiro paraíso natural está localizado entre as praias de Cidreira e do Balneário Pinhal, no Litoral Norte do RS. Em uma área particular de cerca de 40 quilômetros quadrados (leia mais abaixo), o visitante vislumbra dunas com mais de 20 metros de altura. Além disso, lagos temporários, água cristalina, aves e vegetação nativa completam esse cenário ainda desconhecido para muitas pessoas. Trata-se dos chamados Lençóis Cidreirenses.
O empresário de turismo Roberto Porciúncula, de 69 anos, costuma visitar esse oásis de areia com frequência. E compartilha sobre a importância de equilibrar passeios ao local com a preservação do meio ambiente.
— Os Lençóis Cidreirenses vão trazer cada vez mais pessoas para Cidreira. Nós precisamos saber preservar esse paraíso que são dunas à beira de lagoas — reflete, mencionando na região a existência da Trilha do Tuia, que começa em Nova Tramandaí e vai até Balneário Pinhal, possuindo no trajeto de quase 14 quilômetros algumas dunas com necessidade de serem mais protegidas.
Os Lençóis Cidreirenses são uma imensidão de areia em uma área de preservação permanente. Os lençóis d'água se espalham pelo local e sofrem influência do vento, do sol, da chuva e da evaporação. Ou seja, surgem e desaparecem. Visitantes costumam subir até o topo das dunas para contemplarem e fotografarem o pôr do sol. Os cataventos geradores de energia também ocupam a paisagem no horizonte.
Para se acessar a área é preciso caminhar quilômetros ou ir de barco. A equipe de reportagem de GZH foi por água até o destino. Partiu do complexo náutico do Lagoa Country Club, em Cidreira. A embarcação, com dez pessoas incluindo o capitão, era uma lancha Tarumã 500 chamada Serro Azul, e muito comum de ser vista subindo e descendo os rios do Pantanal.
A especialista em aromaterapia Lucia Helena Boeira, de 41 anos, traduz a sensação após visitar o local pela primeira vez. Ela caminhou solitariamente por entre as dunas de areia fina e tirou muitas fotos.
— Para mim, foi espetacular. Toda essa exuberância da natureza, o verde e daqui a pouco aquela duna branquinha contracenando com a água cristalina.
Durante o percurso serpenteado, pode-se observar nas margens pescadores, animais, inclusive famílias de capivaras, propriedades e muita beleza. A vegetação predominante, especialmente no canal da Lagoa da Cidreira, com cerca de dois quilômetros de extensão, é composta por juncos. Mas há trechos com aguapés.
Um antigo equipamento desativado de captação de água usado no passado para a irrigação de plantações é outra atração do caminho. Após passar sob a ponte da ERS-784 vinda pela Lagoa da Cidreira e da Rondinha, a embarcação chega à Lagoa da Fortaleza. Há uma unidade de captação de água da Corsan situada no lado direito de quem segue rumo aos lençóis. Na margem oposta, uma rústica e acanhada casinha de madeira usada por pescadores chama atenção.
O barco segue e começam a aparecer dezenas de guarda-sóis e uma guarita de salva-vidas em terra. Trata-se da prainha da Lagoa da Fortaleza, um conhecido refúgio de banhistas durante os dias ensolarados.
Aqui é um lugar ímpar maravilhoso. A beleza dessa areia parece o deserto.
EDUARDO RABADAN
Visitante dos Lençóis Cidreirenses
As dunas de areia surgem no horizonte. Mais adiante, chega-se de fato aos Lençóis Cidreirenses. Ao descer e pisar em terra firme, o cenário lembra o deserto. Os pés afundam na areia fofa e dá vontade de correr para todas as direções. O silêncio só é interrompido pelo som de aves e do vento. Impossível não ficar deslumbrado com a imposição da natureza.
O casal de professores de Educação Física Juliana Machado e Lucas Motta, ambos de 30 anos, aproveitava a privacidade junto ao filho de oito anos e de amigos. Estavam sentados dentro da água da lagoa e portavam guarda-sol e mantimentos para aproveitarem o dia. Segundo relatam, o trajeto até o local demorou cerca de 25 minutos e não teve maiores dificuldades. Era a primeira visita do casal aos lençóis.
— A gente veio caminhando para conhecer. É muito bom, privativo e a lagoa é limpa — elogia Juliana, dizendo que eles são de Porto Alegre e possuem casa de veraneio na região.
Quem caminha na lagoa de frente para as dunas enxerga pequenos lambaris que se aproximam dos pés. Às margens há alguns caramujos e não se percebe lixo deixado pelo homem. A reportagem circulou pela área e só encontrou uma lata de cerveja amassada e uma moeda perdida na areia.
O comerciante Eduardo Rabadan, 56, chegou de jet ski com um vizinho aos Lençóis Cidreirenses. Ele disse que visita há muitos anos a lagoa, ora com esse tipo de embarcação, ora de quadriciclo vindo por terra. O trajeto que realiza costuma se estender dali até Nova Tramandaí. Nas áreas baixas das dunas, onde o solo é mais plano, é possível ver marcas de pneus de diferentes veículos.
— Aqui é um lugar ímpar maravilhoso. A beleza dessa areia parece o deserto — comenta.
Jipes, quadriciclos e motos são bastante comuns na área. Entretanto, não há autorização para fazer trilhas de veículos pelo local. A visita da reportagem ao cartão-postal ocorreu na quinta-feira (15). Para acessar o local, é necessário saber como estará o clima no dia da visita.
Entre as dunas, havia dois lençóis d'água mais visíveis. Nem sempre o visitante tem essa sorte. Às vezes, só encontra a imensidão de areia fina. Foi o que ocorreu em algumas oportunidades com a profissional autônoma Nadir Vargas, 55.
Os Lençóis Cidreirenses são um paraíso que está sendo descoberto. É uma maravilha, a natureza, os pássaros e a brisa. Quem não conhece está perdendo.
MAURO FIGUEIREDO
Visitante dos Leçóis Cidreirenses
— O trajeto em si preserva ainda um pouquinho da nossa natureza, o verde e a água. Nesse meu terceiro passeio consegui presenciar os lençóis — comemora.
O empresário mineiro Mauro Figueiredo, 65, visitou o local na companhia da esposa Ruth Leal Figueiredo, 50. Apesar de já ter estado lá antes, também se impressionou com o que reencontrou.
— Os Lençóis Cidreirenses são um paraíso que está sendo descoberto. É uma maravilha, a natureza, os pássaros e a brisa. Quem não conhece está perdendo — assegura ele.
Mas quem o conhece pela primeira vez é que demonstra mais emoção.
— A gente tem uma paisagem incrível e uma natureza exuberante aqui. E, às vezes, ficam tão próximas de nós — relata a técnica em radiologia Andréia Dias, 49.
Há diferentes passeios de barco até o local. O realizado pela reportagem possui cerca de uma hora e meia (sendo uma hora para a viagem de ida e volta), ficando o restante do tempo dedicado aos lençóis.
Regras, fiscalização e preservação dos lençóis
Os Lençóis Cidreirenses ficam dentro do município de Cidreira e ao mesmo tempo em uma área pertencente à CMPC Celulose Riograndense, que possui os cataventos de energia naquela região. A prefeitura afirma que alguns projetos em relação à preservação do local estão em andamento.
— Entrei em contato com o Daer (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem) para fazer um paradouro ali (na ERS-786). Como não temos engenheiro de sinalização, pedi para o Daer fazer para nós. Quanto às licenças ambientais não podemos fazer porque é uma região privada — revela o prefeito Elimar Tomaz Pacheco.
Segundo o chefe do Executivo, Cidreira obteve uma doação de 14 hectares dos Lençóis Cidreirenses junto ao Grupo Habitasul, que havia vendido a área para a CMPC. O espaço doado abrange a beira da lagoa em direção às dunas da ERS-786, mas o local onde as pessoas costumam visitar e tirar fotos ainda pertence à empresa.
Questionado sobre a presença de jipeiros e trilheiros de quadriciclos num local de preservação permanente, o prefeito garante que os órgãos ambientais não deverão liberar essa prática naquela área.
— Também não temos condições de policiamento — refere o prefeito, reconhecendo as dificuldades para se fiscalizar a presença desses veículos.
O diretor da Secretaria Municipal de Turismo e Desporto, Ubirajara Kreceski, salienta que foram colocadas placas informativas nos lençóis para os visitantes. E diz que estão sendo buscados recursos junto ao governo estadual para se fazer o paradouro oficial na ERS-786. Atualmente, as pessoas estacionam em um trecho às margens da via, descem e caminham em direção às dunas, especialmente aos finais de tarde.
— Oficialmente, a prefeitura não pode fazer nada ali. Porque é uma área particular e precisa de autorização — cita.
Conforme o diretor detalha, a empresa teria interesse em área do município, o que poderia facilitar no futuro a permuta por mais hectares dentro da região onde estão os Lençóis Cidreirenses.
Também existe a ideia de se fazer um trapiche para quem chega e sai por água dos lençóis. Neste momento, as embarcações precisam se aproximar e atracar às margens da terra firme. Mas não há qualquer previsão para isso se tornar realidade.
— A coisa é muito burocrática. A área não é do município — conclui o diretor.
SERVIÇO DO PASSEIO
O quê: Passeios Náuticos Lençóis Cidreirenses (realizados pela empresa Speedboat. É necessário fazer contato antes para agendar)
Onde: Lagoa Country Club (ERS-784, km 7, em Cidreira)
Contatos: (51) 99568-7474 e no Instagram
Valores de barco: R$ 60 por pessoa (crianças até dois anos são isentas; dos dois anos aos quatro pagam metade do valor. Passeio dura uma hora e meia)
Valores de lancha intermediária: R$ 80 por pessoa (mas é preciso ter grupo fechado de cinco pessoas, totalizando R$ 400. Este passeio dura uma hora e meia)
Valores de lancha com churrasqueira: R$ 1.100 para um grupo de nove pessoas (passeio dura quatro horas).