Por entre juncos, aguapés e uma exuberante mata nativa circundante, a 6ª Remada Ecológica reuniu dezenas de participantes, na manhã de sábado (10), em Cidreira, no Litoral Norte. Com auxílio de pequenas embarcações movidas a remo, especialmente caiaques e pranchas de stand-up paddle, a tarefa dos envolvidos era recolher lixo deixado pelo homem às margens de duas belezas da região — as lagoas da Cidreira e da Fortaleza.
— A importância deste evento é que temos uma lagoa em Cidreira com água límpida que pode até ser bebida. Nosso objetivo é diminuir o volume de lixo — explica Roberto Porciúncula, diretor do Lagoa Country Club, complexo de turismo e lazer apoiador da ação e de onde partiram e chegaram as embarcações.
Os participantes receberam instruções dos organizadores sobre o percurso de cerca de três quilômetros antes da saída para a missão. Munidos de sacos plásticos para coletar o lixo, coletes salva-vidas e com muita disposição, os inscritos tiveram auxílio no decorrer do trajeto de uma lancha do Corpo de Bombeiros Militar do RS. Um barco de apoio com 12 lugares, de onde a reportagem de GZH acompanhou a atividade, também colaborou no resgate dos caiaques que tiveram problemas com os juncos presos na quilha.
Com a manhã ensolarada e a temperatura na casa dos 30ºC, a largada ocorreu às 9h47min junto ao trapiche do Lagoa Country Club. No local, há um pequeno farol inspirado no outro maior existente em Cidreira, conhecido por suas faixas helicoidais nas cores vermelha e branca.
Alguns dos remadores trajavam adereços carnavalescos, já que haveria premiação ao final para as fantasias mais originais. Organizado pela Associação Cidreirense de Esportes Náuticos (Acena), o evento sempre acontece no sábado de Carnaval.
O diretor da Secretaria Municipal de Turismo e Desporto, Ubirajara Kreceski, salienta que a atividade é importante por limpar o entorno das lagoas e ainda conscientizar a população sobre a preservação do meio ambiente.
— Temos o problema em Cidreira do descarte irregular do lixo sólido na lagoa — afirma, dizendo que a prefeitura apoia a iniciativa com a disponibilização de uma ambulância, banheiros químicos e uma tenda coberta.
Um total de 65 pessoas se inscreveu para ajudar no recolhimento do lixo, mas nem todos entraram nas embarcações. Havia gente de Cidreira, Porto Alegre, Montenegro, Canoas, Torres, Osório, Capão da Canoa, Tramandaí, Guaíba, Taquara, Viamão e até do Alegrete.
Com o adereço de um chapéu de pirata, o organizador de eventos e turismólogo Tiago Corrêa traduz que a pegada do evento é a preservação das lagoas.
— Com o tempo, o lixo foi diminuindo nas margens. Aqui no entorno a coisa começou a melhorar — compartilha.
Os caiaques enfrentaram muito vento no início da navegação. Era preciso atravessar o canal e se dirigir em direção à Lagoa da Fortaleza, que faz divisa com a Lagoa da Cidreira. Nas margens do caminho, se vê vegetação rasteira, bois no pasto e pescadores com varas de pesca espalhados por alguns pontos. Há capivaras, mas nenhuma delas deu o ar da graça durante a ação.
O técnico ambiental Rafael Pereira e a pedagoga Tatiane Lutz vieram de Osório para participar. Trouxeram a afilhada Alice, de oito anos, para ver o mutirão de limpeza.
— Como técnico ambiental, acho importante sensibilizar a população. Temos um paraíso no litoral — observa o marido.
A esposa também acrescenta outro objetivo:
— Trouxemos nossa afilhada para dar o exemplo.
Durante o percurso é possível vislumbrar um antigo equipamento desativado de captação de água utilizado em outros tempos para a irrigação de plantações de arroz. Após uma sequência de zigue-zagues pelo caminho se passa sob a ponte da RS-784, chegando-se à Lagoa da Fortaleza. Há uma unidade de captação de água da Corsan no local. Quem seguir adiante chegará até um ponto onde os turistas costumam pagar para conhecer — os Lençóis Cidreirenses.
— Todos os anos participo. É importante passar a conscientização para as pessoas — diz a agente de viagem Janeska Damian.
O barco de apoio também parou nas margens de um trecho para recolher lixo deixado pelo ser humano. O que mais foi recolhido das águas e da vegetação foram sacolas e potes plásticos, garrafas pets e latas. Um banco plástico danificado foi retirado em meio à vegetação. Os organizadores contam que já foram encontrados no passado até geladeiras e fogão jogados na água da lagoa.
O que justifica a presença de tantos pescadores na área é a expressiva vida marinha do local. Há peixes como cará, jundiá, manjuba, tainha, peixe-rei, traíra, muçum, birú, viola, cascudo, juaninha e outros.
O casal de comerciantes Kaíko e Nane Martins estava trajado com uniforme de marinheiro. Os dois também são assíduos participantes da Remada Ecológica.
— O mais importante é a preservação — resume a esposa.
O piloto e capitão do barco de apoio João Luiz afirma que até moradores de Cidreira desconhecem a beleza dessas lagoas.
— Aqui é um paraíso inexplorado — atesta entre um passeio e outro pelas águas mornas e claras da Lagoa da Cidreira.
Aos poucos, as embarcações retornavam para terra. A tarefa se encerrou em torno das 11h40min. Ao final, os 50 primeiros inscritos receberam camisetas do evento e houve distribuição de medalhas de participação e para os melhores adereços de Carnaval. Todos posaram juntos com o lixo recolhido, o equivalente a pouco mais de 20 sacos plásticos. O material seria conduzido para reciclagem no próprio local.