A pequena cidade de Itati, no Litoral Norte, oferece um desafio aos turistas com espírito aventureiro e que amam ficar em contato com a natureza. Ganhando novos adeptos, a trilha da Chapada dos Vaga-lumes passa por quatro cachoeiras e permite tomar um banho na chamada “borda infinita”, que fica no topo de uma queda d’água de 35 metros.
O percurso até as paisagens totaliza pouco mais de dois quilômetros e se torna intenso pelo esforço físico. Com nível de dificuldade moderado, o caminho passa em meio à vegetação de Mata Atlântica e tem solo íngreme, com várias subidas e descidas com cordas de apoio.
O esforço pode até desanimar em um primeiro momento, mas compensa. Para viver a experiência, a equipe de GZH aceitou o desafio e fez o trajeto completo, acompanhada do condutor local Cícero Santos.
A chegada até o início da trilha exige certa habilidade do motorista. O trecho de estrada de terra e a inclinação podem ser mais complicados para alguns veículos, por isso a dica é vir com transporte de agência ou estacionar antes da lomba para caminhar por cerca de dois quilômetros.
Uma motivação no caminho é a vista de cima da região, que garante boas fotos. Dali, é possível ver Itati, Três Forquilhas, a Lagoa da Itapeva, Arroio do Sal e o mar. Ainda neste ano, a prefeitura de Itati pretende fazer o calçamento das partes mais íngremes da estrada para melhorar o deslocamento.
Já nas primeiras orientações, Cícero entrega polainas especiais para colocarmos nas pernas e explica que, no verão, há chance de encontrarmos serpentes durante o percurso, por isso o uso do equipamento, que também protege de arranhões que possam ser causados pelo contato com folhas, galhos e pedras.
— Normalmente o acidente com serpentes é do tornozelo para cima, então fica mais protegido. É que nem tomar um carrinho de um jogador com caneleira — diz o condutor para descontrair o grupo.
O aviso sobre os animais pode até amedrontar, mas faz com que os trilheiros entrem na mata mais atentos. Com mochilas nas costas, protetor solar e repelente de insetos aplicados — e um frio na barriga — começamos a caminhada rumo à primeira cachoeira, por volta de 11h15min.
Como é o passeio
Em meio à vegetação, a reportagem segue Cícero em fila, pisando com cuidado para não escorregar em pedras ou raízes de árvores que cruzam o caminho já demarcado. Após 400 metros, chegamos à Cascata das Princesas.
— Ela tem esse nome pela árvore Brinco de Princesa, que tem ali — explica o profissional.
Após observarmos a água corrente e encontrarmos pequenos ovinhos de sapo em uma das poças, seguimos a rota até a próxima parada, que fica a 200 metros dali. No meio da mata, Cícero nos mostra pequenas bolinhas verdes em uma das árvores.
— É tucum, uma frutinha que quando está madura, se coloca na cachaça para fazer licor. Uma coisa espetacular! — garante.
Para acessar a Cachoeira Poço da Esmeralda, é preciso encarar uma descida. Como o chão é mais escorregadio nesse ponto, é necessário segurar nos galhos e ir com cuidado. Cícero nos indica até que ponto podemos avançar para visualizar a queda de água que tem 30 metros pela frente.
— Tem alguns colegas que chamam Poço do Sol. Entre 9h30min e 10h30min é o horário ideal para ver o sol batendo nela — diz Cícero.
Até aqui, foram 15 minutos de trilha. Uma recomendação que é dada à equipe e que também vale a outros turistas é cuidar com os registros no celular durante a caminhada, principalmente nos trechos que exigem mais atenção para não escorregar, como nas pedras e proximidades das águas.
Chapada dos Vaga-lumes
Fazemos o retorno pelo trajeto de ida e vamos até a parte superior da Cachoeira Chapada dos Vaga-lumes, que é a principal do passeio. A nomenclatura é em razão das luzes dos visitantes que lembravam os animais luminosos.
É nessa parte em que há uma piscina natural com borda infinita, que tem esse nome porque a delimitação final fica “escondida” pela queda de 35 metros. Já se aproxima do meio-dia, quando encontramos uma família que aproveitava para tomar banho ali.
— Depois de caminhar bastante, a gente se refresca nessa água. E só de pensar que lá embaixo tem aquela queda enorme, já dá um frio na barriga! — comenta a bancária Cilene Fagundes, 42 anos, que estava com o marido e os dois filhos.
Acostumados a fazer trilhas, os turistas de Canoas, na Região Metropolitana, estavam empolgados com o passeio e também eram acompanhados por um condutor. Aventureiros de final de semana, eles contam que descobriram o local pelas redes sociais.
— Gostei bastante dessa piscina! — diz Lisandra Menezes Fagundes, 16, que boiava tranquilamente, de olhos fechados.
Do lado de fora, o irmão dela, Rafael Menezes Fagundes, 9, nos adianta uma informação sobre a água:
— É gelada!
Esta é uma das partes mais divertidas do passeio. Cícero, nosso guia, desce de “escorregador” pela pequena cascata anterior à piscina e levanta uma grande quantidade de água, o que provoca várias risadas em nosso grupo. Após aproveitarmos para tomar um banho rápido — com olhos atentos para não ultrapassar o limite de segurança entre a água e o início da cachoeira — damos continuidade à trilha, que vai ficando ainda mais íngreme.
Percorremos 430 metros até a parte inferior da mesma queda d’água que estávamos olhando de cima. A trilha segue fazendo descidas e vamos usando as cordas de apoio presas nas árvores para buscar mais estabilidade. No meio do caminho, somos impactados por uma grande figueira, que faz com que gastemos alguns minutos com a cabeça inclinada para atrás para admirar seus galhos.
Por volta de 13h, avistamos a cachoeira Chapada dos Vaga-lumes. É aqui que todo o esforço é esquecido de vez para dar lugar a uma vista linda.
— É uma água gelada, mas revigorante. Depois de fazer uma trilha em um ambiente abafado de Mata Atlântica, que faz a gente suar um pouco, a água muda o ânimo! — garante Cícero.
Encantados com a beleza e a força da água, que reflete a luminosidade ao final da queda, nos instalamos ali para tomar um banho. Nessa parte, é indicado entrar com o calçado, em razão das pedras e para evitar escorregar.
Esse é o momento de fazer muitas fotos e vídeos, porque a paisagem merece uma recordação. Também usamos a pausa para fazer um lanche. Em trilhas, é recomendado levar alimentos mais fáceis de ingerir, como sanduíches, frutas, barras de cereal e até doces, porque recarregam a energia.
Após o descanso, é hora de fazer mais uma parada, a 100 metros dali. São 14h, quando passamos por um terreno rochoso que leva à Cachoeira do Tobogã, onde há uma queda veloz de água, que também impressiona.
Já estamos nos preparando para fazer o percurso de retorno, quando Cícero nos leva para uma pequena surpresa. Sem anunciar o que vamos fazer, ele nos conduz por uma subida, o que nos deixa com a respiração levemente ofegante por já estarmos perto do encerramento.
Mesmo assim, vale a pena. Ao ouvir o barulho de água se intensificando, notamos que estamos na parte de trás da cachoeira principal. Em meio às árvores e a uma formação rochosa que parece uma caverna aberta, conseguimos observar a força da água de outra perspectiva.
O visual fascina, mas precisamos continuar com mais um pouco de subida para retornar ao local onde está o carro. O relógio marca 14h50min quando passamos pelas vegetações do início. O frio na barriga inicial dá lugar a uma sensação de desafio cumprido, e a premiação são as imagens de tirar o fôlego — literalmente falando.
O que mais você precisa saber sobre a trilha Chapada dos Vaga-lumes
Como chegar
O caminho inicial é pela Rota do Sol, até a cidade de Itati. Depois, o motorista percorre cerca de dois quilômetros de subida em uma estrada mais íngreme que leva ao acesso para a trilha. Uma opção para veículos que não comportam grandes elevações é estacionar no trajeto e fazer o restante a pé.
Condições meteorológicas
Em caso de previsão de chuva para o dia, ou chuva no dia anterior, a trilha poderá ter dificuldade acentuada ou até mesmo ser cancelada.
Dificuldade: moderado/difícil. Ideal para pessoas acima de 12 anos com bom preparo físico. As condições exigem certa mobilidade física e condições de adaptação às dificuldades.
Tempo de trilha: entre 2h30min e 4h
Percurso total: 2,1Km
O que levar
- Medicamento de uso pessoal (se usar)
- Roupa e calçado para trocar ao terminar a trilha (fica no transporte)
- Estar com vestimenta confortável, calçado fechado em uso (e que possa molhar), além de meias cano médio ou longo
- Mochila pequena nas costas (evitar bolsas laterais que podem atrapalhar ou ser desconfortáveis)
- Boné, protetor solar, repelente, capa de chuva
- Lanche adequado para trilha (sanduíche, fruta, barra de cereal, doces)
Quanto custa
O local faz parte de uma propriedade privada que foi cedida para turismo e tem acesso gratuito. É recomendado ter a presença de um condutor para tornar a aventura mais segura. A média de valor para fazer a trilha orientada é de R$ 65 a 70 por pessoa, podendo ser maior em pacotes de agências, que incluem transporte e alimentação.
Mais informações: podem ser obtidas pelo telefone 51 99612-2242 ou e-mail elcicero@gmail.com