Depois do show de luzes naturais que o entardecer projeta nos paredões rochosos, outra iluminação é acesa na Praia da Guarita. À noite, 32 refletores colorem parte dos morros Sul e da Guarita, em Torres, desde janeiro.
— Ficou lindo. A gente consegue ver os morros de outra perspectiva — comenta a psicóloga Andrea Pereira, 58 anos, que foi com a família especialmente para conhecer a novidade.
Secretário de Turismo de Torres, Fernando Nery relata que a iluminação integra os esforços de revitalização do Parque da Guarita — que completa 50 anos em 2021 —, bem como a concessão do restaurante — o Guarita Gastronomia e Eventos foi aberto em novembro. O prédio não abrigava um restaurante há mais de 20 anos, segundo o secretário, e foi muito danificado na passagem do ciclone Catarina, em 2004.
Realizada no meio do ano passado, a licitação teve apenas uma proposta. O casal Nina Lopes, 53, e Jovir Meneghetti, 53, de Caxias do Sul, investiu quase R$ 1 milhão nas obras de reforma. O espaço pode ser explorado por cinco anos, com possibilidade de prorrogar por mais cinco.
Com frutos do mar como carro chefe, o restaurante tem capacidade para até 240 pessoas na parte interna e 600, na externa — durante a pandemia, trabalha com lotação reduzida. Em uma noite bonita, o espaço requisitado é o amplo deque de madeira, de 450 metros quadrados, onde também são realizadas apresentações de música ao vivo.
— Vem gente de todas as idades, vem criança, vem idosos, e os clientes preferem lá fora. Pela pandemia e por causa do visual — diz Nina, referindo-se à vista dos morros iluminados.
A professora Bibiana Teixeira Pereira, moradora de Torres, foi pela primeira vez ao restaurante na noite de sábado (6), com amigas:
— Estou achando bem bacana a oportunidade de aproveitar o parque de noite. É um local em que nunca vinha nesse horário, a partir das 19h não podia.
Ela acredita que pode haver um equilíbrio entre a preservação da área e o desenvolvimento, com exploração de atividades econômicas. Mas a concessão do espaço à iniciativa privada não ocorreu sem polêmica na cidade. Paulo França, idealizador do movimento Preserve Torres, defende a instalação de um bistrô e de um Museu do Mar no imóvel. Ele também não concorda com a iluminação dos morros:
— Pode ter pássaros, morcegos que habitam o espaço sofrendo com isso.
Com relação ao uso do espaço do restaurante, o secretário de Turismo de Torres explica que o museu era um projeto idealizado por uma das gestões anteriores, que acabou não vingando junto ao governo do Estado. Ele relata que a atual administração optou pelo restaurante, como já ocorria originalmente, por ser mais viável economicamente.
— A gente encontrou no restaurante a melhor opção turística de manutenção do parque, para gerar recursos. Até porque o museu dispensa mais gastos que arrecadação — argumenta.
Já a respeito da iluminação dos morros, ele afirma que os refletores são apontados apenas para a parte rochosa, evitando a vegetação, e salienta que fica acesa por poucas horas — por volta das 20h30min até a meia-noite.
O investimento foi de R$ 15,8 mil, com verbas próprias do parque. Fernando Nery afirma que a iluminação deve seguir durante a alta temporada, a princípio, mas há o objetivo de obter uma licença para torná-la permanente.