Tem um restaurante na localidade de Vila São João, em Torres, que faz por merecer a fama de clássico de beira de estrada. Instalado às margens da BR-101, o Benetti fica em um posto de combustíveis, tem uma a la minuta generosa e permite aos viajantes deixar um adesivo colado para registrar sua passagem. Só que já não há mais pedaço em branco nas paredes.
Tem adesivo no ar-condicionado, na lixeira e até do lado de fora do prédio. Os balcões também já estão lotados. O teto começou a ser preenchido, e daqui a pouco não vai mais ter espaço livre nele também.
São milhares espalhados pelo lugar, que ficou conhecido como Restaurante dos Adesivos. Eles divulgam lojas de roupa, banda, albergue, loja de sofá, personal trainer, time de skatistas, programa de TV, clube de motociclistas, de jipeiros, de buggies, times de futebol…
— Os do Grêmio estão atrás dos quadros — diz o sócio Mauro Borges Benetti, 53 anos, colorado e corneteiro.
A tradição começou quando o restaurante ficava no posto de combustíveis ao lado, há mais de 30 anos. Os clientes começaram a colar adesivos de marcas de roupa, e os Benetti tiravam. Uma hora cansaram de descolar e os adesivos se alastraram. Daí quando, em 2001, inauguraram a casa nova, eles mesmo colocaram uns 10 para reiniciar a brincadeira. A única regra é não permitir propaganda de político, “porque eles não estão muito bem na fita”, segundo Mauro.
O Restaurante Benetti é possivelmente o único lugar do mundo em que o time de várzea Resi Futebol Clube, de Porto Alegre, fica ao lado do sete vezes campeão brasileiro Corinthians. Aliás, o “Timão” é uma das presenças mais repetidas nas paredes do Benetti. Mauro explica que os paulistas escolheram o restaurante para fazer sua parada quando vem a algum jogo na Arena ou no Beira Rio.
Mas os porto-alegrenses seguem sendo, disparado, os principais fregueses. Voltando de férias de Florianópolis para a capital gaúcha, Diego de Ávila, 46 anos, dividiu uma a la minuta de frango (R$ 60) com a família inteira. Calcula que para ali há uns 20 anos:
— É um dos melhores lugares da estrada, vira tradição.
Três gerações de Benetti
Quem toca o restaurante são Eraldo, 55 anos, Silvano, 44, e o já apresentado Mauro — “três irmãos carecas”, como define o último. E já entrou em ação uma nova geração de Benetti: filho do Mauro, Bruno, 29 anos, trabalha no caixa e é o colador oficial de adesivos.
Quem começou o negócio foi o avô dele, Geraldo Leopoldo Benetti, falecido em 2005. Tapando alguns adesivos, logo acima do balcão, há uma foto ampliada do patriarca com semblante orgulhoso em um trator vermelho.
Geraldo trabalhava na roça desde pequeno. Vendeu as terras e tudo o que tinha na localidade de São Jacó, em Mampituba, para abrir o restaurante na beira da BR-101. Deu certo a ponto de conseguir comprar tudo de volta. Além do trator, que era seu sonho de consumo.
— O pai comprou ele para passear, nem botava na lavoura para não sujar — ri Mauro.
Hoje o restaurante tem quatro cozinheiras, mas, quando abriu, era o seu Geraldo quem cozinhava. Mauro diz que foi ele quem criou o corte do bife, mais gordinho e suculento. É uma marca registrada do restaurante e motivo de orgulho para os Benetti.