Saindo de uma cidade da Região Metropolitana, uma viagem à capital pode levar cerca de 20 minutos. Ou quatro horas. Ou oito. Depende de qual capital gaúcha é o destino final da viagem — afinal, engana-se quem pensa que Porto Alegre é a única. O Rio Grande do Sul é território de, pelo menos, 70 cidades que, oficialmente ou não, carregam este título ou pretendem obtê-lo.
Quem ama churrasco, por exemplo, tem três opções de cidades vinculadas ao prato típico dos gaúchos espalhadas pelo Estado. Já os amantes do açúcar podem escolher entre a Capital do Doce ou a do Chocolate Artesanal. Quem prefere as bebidas, por sua vez, pode incluir no roteiro as capitais do Vinho, do Espumante, do Moscatel e, o clássico, a do Chimarrão.
O assunto veio à tona a partir de uma coluna de Fabricio Carpinejar, que repercutiu entre os moradores das capitais gaúchas. O escritor conta que a inspiração para o texto veio a partir de andanças pelo Interior, quando se surpreendia com os pórticos e mensagens estampadas pelas cidades.
— Comecei a ver que no Rio Grande do Sul há uma capital espiritual, muito além da capital física. Ou seja, quando uma cidade diz que é capital de um produto ou de uma cultura, ela está dizendo que sua alma é aquela. São cidades almadas. As respectivas nomeações ilustram o que a cidade tem de melhor. Já ajuda o turista a entender a fama da cidade. É o registro afetuoso da notoriedade do lugar — destaca o colunista.
O Rio Grande do Sul tem, pelo menos, 10 municípios que ganharam o título de capital nacional por lei federal. O reconhecimento também pode ser dado por leis municipais ou estaduais ou simplesmente pela consagração popular da nomenclatura, com base nos costumes, na cultura ou no setor econômico que se destaca em cada município — o que faz este número se multiplicar.
É o caso, por exemplo, de Pelotas. Lembrada pelos doces típicos portugueses, o município, no sul do RS, é conhecido em todo o Brasil como a Capital Nacional do Doce. A tradição da cidade foi, inclusive, registrada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2018. O título de cidade do doce, porém, não está vinculado a nenhuma legislação.
Da mesma forma, Garibaldi e Bento Gonçalves, na Serra, atraem milhares de turistas de todo o Brasil pela cultura e produção das bebidas e são consideradas as capitais brasileiras do Espumante e do Vinho, respectivamente. Mas o que dá esse título a elas é somente o pioneirismo e a tradição com os produtos.
Por outro lado, Passo Fundo se tornou a Capital Nacional da Literatura pela Lei 11.264, de 2006 por ser sede da Jornada Nacional da Literatura desde 1981, e foi a primeira cidade do Brasil a receber o título de capital nacional de algo com amparo na legislação federal. Ijuí, no Noroeste, é mais recente a ser consagrada: é a Capital Nacional das Etnias, de acordo com a Lei nº 14.280, de 2021. E, se depender dos parlamentares, muitas outras também serão batizadas: há 26 cidades gaúchas com propostas em discussão, de acordo com o Senado Federal.
Reconhecimento multiplicado
As consagrações são diversas. Do xis aos dinossauros, as cidades batizadas de "capital", "terra" ou "berço" homenageiam diversos elementos que são relevantes para a economia, a cultura, o turismo, o ambiente ou a história do município. Com essa premissa, alguns reconhecimentos acabam sendo compartilhados ou se assemelham.
É o caso das cidades churrasqueiras. Nova Bréscia, no Vale do Taquari, é conhecida no Estado como a Terra dos Churrasqueiros. Já Lagoa Vermelha, no Norte, é a Capital Nacional do Churrasco, decretada por lei federal. O título, porém, está ganhando proporções globais: em junho deste ano, a prefeitura de Porto Alegre anunciou que quer tornar a cidade a Capital Mundial do Churrasco.
O chimarrão e a erva-mate, outros símbolos da cultura gaúcha, também são disputados nas consagrações. Uma lei estadual de 2009 coloca Venâncio Aires, que sedia a Fenachim, evento que celebra a bebida local, como a Capital Nacional do Chimarrão. Arvorezinha, uma pequena cidade do Vale do Taquari, autodenomina-se a Capital Nacional da Erva-Mate e do Melhor Chimarrão. E não para por aí: o projeto de lei (PL) 1499/2019 quer que Palmeira das Missões seja a Capital Berço da Erva-Mate.
Por outro lado, se alguns títulos são compartilhados, algumas cidades são donas de mais de um reconhecimento. Também é o caso de Lagoa Vermelha, que além de ser a Capital Nacional do Churrasco, pode ser a Capital Nacional da Dança da Chula, conforme o PL 5407/2019. Na mesma posição, São Luiz Gonzaga, nas Missões, é a Capital Estadual do Carreteiro e também Capital Estadual da Música Missioneira, ambas alcunhas amparadas por lei.
Confira, abaixo, algumas das cidades do Rio Grande do Sul que recebem, de forma oficial ou não, o título de capital ou que pretendem obtê-lo:
Comidas e bebidas
- Bento Gonçalves: Capital Brasileira do Vinho (reconhecimento popular)
- Bom Princípio: Capital Estadual do Moranguinho (Lei Estadual nº 15.636, de 28 de maio de 2021)
- Cachoeira do Sul: Capital Estadual do Arroz (Lei Estadual nº 15.329, de 2 de outubro de 2019)
- Canoas: Cidade Referência do Típico Xis Gaúcho (Lei Municipal de Canoas nº 5990, de 7 de janeiro de 2016)
- Carazinho: Capital do galeto com massa (reconhecimento popular)
- Farroupilha: Capital Nacional do Moscatel (Lei Federal de nº 13.795 de 3 de janeiro de 2019)
- Feliz: Capital Estadual da Cerveja Artesanal (Lei Estadual de 14.697, de 25 de maio de 2015)
- Garibaldi: Capital Brasileira do Espumante (reconhecimento popular)
- Gramado: Capital Nacional do Chocolate Artesanal (Lei Federal nº 13.990 de 17 de abril de 2020)
- Guabiju: Capital Estadual do Guabiju (Lei Estadual nº 15.310, de 30 de agosto de 2019) e Capital Nacional do Guabiju (Projeto de lei federal 4672/2019)
- Lagoa Vermelha: Capital Nacional do Churrasco (Lei Federal nº 14.256, de 30 de novembro de 2021)
- Nova Bréscia: Terra dos Churrasqueiros (reconhecimento popular)
- Pelotas: Capital Nacional do Doce (reconhecimento popular)
- Pinheiro Machado: Capital Nacional do Churrasco de Ovelha (reconhecimento popular)
- Pinto Bandeira: Capital Estadual do Pêssego de Mesa (Lei Estadual nº 15.341, de 2 de outubro de 2019)
- Porto Alegre: Capital Mundial do Churrasco (projeto lançado pela prefeitura de Porto Alegre em junho de 2022)
- Rolante: Capital Nacional da Cuca (Projeto de Lei Federal 9530/2018)
- Santa Maria: Capital do Xis (reconhecimento popular)
- Santo Antônio da Patrulha: Terra da cachaça, do sonho e da rapadura (Lei Estadual nº 14.591 de 2014)
- São Luiz Gonzaga: Capital Estadual do Carreteiro (Lei Estadual nº 15.664, de 13 de julho de 2021)
- Turuçu: Capital Nacional da Pimenta Vermelha (reconhecimento popular)
- Venâncio Aires: Capital Nacional do Chimarrão (Lei Estadual nº 13.281, de 10 de novembro de 2009)
- Victor Graeff: Capital Estadual da Cuca com Linguiça (Lei Estadual nº 15.693, de 30 de agosto de 2021)
- Vila Flores: Capital Nacional do Filó Italiano (Projeto de Lei Federal 4830/2016)
Setor Produtivo
- Ametista do Sul: Capital Mundial da Pedra Ametista (reconhecimento popular) e Capital Nacional da Pedra Preciosa de Ametista (Projeto de Lei Federal 5617/2019)
- Bento Gonçalves: Capital Nacional da Indústria Moveleira (Projeto de Lei Federal 6515/2019)
- Candiota: Capital Nacional do Carvão Mineral (reconhecimento popular)
- Canguçu: Capital Nacional da Agricultura Familiar (Projeto de Lei Federal 6408/2016)
- Casca: Capital Gaúcha do Leite (reconhecimento popular)
- Encruzilhada do Sul: Capital Nacional do Azeite de Oliva (Projeto de Lei Federal 2080/2021)
- Ibiraiaras: Terra da Batata (reconhecimento popular)
- Ipê: Capital Nacional da Agricultura Ecológica (Lei Federal nº 12.238 de 19 de maio de 2010)
- Lindolfo Collor: Capital dos Tapetes de Couro (Lei Estadual nº 13.967, de 11 de abril de 2012)
- Montenegro: Capital Estadual e Berço da Bergamota Montenegrina (Lei Estadual nº 15.288, de 25 de junho de 2019)
- Não-me-Toque: Capital Nacional da Agricultura (Lei Federal nº 12.081 de 29 de outubro de 2009)
- Nova Petrópolis: Capital Nacional do Cooperativismo (Lei Federal nº 12.205 de 19 de janeiro de 2010)
- Nova Prata: Capital Nacional do Basalto (reconhecimento popular)
- Novo Hamburgo: Capital Nacional do Calçado (Lei Municipal de Novo Hamburgo Nº 14, de 25 de fevereiro de 1992)
- Palmeira das Missões: Capital Berço da Erva Mate (Projeto de Lei Federal 1499/2019)
- Panambi: Capital Nacional da Pós-Colheita de Grãos (Projeto de Lei Federal 5990/2019)
- Santa Rosa: Berço Nacional da Soja (Projeto de Lei Federal nº 14.349, de 2022)
- Santana do Livramento: Capital Nacional da Ovinocultura (Projeto de Lei Federal 10124/2018) e Capital Nacional da Ovelha (Projeto de Lei Federal 2109/2019)
- São Sebastião do Caí: Capital Nacional da Bergamota do Caí (reconhecimento popular)
- Soledade: Capital Nacional das Pedras Preciosas (Projeto de Lei Federal 5978/2019) Vicente Dutra: Capital Estadual da Cuia (Lei Federal nº 15.777, de 21 de dezembro de 2021)
Cultura e tradição
- Antônio Prado: Capital Nacional da Massa e a Cidade mais Italiana do Brasil (Projeto de Lei Federal 2613/2019)
- Bom Jesus: Capital Nacional do Tropeirismo (Projeto de Lei Federal 98/2015)
- Cachoeira do Sul: Capital Nacional do Laço Feminino (Projeto de Lei Federal 3862/2019)
- Caxias do Sul: Capital Nacional dos Centros de Tradições Gaúchas (Projeto de Lei Federal 5369/2019)
- Ijuí: Capital Nacional das Etnias (Lei Federal nº 14.280, de 28 de dezembro de 2021)
- Lagoa Vermelha: Capital Nacional da Dança da Chula (Projeto de Lei Federal 5407/2019)
- São Borja: Capital Gaúcha do Fandango (Lei Estadual nº 15.093, de 2 de janeiro de 2018)
- São Leopoldo: Berço da Colonização Alemã no Brasil (Lei Federal nº 12.394, de 4 de março de 2011)
- São Luiz Gonzaga: Capital Estadual da Música Missioneira (Lei Estadual nº 14.123, de 30 de outubro de 2012)
- Serafina Corrêa: Capital Nacional do Talian (reconhecimento popular)
Atividades
- Canela: Capital Nacional dos Parques Temáticos (Projeto de Lei Federal 4852/2020)
- Carlos Barbosa: Capital Nacional do Futsal (Lei Federal nº 13.503, de 1º de novembro de 2017)
- Erechim: Capital Nacional do Rally (Projeto de Lei Federal 4273/2020)
- Igrejinha: Capital Nacional do Voluntariado (Projeto de Lei Federal 5897/2019)
- Passo Fundo: Capital Nacional da Literatura (Lei Federal nº 11.264 de 2 de janeiro de 2006)
- Rio Grande: Capital Mais Longeva do Futebol Brasileiro (Projeto de Lei Federal 4585/2021)
- São Paulo das Missões: Capital Nacional do Jogo de Barril (reconhecimento popular)
- Teutônia: Capital Nacional do Canto Coral (Lei Federal nº 13.563 de 21 de dezembro de 2017)
- Torres: Capital Nacional do Balonismo (Projeto de Lei Federal 9073/2017)
- Vacaria: Capital Nacional dos Rodeios Crioulos (Projeto de Lei Federal 3135/20197) e Capital Gaúcha das Gincanas Culturais (Lei Estadual nº 15.159, de 24 de abril de 2018)
- Vera Cruz: Capital Estadual das Gincanas (reconhecimento popular)
Natureza
- Araricá: Cidade das Azaleias (Lei Estadual nº 13.508, de 31 de agosto de 2010)
- Caçapava do Sul: Capital Gaúcha da Geodiversidade (Lei Estadual nº 14.708, de 15 de julho de 2015)
- Dezesseis de Novembro: Capital Brasileira da Alfafa (reconhecimento popular)
- Ivoti: Cidade das Flores (reconhecimento popular)
- Maquiné: Capital Nacional do Verde e Terra das Cascatas (Projeto de Lei Federal 404/2022)
- Mato Leitão: Cidade das Orquídeas (Lei Estadual nº 13.405, de 05 de abril de 2010)
- Pareci Novo: Capital Flores, Mudas e Frutos (reconhecimento popular)
- Picada café: Cidade dos Lírios (Lei municipal de Picada Café nº 13 de 2002)
- Sapiranga: Cidade das Rosas (reconhecimento popular)
Outras capitais
- Agudo: Berço Nacional dos Dinossauros (Projeto de Lei Federal 1313/2021)
- Arvorezinha: Capital Nacional da Erva-Mate e do Melhor Chimarrão (reconhecimento popular)
- Bagé: Capital Nacional da Criação de Cavalos da Raça Puro Sangue Inglês (Projeto de Lei Federal 6.574/2019)
- Cândido Godói: Capital Mundial dos Gêmeos (reconhecimento popular)
- Canoas: Cidade do Avião (Lei Estadual nº 15.658, de 7 de julho de 2021)
- Dom Pedrito: Capital da Paz (reconhecimento popular)
- Erechim: Capital da Amizade (reconhecimento popular)
- Esteio: Capital Nacional da Solidariedade (Projeto de Lei Federal 4488/2019)
- Nova Bréscia: Capital da Mentira (reconhecimento popular)
- Piratini: Primeira Capital Farroupilha (reconhecimento popular)
- Santiago: Terra dos Poetas (Lei Estadual nº 13.150, de 14 de abril de 2009)
- Santo Ângelo: Capital das Missões (reconhecimento popular)
- São Borja: Terra dos presidentes (reconhecimento popular)
- São Gabriel: Terra dos marechais (reconhecimento popular)
- Veranópolis: Terra da Longevidade (reconhecimento popular e, em 2016, a Organização Mundial da Saúde concedeu ao município o certificado internacional de Cidade Amiga do Idoso)
Conhece alguma cidade que é capital de alguma coisa e que não foi citada no texto? Envie a sugestão para isabel.gomes@zerohora.com.br
Produção: Isabel Gomes
