Atividades em meio à natureza, perto da casa do turista, em locais sem aglomerações: esse é o perfil dos destinos que mais ganham espaço desde o início da pandemia no Rio Grande do Sul. O enoturismo e o aluguel de casas em áreas mais sossegadas são exemplos que ajudaram a manter o fôlego do turismo durante a pandemia e continuam entre os passeios mais procurados.
São atividades como essas que atraem visitantes para cidades da Serra e do Vale do Paranhana, por exemplo. E para valorizar ainda mais o potencial turístico gaúcho, o Estado desenvolve estratégias nessa área. Com frentes de trabalho focadas para o perfil do turista e um diagnóstico das atrações locais, o governo quer potencializar o setor, que foi um dos mais prejudicados com as restrições sanitárias dos últimos dois anos. O prejuízo no país foi de R$ 515 bilhões entre março de 2020 e abril deste ano, conforme a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Apesar das dificuldades, o setor vem se recuperando no último ano. O dado mais recente do Ministério do Turismo diz que a atividade econômica do setor teve crescimento de 85,7% no país na comparação com o mesmo mês de 2021. O Rio Grande do Sul teve aumento de 104,5% no mesmo levantamento. De acordo com Amanda Paim, coordenadora dos projetos de Turismo e Economia Criativa do Sebrae RS, o Estado tem registrado, desde o ano passado, fluxo turístico igual e, em alguns casos, superior ao que era visto em 2019.
— A pandemia foi uma tragédia de várias formas, mas tivemos a melhor oportunidade de apresentar o Rio Grande do Sul para os gaúchos. Muitas cidades, roteiros, destinos, antes pouco visitados, começaram a ser valorizados — afirma.
Um dos roteiros preferidos envolve as vinícolas, segundo Amanda. A Serra Gaúcha segue como o destaque nesse contexto, mas não apenas no enoturismo. Gramado tem sido o destino mais reservado por turistas no Brasil em 2022, segundo levantamento do site de viagens 123milhas divulgado neste mês. A cidade também está na lista dos 25 destinos destaque do país deste, conforme o Ministério do Turismo que também inclui Porto Alegre.
Não há dados oficiais sobre o assunto, mas Amanda afirma que as atividades que mais cresceram no período de pandemia são aquelas ligadas à natureza, feitas em ambientes sem aglomerações: trilhas, ecoturismo, cicloturismo, turismo de aventura.
Outra forma de turismo impulsionada no período é a de viagens curtas ou com ida e volta no mesmo dia. Uma família de Porto Alegre que aluga um chalé no Interior para passar o fim de semana, sem a agitação das grandes cidades, é um exemplo disso. São Francisco de Paula, na Serra é um dos destinos que se destacou na preferência dos turistas que buscam viagens curtas, de acordo com a coordenadora dos projetos do Sebrae RS. Assim como Cambará do Sul que, entre os atrativos, conta com o Parque Aparados da Serra:
— Ele está recebendo um grande investimento e teremos uma estrutura de serviços complementares, de pousadas, de gastronomia. É o nosso grande produto para o turismo internacional, que vai atrair muitas pessoas daqui para a frente — diz.
Diagnóstico e comportamento do turista
As limitações de viagens a outros países nos últimos anos fizeram o Estado se adequar à situação e criar opções para o público interno, afirma Raphael Ayub, secretário de Turismo do Rio Grande do Sul:
— O turismo sempre foi visto com supérfluo, como não essencial, para muitos municípios, que não tinham noção sobre o que ele pode representar para a economia. Isso foi notado apenas na pandemia.
O secretário diz que o Estado atua em duas frentes para fortalecer a atividade. Uma delas é o Observatório de Turismo RS, um espaço de coleta e produção de informações, análises e debate da evolução no setor. A outra é empregar os objetivos do Plano de Desenvolvimento do Turismo, lançado em 2012, que prevê 10 eixos estratégicos e cinco desafios para o setor.
— Nosso objetivo é consolidar o setor enquanto política estadual eficiente. Temos que ter uma segmentação para a área, para sensibilizar os gestores e também trabalhar a questão cultural do turismo nas escolas da rede — resume Ayub.
Para isso, desde janeiro, o governo estadual trabalha com o Sebrae RS em um diagnóstico turístico do Rio Grande do Sul. O material funcionará como base para a divulgação dos atrativos das 27 regiões turísticas do Estado. De acordo com Cláudia Mara Borges, diretora de Secretaria Estadual de Turismo (Setur), o levantamento mudará a forma como o poder público trata a questão. Assim também será mais fácil para o turista encontrar e escolher destinos:
— Nossa comunicação será focada na segmentação, porque o público é nichado. Hoje é tudo feito na base do "eu acho isso”, “eu acho aquilo” no turismo. A partir de agora, teremos dados técnicos, científicos, tecnologia para usar comunicação — pontua.
O estudo está em andamento e não tem prazo para ser concluído.
Destino: Porto Alegre
Não foi por acaso que Porto Alegre está entre a lista dos 25 destaques de 2022 do Ministério do Turismo. Vicente Perrone, secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo da Capital, diz que a cidade se beneficiou com o crescimento do turismo doméstico.
— Mesmo de forma tímida, estamos conseguindo valorizar algumas questões, como o Centro Histórico, a Orla do Guaíba, as cervejarias, o turismo rural. Precisamos de um olhar para conseguir que o turista que vem para Serra, Litoral ou Interior fique em Porto Alegre e esteja presente na Capital — diz.
Perrone fala de "pilares" de Porto Alegre que fomentam o turismo na cidade: a área da saúde, por meio dos hospitais referência, ensino e pesquisa, os parques de inovação tecnológica, as startups, o turismo de negócio e a construção civil. Além disso, o secretário destaca o investimento no aeroporto Salgado Filho como um aliado na busca por turistas de fora do país.
— A ampliação da pista e a retomada dos voos para a Europa, para os Estados Unidos, faz com que Porto Alegre volte ao cenário das agências de viagens. Sem um destino direto, não conseguíramos fazer isso. O câmbio também nos favorece e coloca a Capital com relevância no turismo internacional — pontua.
Hub conecta os atores do turismo do Estado
Outra iniciativa que busca o desenvolvimento no Estado é o Transforma RS, um grupo colaborativo que reúne empresas, governo, universidades e sociedade civil. Um dos focos é o turismo. A empresária Gabriela Schwan Poltronieri, CEO Rede Swan Hotéis Brasil e Portugal, está à frente da iniciativa, que já atua para conectar os atores do segmento no Estado.
Gabriela entende como pontos fortes do Estado, neste momento, a Serra, um dos principais destino do país, e Porto Alegre, com ações na área da inovação, como o South Summit, organizado neste ano. Além desses, a empresária cita outros destinos que devem ganhar força nos próximos anos: os cânions em Cambará do Sul, São Francisco de Paula, as regiões de Rio Grande e da Costa Doce, no sul do Estado.
— Precisamos mostrar que o turismo já tem um papel significativo para o Rio Grande do Sul e que pode crescer mais, para colocá-lo como uma matriz econômica do Estado. O setor estava carente, já recebeu muitas promessas e poucos resultados. Então, esse é um momento adequado para avançar nisso — conclui.