Em meio à área urbana de Rio Grande, quase na chegada ao balneário Cassino, um espaço verde de cinco hectares vem ganhando cada vez mais frequentadores dispostos a contribuir na conservação de um arroio e da fauna e flora locais. Criado em 2011, o Parque Urbano do Bolaxa (PUB), além de ser um ponto de lazer para os visitantes, é uma sala de aula a céu aberto para educação ambiental e pesquisa científica.
Antes de se tornar um parque, a área era um campo aberto usado para lazer e para estudos. Inserido na Área de Proteção Ambiental (APA) da Lagoa Verde, uma unidade de conservação municipal de 510 hectares, ganhou este nome por serpentear o arroio Bolaxa, um dos corpos hídricos formadores da APA, somando-se ao Arroio Senandes, ao Canal São Simão e à própria lagoa. Os hectares do parque foram zoneados por uma resolução do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente.
Estudos realizados no local apontam um número de cerca de 180 espécies de aves circulando na região, como o socó-boi, o gavião-caboclo, a garça-branca-grande, a graça-moura, a garça-branca-pequena e o colhereiro. Também é possível encontrar jacarés do papo amarelo, lontras, tartarugas, lagartos e capivaras, que circulam em harmonia pelo terreno e pelo Arroio. Nas duas trilhas disponíveis dentro do PUB, as sombras de dezenas de corticeiras e figueiras centenárias acompanham o caminhante, que também pode deparar-se com cactos e outras árvores nativas e frutíferas.
De acordo com o secretário-adjunto municipal de Meio Ambiente, Werner Spotorno, a Secretaria tem um projeto arquitetônico para ampliar a estrutura do PUB, no qual estão previstas a implementação de um centro de visitação, um museu, um observatório de aves, a sede da APA, estruturas de lazer e banheiros, entre outras, entregando para a comunidade um espaço qualificado para contemplação da natureza. O valor projetado para a obra é de cerca de R$ 2 milhões.
— Estamos buscando formas de viabilizar um financiamento, pois o município hoje não teria condições para executar. O que temos hoje é um projeto arquitetônico que foi feito anos atrás e que, desde que assumimos a secretaria, virou uma obsessão nossa tirá-lo do papel — admite o secretário-adjunto.
Segundo Werner, o PUB ainda sofre com alguns conflitos, como vandalismo e caça irregular, mas ele garante que a presença da gestão e a própria comunidade tomando consciência da riqueza ambiental existente na área estão reduzindo as situações negativas. Para ele, o objetivo é, de fato, sensibilizar as pessoas para a importância de ter uma área preservada dentro da cidade, onde todos possam conviver em harmonia e desfrutar dos recursos naturais. Além disso, com uma estrutura qualificada, poderá se tornar mais um atrativo turístico em Rio Grande, gerando renda e emprego com uma movimentação nova na economia do município.
— Um ambiente como este nos dá esperança de mostrar para o ser humano que o mundo ainda é possível. A partir do momento que trazemos pessoas e mostramos estes encantos numa área que sofre com a pressão urbana, podemos sensibilizá-las para a existência das alternativas possíveis sem prejudicar a natureza — justifica Werner.
Dentro das dependências do PUB funciona da Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Déborah Thomé Sayão, que usa a área como espaço para as próprias aulas.
— No momento da matrícula, os pais assinam uma autorização liberando o filho a frequentar o parque conosco. Já vivenciamos a tartaruga colocando os ovos e os quero-queros nascendo. Isso faz parte das aulas. O que mais muda é a postura das crianças dentro deste ambiente, porque elas moram na região e convivem com os bichos. A diferença é que, antes de estudarem aqui, elas estavam acostumadas a vê-los mortos. Como, por exemplo, os gambás — explica a diretora Roselle Rodrigues.
Homenagem
Desde o ano passado, o Bolaxa integra a campanha Bosques da Memória — plantio de espécies nativas (pitangueira, araçá, butiá, entre outros) feito em homenagem às vítimas da covid-19 e em agradecimento aos profissionais da saúde. A ação é uma proposta conjunta da Rede de ONGs da Mata Atlântica – RMA, da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica – RBMA e do PACTO pela Restauração da Mata Atlântica, desenvolvida de forma participativa e colaborativa. Além de buscar a transformação de um momento de tristeza e devastação em esperança, marca o início da Década da Restauração de Ecossistemas 2021-2030 declarada pela ONU.
Os familiares das vítimas são convidados pela prefeitura a aderirem ao programa e ficam responsáveis pela realização do plantio em data agendada. Cada árvore recebe uma placa com a identificação da espécie, o nome e as datas de nascimento e falecimento da vítima. Atualmente, 170 mudas estão plantadas. A prefeitura abre o berço para plantio e oferece a terra, o adubo, a muda e a identificação. A distribuição das mudas já estabelecidas parece aleatória, mas existe um mapa de plantio com metodologia a ser seguida.
Na época da primeira etapa de plantio das mudas, realizada em agosto do ano passado, o secretário municipal de Meio Ambiente, Pedro Fruet, ressaltou que o ato simbólico representou, além da despedida que os familiares das vítimas da covid-19 não puderam ter devido à pandemia, a vida, pois as famílias semearam a biodiversidade, aumentando a qualidade do parque.
O quê: Parque Urbano do Bolaxa
Onde: RS-734, s/n, no sentido Rio Grande- Cassino
Horário: aberto 24h
Como chegar:
O Parque é integrado à APA da Lagoa Verde e para o melhor aproveitamento da área devem ser observadas algumas condutas:
CUIDE DAS TRILHAS E DOS LOCAIS DE LAZER
Mantenha-se nas trilhas pré-determinadas. Não use atalhos que cortam caminhos. Os atalhos favorecem a erosão e a destruição das raízes e plantas inteiras.
TRAGA SEU LIXO DE VOLTA
Se você pode levar uma embalagem cheia para um ambiente natural, pode trazê-la vazia na volta.Não queime nem enterre o lixo. Traga todo o seu lixo de volta com você.
NÃO FAÇA FOGUEIRAS
Fogueiras matam o solo, enfeiam os locais e representam uma grande causa de incêndios florestais.
RESPEITE OS ANIMAIS E AS PLANTAS
Observe os animais à distância. A proximidade pode ser interpretada como uma ameaça e provocar um ataque, mesmo de pequenos animais.Não retire flores e plantas silvestres. Aprecie sua beleza no local, sem agredir a natureza e dando a mesma oportunidade a outros visitantes.
SEJA CORTÊS COM OUTROS VISITANTES
Utilize as trilhas em silêncio, preservando a tranquilidade e a sensação de harmonia que a natureza favorece. Deixe rádios e instrumentos sonoros em casa.
DEIXE CADA COISA EM SEU LUGAR
Não quebre ou corte galhos de árvores, mesmo que estejam mortas e tombadas, pois podem estar servindo de abrigo para aves ou outros animais.Tire apenas fotografias, deixe apenas leves pegadas, e leve para casa apenas suas memórias.
Fonte: Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema) e Amigos da APA da Lagoa Verde