Comerciante e militar no Brasil, Cristóvão Pereira de Abreu, que dá nome a farol centenário que fica em Mostardas, às margens da Lagoa dos Patos, nasceu na freguesia de Fontão, na cidade portuguesa de Ponte de Lima, em 13 de julho de 1678, sendo filho de João de Abreu Filgueira (que mais tarde passou a assinar João de Abreu Figueiredo) e de Leonor de Amorim Pereira.
Conforme o Arquivo Municipal de Ponte de Lima, ainda jovem, ele atravessou o Atlântico para dedicar-se ao negócio da extração, aquisição e comercialização dos couros bovinos na Colônia do Sacramento, então principal atividade econômica daquela região. Em 1708, casou no Rio de Janeiro com Clara Maria Apolinária de Amorim, descendente de uma ilustre família fluminense, integrando-se às elites políticas e econômicas locais.
Depois da morte da mulher, em 1719, Cristóvão decidiu regressar à Colônia de Sacramento. A partir da década de 20 do século 18, ele passou a transportar e comercializar animais, conduzidos por rotas terrestres. Foi quando começou a fazer uma ligação mais curta entre Sacramento e São Paulo, chamada de Real Caminho de Viamão. Desbravando terras em meio à mata virgem, o português garantiu um fluxo constante e regular do comércio de gado e cavalos, entre a região do Rio Grande do Sul e São Paulo, designado “caminho tropeiro”. O roteiro comercial iniciado por Cristóvão originou a formação de núcleos populacionais, como Santo Antônio da Patrulha, São Francisco de Paula e Nossa Senhora da Oliveira da Vacaria.
De acordo com o pesquisador Fernando Costamilan, escritor e presidente do Instituto Histórico de São José do Norte, o tropeiro veio a demarcar caminhos das terras portuguesas, antes feitos esporadicamente apenas por tropas de Portugal e Espanha. Pelo feito, é considerado o patrono do tropeirismo.
— Há registros que apontam ele como o criador da estrada que ligou o Sul ao Centro do Brasil, com mais de 300 pontilhões. As tropas de gado eram arrebanhadas na região do Prata e conduzidas com até 4 mil cabeças até Sorocaba, em São Paulo, e posteriormente para as Minas Gerais. Foi o primeiro ciclo econômico do litoral — relata Costamilan.
Conforme o pesquisador de São José do Norte, pelos serviços prestados, Cristóvão recebeu terras da Coroa Portuguesa e escolheu, justamente, Mostardas para viver, onde hoje está o farol em homenagem a ele. O português morreu em 1755, na vila de Rio Grande, durante expedição realizada para demarcar os limites do Tratado de Madrid (1750).
Por quase uma década, Costamilan e os pesquisadores Paixão Côrtes e Willy César fizeram uma investigação para descobrir onde o português havia sido enterrado. Só sabiam que ele teria construído uma capela, chamada ermida da Lapa.
— A capela ficava fora da vila do Rio Grande. Hoje, seria nos arredores do Centro. Começamos a confrontar mapas do século 18 com atuais. Com a ajuda de populares, soubemos que durante a construção de um restaurante na região, foram retirados muitos ossos humanos. Chegamos à conclusão de que o cemitério da ermida era naquele ponto — conta Costamilan.
Com as mortes de Willy e de Paixão Côrtes, ambos falecidos em 2018, ele seguiu a pesquisa auxiliado por Vitor Lopes, peão farroupilha da 6ª Região Tradicionalista do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Em 2020, os dois, junto com a prefeitura de Rio Grande, descerraram uma placa no provável local onde está enterrado o português, que passou a ser chamado de Memorial ao Tropeirismo.
— Demarcamos que naquela região foi sepultado o grande tropeiro Cristóvão Pereira de Abreu, o desbravador das terras continentais do Rio Grande — relata, emocionado, Costamilan, também responsável pela produção do texto e da placa metálica.